Há 16 anos, no dia 17 de março
de 2004, Chevrolet Tracker e
Ford EcoSport se enfrentaram
em um comparativo nas pági-
nas do Jornal do Carro. Foi basi-
camente um confronto de car-
ros muito diferentes.
O texto começava evidencian-
do exatamente as discrepân-
cias entre o Chevrolet feito na
Argentina e o modelo produzi-
do em Camaçari, na então nova
fábrica da Ford na Bahia.
O estilo era muito diferente.
Assim com os motores e o siste-
ma de tração.
A Ford acabara de lançar a ver-
são 4x4 do EcoSport, que che-
gou com uma chamativa pintu-
ra amarela e tabela a partir de
R$ 63.590. Era uma vantagem e
tanto diante dos R$ 89.119 suge-
ridos para o Tracker.
Parte dessa diferença podia
ser explicada pela presença do
motor 2.0 a diesel no modelo da
Chevrolet. Com turbo e inter-
cooler, o quatro-cilindros gera-
va potência de 108 cv e torque
de 25,5 mkgf. O EcoSport tam-
bém tinha motor 2.0, mas movi-
do a gasolina. Oferecia mais po-
tência (143 cv), mas menos tor-
que (19,1 mkgf).
O texto assinado pelo repór-
ter Igor Thomaz mostrou que,
na hora de enfrentar a terra, o
Tracker estava mais bem prepa-
rado. Além do torque superior
em uma faixa de rotação bem
menor, o SUV dispunha de siste-
ma de tração mais completo.
No modo 4x2, o motor man-
dava força para as rodas de trás.
A opção 4x4 era selecionada por
meio de uma alavanca. Havia
também reduzida. “É aí que o
GM supera seu rival, pois tem
condições de enfrentar desa-
fios mais radicais. Com esse sis-
tema de tração, é muito mais di-
fícil atolar o jipe”, destacava o
texto da reportagem.
O sistema do EcoSport era
bem diferente. Em situações,
normais, mandava 95% da tra-
ção para as rodas dianteiras. Ca-
so faltasse aderência, o disposi-
tivo enviava até 30% para trás
automaticamente. Havia tam-
bém a possibilidade de acionar
a tecla 4WD no painel. Nesse ca-
so, a tração ficava travada em
50% para cada eixo.
A constatação era que, em tri-
lhas leves, o EcoSport não teria
dificuldades. “Mas não se iluda:
o limite do EcoSport 4WD para
o fora de estrada está abaixo do
de seu rival”, informava o texto.
No asfalto, as coisas se inver-
tiam. O Ford tinha mais fôlego
para ganhar velocidade. Outra
vantagem do modelo nacional
estava no rodar mais silencioso
e com menos vibrações propor-
cionado pelo motor a gasolina.
O texto, no entanto, fazia a res-
salva de que o Tracker não foi
considerado muito barulhento
“para um jipe a diesel”.
Os engates de marcha foram
considerados melhores no
Ford. Em termos de aceleração,
os números de fábrica informa-
vam que o EcoSport precisava
de 10,7 segundos para chegar a
100 km/h. A máxima era limita-
da a 180 km/h. Já a Chevrolet
informava aceleração da imobi-
lidade a 100 km/h em 13 segun-
dos e máxima de 163 km/h.
O troco apareceu no consu-
mo. O Tracker fez média urba-
na de 10,2 km/l de diesel (com-
bustível mais barato que a gaso-
lina), enquanto o Ford não foi
além dos 7,8 km/l. Graças ao tan-
que maior do Chevrolet (66 li-
tros, ante 50 do rival), a conclu-
são era a de que a autonomia do
Tracker era bem superior.
Dadas as diferenças, o compa-
rativo não apontou um vence-
dor, mas destacou que os dois
vinham bem equipados, “com
freios ABS, bolsas infláveis, ar-
condicionado, direção com as-
sistência hidráulica, ajuste de al-
tura para volante e banco do mo-
torista, acionamento elétrico
para o vidro de todas as portas e
outros itens de conforto co-
muns a veículos requintados”.
Hairton Ponciano
A história do Tracker no Brasil é
marcada por idas e vindas, lan-
çamentos e interrupções. É pos-
sível que nem todo mundo se
lembre, mas no passado o utili-
tário-esportivo da Chevrolet
foi o que pode ser considerado
um SUV “raiz”, com motor tur-
bodiesel e tração nas quatro ro-
das. Mas, para conhecer a bio-
grafia do carro, é preciso voltar
ao começo dos anos 2000.
Em 2001, portanto há 19
anos, a Chevrolet passou a ven-
der no Brasil o Tracker de pri-
meira geração. O modelo nada
mais era que o Suzuki Grand Vi-
tara, que naquela época já era
comercializado no Brasil, com
o emblema da marca da GM.
O carro era produzido na
fábrica da GM em Rosário, na
Argentina. Na época, a empresa
norte-americana detinha 20%
das ações da Suzuki, enquanto a
japonesa era dona de 0,7% do
capital de sua sócia.
Outra curiosidade é que o
Tracker tinha motor 2.0 turbo-
diesel feito no Japão, mas pela
Mazda. O quatro-cilindros gera-
va 87 cv de potência e funciona-
va em conjunto com um câm-
bio manual de cinco marchas.
