Quando desligou o motor, sua expressão era impassível. Por alguns minutos,
permaneceu sentado no interior do veículo. Enfim, apanhou a bolsa de Becca no
assento do passageiro, saiu da caminhonete e aproveitou as luzes dos faróis para
chegar à cabana. Deixou a porta aberta, e as luzes penetraram o ambiente. Em
seguida, Brad se sentou no sofá.
Ele segurou a bolsa junto ao peito, agarrando-a como um ursinho de pelúcia.
Piscou no momento exato em que as lágrimas rolaram pelo rosto. Diante dele,
sobre a mesinha de centro, achavam-se os itens que ele ali pusera antes de
decidir ir até a cidade para vê-la. Fotos de Becca da faculdade, em que ela usava
bermuda jeans e camiseta da Universidade George Washington. Uma outra dos
dois num jogo do Baltimore Orioles, quando estavam no primeiro ano. Os
bilhetes que ela costumava deixar em sua mesa de cabeceira quando passava a
noite com ele e saía antes de Brad acordar. Eram dezenas deles.
B., vejo você hoje à noite no 19th. Você é muito fofo quando ronca. B.
O exame de direito comercial roubado também estava ali. Sob vários aspectos,
aquele exame foi o que fez sua vida entrar numa espiral negativa. Brad tinha de
saber a verdade. Se Becca realmente precisou que ele roubasse a prova para ela
ou se foi tudo uma brincadeira. Ele fora à palafita essa noite para fazer essa
única e simples pergunta. Nada mais. Queria apenas a verdade.
Finalmente, Brad soltou a bolsa de Becca, abrindo o zíper e olhando dentro.
Era dela, aquela bolsa e seus pertences. Era de Becca. Um pedaço dela.
Transmitia o cheiro e a existência dela.
Brad revirou o conteúdo e achou o protetor labial no fundo. Depois de retirar a
tampa, fechou os olhos e cheirou. Ainda conseguiu evocar em sua mente o gosto
desse protetor na noite em que ele e Becca se beijaram. Retirou o crachá da
faculdade de direito. Olhando para a imagem de Becca, quis fazer àquela garota,
que amou, mil outras perguntas. Quis retroceder no tempo e visitá-la de novo,
conseguindo um final diferente.
Então, recolocou o protetor labial e o crachá na bolsa e a deixou cair na
mesinha ao lado do sofá. Abrindo o envelope que pegara na palafita, Brad
desdobrou a folha de papel e imediatamente reconheceu a letra de Becca. A carta
era para sua filha por nascer. Brad voltou a sentir dificuldade para respirar. Seus
olhos lacrimejaram quando ele leu a carta. As luzes dos faróis continuavam a
atravessar a porta aberta da cabana. No sofá, Brad se movia. Para a frente e para
trás. Para a frente e para trás.