A garota do lago

(Carla ScalaEjcveS) #1

modo aqui, sobretudo os nativos. Eles se protegem muito. Assim, tome cuidado
com sua abordagem.
— Obrigada pelo ótimo conselho, Rae.
— Trabalho no café no centro da cidade. Apareça lá um dia desses.
— Vou aparecer — Kelsey disse, sorrindo.
Você corre?
— Estou voltando à prática.
— É mesmo? Eu também. Mas não durante as manhãs. Estou sempre no café.
Você está voltando para a cidade?
— Sim.
— Importa-se se eu acompanhá-la?
— Claro que não.
Elas correram sob a proteção do bosque. Em silêncio, Kelsey se manteve perto
da garota, esforçando-se para manter o ritmo e feliz pela companhia. Seus
pulmões doíam e suas pernas ardiam: uma boa dor e uma boa ardência. Ela se
recuperava, emergindo de um estado de desagregação em que muitas outras
pessoas ficaram presas, mas do qual Kelsey Castle se determinara a escapar.
Uma hora depois, de banho tomado e vestida de maneira apropriada, Kelsey
dirigiu-se ao departamento de polícia de Summit Lake. Situado perto do quartel
do corpo de bombeiros, na Minnehaha Avenue, a uma quadra a oeste do centro
da cidade, o prédio de tijolos vermelhos parecia velho e desgastado. Faltava
reboco entre muitos tijolos, e os degraus de concreto estavam lascados nas
beiras. Em toda a fachada, resíduos de ferrugem escapavam das barras de reforço
e tingiam os tijolos como ferimentos sangrentos. Os otimistas diriam que o
edifício tinha personalidade; os realistas afirmariam que precisava de uma
reforma completa. Ele não seria apropriado na Maple Street, perto de lojas e
galerias impecavelmente cuidadas; mas numa rua lateral, era discreto e invisível.
Kelsey subiu três degraus e abriu a porta. Dentro, um homem agradável, com
um crachá, perguntou-lhe como poderia ajudá-la.
—Estou aqui para conversar com o delegado Ferguson. Meu nome é Kelsey
Castle. Trabalho para a revista Events, e estou escrevendo um artigo sobre o caso
Eckersley.
— Já recebi alguns outros jornalistas.
Um sinal nada bom.
— O caso está atraindo alguma atenção, eu sei.
— Espere só um minuto, senhorita. Vou ver se o delegado está.
Kelsey deu uma volta pela área de recepção do pequeno prédio e leu as
manchetes dos artigos emoldurados pendurados na parede. Aquela era mesmo
uma cidadezinha, Kelsey pensou. As manchetes falavam da inauguração de

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