cidade e a correr pela mata que levava à cachoeira. O horror daquela manhã
ainda a acossava, mas cada quilômetro percorrido a levava um pouco mais para
longe dele.
Mais do que tudo, segundo os especialistas, Kelsey experimentaria uma
sensação de perda — semelhante à que se tem com a morte de alguém querido
—, e isso era fundamental para o renascimento que ela precisaria experimentar
para se curar completamente. Talvez essa fosse a sensação que a oprimira na
palafita, na outra manhã.
O que Kelsey concluiu lendo os livros de autoajuda foi que cada um se cura à
sua própria maneira e em seu próprio ritmo. Alguns refletem mais do que os
outros a respeito das coisas que enfrentam na vida, e avaliam esses
acontecimentos de maneira distinta. Por fim, Kelsey decidiu que selecionaria os
acontecimentos que moldaram sua vida e definiram sua personalidade. Aquele
dia único e terrível não seria um deles. Simples assim.
Kelsey não conseguiu jogar fora os livros. Assim, atirou-os numa caixa de
retorno da biblioteca local e voltou para o trabalho no dia seguinte. Uma semana
depois, estava em Summit Lake, no rastro de Becca Eckersley, que passara pela
mesma coisa que ela, mas não fora tão afortunada a ponto de acordar numa cama
de hospital no dia seguinte. Sempre confiante no destino, e uma estudiosa da
persistente voz interior que a orientava e a ajudava a encontrar seu caminho,
Kelsey sabia estar em Summit Lake por um motivo maior do que ela mesma. Por
algo mais do que um artigo para o qual fora enviada para escrever.
A noite caiu, e às oito horas o céu estava repleto de estrelas. Kelsey puxou a
gola da jaqueta para se proteger da brisa do lago, na frente do Winchester Hotel,
e observou a chegada de um utilitário esportivo preto. A janela do lado do
passageiro baixou — era Peter Ambrose atrás do volante.
Kelsey se aproximou do carro e apoiou os cotovelos na moldura da janela.
— Você tem certeza disso? — ela perguntou.
— É a sua história. Então, é você quem tem que ter certeza. Mas sou um
participante disposto.
— Não vai se meter em apuros?
— Se formos pegos, nós dois vamos nos meter em apuros.
Kelsey deu uma olhada na Maple Street. Em seguida, abriu a porta e
embarcou. Alguns minutos depois, estavam numa estrada sinuosa fora de
Summit Lake.
— Me diga de novo como você conseguiu essa informação — Kelsey pediu.
— Liguei para um amigo patologista, que trabalha para o condado. Ele sabia
do caso Eckersley. Não os detalhes, apenas que tudo é muito confidencial. Eles,
os outros patologistas e técnicos, receberam ordens de ficar fora do caminho
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1