A garota do lago

(Carla ScalaEjcveS) #1

trabalho ou os frequentadores. Há muitos clientes que passei a conhecer bem e
com quem adoro conversar. É assim que descobrimos que estamos fazendo o que
estávamos destinados a fazer: quando nunca nos entediamos e não queremos
fazer nenhuma outra coisa.
— Já pensou em abrir seu próprio café?
— Ah, sim! O tempo todo. Eu já disse para Livvy Houston que pretendia me
tornar sua concorrente. Mas o certo é o seguinte: Livvy não quer este lugar. Ela
decidiu mudar para algo novo. Assim, Millie, a mãe de Livvy, ofereceu o café
para mim. Este ano é meu período de teste, para ver se consigo cuidar do
estabelecimento sozinha e garantir que tenho certeza do que quero.
— E?
— Por enquanto, tudo bem. Livvy quase não passa por aqui, e Millie é muito
velha para fazer muita coisa no café. Desse modo, sinto que o lugar já é meu. —
Rae terminou de preparar os bolinhos de aveia e os pôs de lado para esfriar.
Colocou um segundo lote no forno e ajeitou os bagels num fatiador automático.
— E você? Gosta do que faz?
Kelsey pensou por um minuto.
— Sim, gosto. Não consigo me imaginar fazendo outra coisa.
— Você não se apieda daqueles que odeiam seus trabalhos? Quer dizer,
acordar todo dia e fazer algo que você não gosta não é um bom jeito de viver.
Acho que é resultado de uma criação inadequada dada pelos pais. Quando você é
criança, não sabe o que quer. Nenhum menino de dez anos sonha em ser um
contador. Nenhuma garotinha quer crescer e ser uma promotora de vendas.
Certo? Mas se ninguém lhe diz para sonhar quando você é criança, então você
simplesmente atravessa a vida e aquilo que todos fazem, às vezes as coisas que
seus pais fazem. — Rae pegou a xícara e tomou um gole. — Não sei, fico muito
filosófica de manhã. Mas você sabe do que estou falando? Faça o que gosta de
fazer. E se você acabar não gostando, faça outra coisa.
Kelsey sorriu ante o entusiasmo da garota.
— Sei exatamente do que está falando, Rae, e é um bom conselho. Vejo que
você está muito feliz com sua vida. Talvez um pouco pilhada por causa da
cafeína às cinco da manhã, mas não há nada de errado com isso.
Rae achou graça.
— Acho que você e eu vamos nos entender. Então, por que não consegue
dormir?
Kelsey fitou o teto.
— Por que não consigo dormir? — ela disse para si mesma, refletindo sobre a
pergunta. — Você tem algumas horas?
Assentindo com um gesto de cabeça, Rae afirmou:

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