e nem uma luz na aldeia, um ou outro cachorro à divina, um ou outro mocho entre duas
covas de muro, eu a caminhar ao lado da minha mulher pensando
- De que é que converso agora?
pensando - Pergunto-lhe se tem namorado?
pensando - Se tivesse namorado não me deixava ir com ela
isto anos antes do major de operações - Vá-se foder nosso alferes
eu para a minha mulher - Posso perguntar o seu nome?
e a minha mulher aflitíssima, tropeçando em si mesma embora não tirasse os olhos
do passeio - Respondo não respondo?
a minha mulher baixinho - Depois digo
tão baixinho - Depois digo
como quando a seguir ao casamento me pediu - Não me aleijes
de camisa de dormir branca com rendas e laços que a mãe lhe entregou - Na primeira noite põe isto
e ela desajeitada, nervosa, a tremer de olhos fechados porque a perspectiva da minha
nudez a assustava - Promete que não me aleijas
eu de cuecas e camisola interior, tão assustado quanto ela - Prometo
a puxar o lençol até ao queixo, a puxar-lhe o lençol até ao queixo, pegando-lhe de
leve na mão mais molhada do que a minha que sequei na colcha e sentia-te a pressa do
sangue sabias, apesar da luz apagada vi o teu peito para cima e para baixo, tão rápido
como o coração dos pardais e o buraquinho do umbigo, com o meu indicador lá dentro,
a diminuir e a aumentar, um dos teus pés roçou no meu e escapou-se, eu perdido de
ansiedade, tão parvo - Quanto é que calças?
sem ouvir - Trinta e sete e meio trinta e oito
e o dedo grande longíssimo, os outros dedos longíssimo, tu longíssimo com vontade
de te vestires, me dizeres adeus, escapares-te e eu beijando-te de leve o cabelo, a testa,
a encontrar uma orelha viva, não numa garrafa de álcool, que protestou de imediato - Faz-me cócegas
mas não se foi embora, abriu-se em concha sob a minha língua, a rodeou, a prendeu
e de quem é este braço à volta dos meus ombros, de quem é este outro braço nas
minhas costas, de quem são estes lábios no meu pescoço, no meu queixo, na minha
boca, quem soletra o meu nome a centímetros de mim, quase dentro de mim, dentro