fascinação mórbida de alguém que contempla um carro destroçado, Kelsey
caminhou até a porta do porão, abriu-a totalmente e se maravilhou com o
santuário que encontrou ali.
Presas na parte posterior da porta e na parede que acompanhava a escada para
o porão, havia centenas de fotos de Becca, cada uma pregada zelosamente com
uma única tachinha. A maioria parecia ser da faculdade, com o câmpus ou a
parafernália do dormitório de estudantes ao fundo. Algumas eram fotografias
dos anuários. Outras estavam cortadas e coladas, ampliadas para isolar o rosto de
Becca. Algumas eram retângulos contendo apenas os olhos dela, fitando o nada.
Até então. Kelsey sentiu o olhar de novo. E aceitou-o.
Os bilhetes também estavam ali. Eram curtos, começavam com um único "B."
e terminavam da mesma maneira. Um grande número deles, pregados na parede,
junto à escada que levava ao porão.
Os degraus rangiam à medida que Kelsey pisava neles, um de cada vez,
analisando as fotografias e os bilhetes. Na metade da escada, a luz mortiça que
atravessava as janelas da cabana sumiu. Foi quando Kelsey usou a lanterna do
celular para iluminar a parede. As fotografias reveladas em papel brilhante
refletiam a luz da lanterna, dando-lhes um caráter hipnótico. Ao pé da escada,
Kelsey topou com retratos ainda mais perturbadores. Não de uma jovem
estudante posando e sorrindo para a câmera, mas de uma garota que não sabia
estar sendo fotografada. Nessas fotografias, tiradas ao estilo dos paparazzi ,
Becca caminhava pelo câmpus, retirando coisas do carro, saindo de um
consultório médico... Em diversas delas, a imagem de Becca aparecia tremida,
enquanto ela corria com fones de ouvidos e os cabelos em rabo de cavalo.
Kelsey se deteve naquelas fotos, naquelas de Becca correndo. Passou o dedo
sobre uma das imagens, bloqueando aqueles pensamentos que tentaram subjugá-
la.
— Meu Deus... — Rae murmurou, olhando para a parede, alguns degraus
acima de Kelsey. Ela se deteve em algumas fotos contendo closes de Becca
dormindo, com os olhos fechados e os cabelos emaranhados. E em outras, que
eram imagens de corpo inteiro de Becca na cama, usando short e camiseta
regata. — Vamos cair fora daqui.
Mas Kelsey nada disse. De seus muitos anos de experiência, ela se dava conta
da obra de um homem perturbado. Mais do que isso: estava fascinada por ela.
Kelsey apontou o celular para a parede e tirou algumas fotos. Das fotografias
e dos bilhetes. Da bolsa que ainda carregava e do crachá. Da escada da cabana e
do jeito como um assassino demente vivia. Kelsey viu a vida privilegiada de
Brad Reynolds deteriorando-se diante dela, e, em sua mente, escreveu a história.
— Veja — Kelsey disse em voz alta, mas claramente falando consigo mesma.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1