Segundo informações da Che-
vrolet, o modelo demorava lon-
gos 21,7 segundos para acelerar
de 0 a 100 km/h. Outra limita-
ção era o porta-malas, com capa-
cidade de apenas 275 litros. Pa-
ra comparação, o bagageiro de
um Volkswagen Up! tem 285 l.
Mas na terra o jipinho mostra-
va suas reais aptidões. Além da
tração 4x4 com reduzida, os
bons ângulos de entrada (34°) e
saída (31°) garantiam boa capa-
cidade para o off-road.
No novo Tracker, o ângulo de
entra é de apenas 17° e o de saí-
da, de 28°. Quanto maior o nú-
mero, menor a possibilidade de
a frente e a traseira do carro ras-
parem, seja em uma valeta, lom-
bada ou mesmo em obstáculos
no fora de estrada.
Em 2002, tanto Tracker co-
mo Grand Vitara tiveram o mo-
tor Mazda substituído por um
novo turbodiesel de origem
Peugeot, com 108 cv. Com o
acréscimo de 21 cv, o desempe-
nho melhorou bastante.
Graças à mudança, a acelera-
ção de 0 a 100 km/h baixou para
13 segundos. E a velocidade
máxima subiu de pouco mais de
140 km/h para 163 km/h. Os da-
dos são da Chevrolet.
No fim de 2004, o baixo volu-
me de vendas fez a marca inter-
romper a importação do mode-
lo. Dois anos depois, as vendas
no Brasil foram retomadas.
Na virada de 2006 para 2007,
a Chevrolet voltou a importar o
Tracker 4x4 da Argentina. O mo-
delo passou a vir com motor 2.0
a gasolina de 128 cv. O objetivo
era enfrentar o Ford EcoSport
4WD e o Mitsubishi TR4.
Se por um lado a potência au-
mentou 20 cv em relação à do
2.0 turbodiesel, o torque bai-
xou de 25,5 para 17,7 mkgf. Com
isso, o SUV começava a perder
suas qualidades de off-road em
detrimento do melhor desem-
penho urbano e rodoviário.
A aceleração de 0 a 100 km/h
era feita em 11,9 segundos e velo-
cidade máxima subiu 5 km/h, pa-
ra 168 km/h, de acordo com in-
formações da fabricante. Esse
Tracker permaneceu no merca-
do até 2009, quando deixou de
ser importado.
Segunda geração. Em 2013, o
modelo regressou mais uma
vez ao mercado brasileiro, em
sua segunda geração. O jipe dei-
xou de vir da Argentina e pas-
sou a ser importado do México.
O então novo Tracker era
equipado com motor 1.8 flexí-
vel de até 144 cv – o mesmo da
linha Cruze (hatch e sedã) e
câmbio automático de seis mar-
chas. O visual do carro deu um
belo salto evolutivo.
Mas o preço alto era um pro-
blema. Importado apenas nas
versões mais caras (Freeride e
depois LTZ), o Tracker não con-
seguiu brigar com o EcoSport,
seu maior concorrente (confira
no comparativo abaixo).
Em 2017, juntamente com
uma reestilização de “meia vi-
da”, o SUV ganhou motor 1.4
turbo flexível de até 153 cv e câm-
bio automático de seis marchas
- o mesmo conjunto do Cruze.
Agora é a vez da terceira gera-
ção, cujo foco é completamente
no uso urbano.
HISTÓRIA DO TRACKER
É MARCADA POR IDAS E VINDAS
l Evolução
4x4 bruto.
Chevrolet
vinha com
alavanca
de engate
para tração
integral
Diferentes. O EcoSport havia acabado de ganhar tração 4x4, mas não amarelou diante do oponente com motor a diesel
FOTOS: SERGIO CASTRO/ESTADÃO
Em um comparativo feito
em 2004, o Tracker
levou a melhor na terra,
mas perdeu no asfalto
para o oponente da Ford
HÁ 16 ANOS, ELE
BRIGOU ‘FEIO’
COM O ECOSPORT
Linhas.
Ford tinha
estilo mais
moderno
e 4x4 com
ativação
automática
Em quase 19 anos de existência no Brasil, modelo teve as vendas interrompidas mais de uma vez, veio da Argentina e depois do México
CLEBER BONATO/ESTADÃO
Mexicano. Segunda geração veio a partir de 2013
JF DIORIO/ESTADÃO
Mais forte. Em 2017, chegou o motor 1.4 turbo
87 cv
Era a potência do motor 2.0
turbodiesel do Tracker que
chegou ao País em 2001. No
ano seguinte, passou a 108 cv
144 cv
Era a potência do motor 1.8
flexível da segunda geração,
o mesmo que equipava a
linha Cruze e estreou em 2013
VALERIA GONÇALVEZ/ESTADÃO
Gêmeos. Grand Vitara (E) e Tracker eram ‘irmãos’
HELVIO ROMERO/ESTADÃO
Bom na
terra.
Primeira
geração não
tinha muita
potência,
mas tração
era 4x4
I2DI São Paulo, 1 de abril 2020|O ESTADO DE S. PAULO|