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A4 QUARTA-FEIRA, 1 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
COLUNA DO
ESTADÃO
Política
»SINAIS
PARTICULA-
RES.
Carlos
Sampaio,
deputado
federal
(PSDB-SP)
»Crime. No Pará, três in-
quéritos para apurar fake
news de cunho político fo-
ram abertos pela Polícia Ci-
vil após o início da pande-
mia do coronavírus.
»De olho. Em São Paulo,
foi aberto uma espécie de
gabinete de crise para com-
bater as fake news depois
das ameaças contra o gover-
nador João Doria (PSDB).
»Robô? O tucano fez uma
nova queixa-crime à Polícia
Civil contra um perfil intitu-
lado “robô conservador”
por crimes de injúria e infra-
ção de medida sanitária.
Nas redes sociais, ele teria
chamado Doria de “vaga-
bundo” e convocado um
grupo para protestar em
frente à casa do tucano.
»‘Delírio’. “Nesta crise ter-
rível, infelizmente, essa qua-
drilha, esse gabinete do
ódio, que atua espalhando
fake news, resolveu intensa-
mente se voltar contra os
governadores. Só servem
para atrapalhar, com seus
crimes e delírios”, disse à
Coluna Flávio Dino (MA).
»Na mira. O governador
Camilo Santana (PT-CE)
também é um dos alvos pre-
ferenciais. Eduardo Leite
(PSDB-RS), considerado
menos “combativo”, sofre
menos com os ataques.
»Calma. Para o DEM, a
saída de Henrique Mandet-
ta do comando do comitê
da PEC do Orçamento de
Guerra, antecipada pela Co-
luna , foi vista como uma
forma de evitar mais um
embate entre o ministro e
o presidente. Bolsonaro se-
rá o novo chefe do grupo.
»On the road. O líder do
PSDB na Câmara, Carlos
Sampaio (SP), tem encara-
do mais de dez horas de es-
trada nas idas e vindas en-
tre Campinas e Brasília:
quer evitar os aeroportos.
»Sinuca... Aliado de Bolso-
naro, Paulo Skaf encami-
nhou áudio a filiados ao
Centro das Indústrias de
SP recomendando cautela e
boca fechada. Em linhas ge-
rais, disse que os empresá-
rios podem ser chamados
de “tubarões do lucro” se
apoiarem as restrições ao
isolamento recomendado
pelas autoridades de saúde.
»...de bico. Na outra pon-
ta, se o Ciesp não defender
a retomada dos trabalhos,
como quer o presidente, os
empresários estarão contra
a recuperação da economia.
“Evitem a imprensa”, reco-
mendou Paulo Skaf.
»Água. Em apresentação
ao mercado financeiro, Be-
nedito Braga afirmou que a
empresa tem segurança pa-
ra cumprir papel fundamen-
tal no combate ao coronaví-
rus: fornecer água potável
para consumo e higiene.
»Água 2. O volume dos
reservatórios hoje é de
77%, ante 52% em 2013, an-
tes da crise hídrica. A capa-
cidade de produzir água
também é 12% maior. O
CEO da Sabesp destacou
que não há riscos a progra-
mas como o de despoluição
do Pinheiros, mesmo com a
isenção da tarifa social para
dois milhões de cidadãos.
COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA.
Onda de fake news
ataca governadores
ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
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POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/
KLEBER SALES/ESTADÃO
Dirigentes receberam
R$ 144 mi de partidos
políticos. Pág. A
Recursos públicos
BRASÍLIA
O presidente Jair Bolsonaro
fez ontem novo pronuncia-
mento em cadeia nacional de
rádio e TV e disse que o efeito
colateral do coronavírus não
pode ser pior do que a própria
doença. O discurso do presi-
dente foi acompanhado por pa-
nelaços em todo o País. Uma se-
mana após ter tratado a pande-
mia como uma “gripezinha”,
Bolsonaro distorceu uma de-
claração do diretor-geral da
Organização Mundial de Saú-
de (OMS), Tedros Adhanom
Ghebreyesus, para questionar
a quarentena e dizer que está
certo na condução da crise.
Sob pressão dos ministros
mais próximos, Bolsonaro bai-
xou o tom e pôs a preocupação
com a “vida” no mesmo pata-
mar que o “emprego”. Pediu,
ainda, união do Parlamento, Ju-
diciário, governadores e prefei-
tos para enfrentar a pandemia.
“Temos uma missão: salvar vi-
das sem deixar para trás os em-
pregos. Por um lado, temos que
ter cautela com todos, principal-
mente os mais velhos. Por ou-
tro, temos que combater o de-
semprego que cresce rapida-
mente. Vamos cumprir esta mis-
são ao mesmo tempo em que cui-
damos da saúde das pessoas”,
afirmou. “Infelizmente, tere-
mos perdas neste caminho.”
O pronunciamento foi consi-
derado um alívio para integran-
tes do governo e aliados. Eles
temiam que o chefe do Executi-
vo ficasse cada vez mais isolado
ao confrontar publicamente
medidas do ministro da Saúde,
Luiz Henrique Mandetta. Nos
últimos dias, ministros atua-
ram para convencer o presiden-
te de que era preciso baixar o
tom e passar uma imagem de
“serenidade” e “união” para a
população. Um dos argumen-
tos é que as proporções da co-
vid-19 ainda são incalculáveis,
assim como prejuízos políticos.
Ao longo do dia, Bolsonaro já
havia recorrido a declarações
do diretor da OMS. Ao defender
o retorno ao trabalho, argumen-
tou que Tedros também tinha
tomado essa direção, mas aca-
bou desmentido horas depois.
Acuado, Bolsonaro procurou
afastar comentários de que está
em confronto com o ministro
da Justiça, Sérgio Moro, a quem
já chamou de “egoísta” por não
defender o governo. À tarde,
após reunião ministerial, e esca-
lou Moro e o ministro da Econo-
mia, Paulo Guedes – que anda-
va sumido – para uma coletiva
no Palácio do Planalto.
Os dois apareceram ao lado
do chefe da Casa Civil, Braga
Netto, e de Mandetta. Durante
a entrevista, Braga Netto pas-
sou várias vezes uma “cola” pa-
ra os ministros. Nos bilhetes,
havia informações sobre o que
deveria ser dito. De acordo com
relatos feitos ao Estado , o presi-
dente aceitou as sugestões de
auxiliares em pontos que gera-
ram desentendimento no pró-
prio governo, como o isolamen-
to vertical. Bolsonaro, por fim,
se convenceu que deveria fazer
a mudança no seu discurso.
Apesar da estratégia construí-
da pelo Planalto para unificar o
discurso, Mandetta desmentiu
Bolsonaro e negou que a OMS
tenha defendido o retorno ime-
diato das pessoas ao trabalho.
“Nós vamos trabalhar com o
máximo de planejamento. E, no
momento, nós vamos fazer,
sim, o máximo de distanciamen-
to social para que a gente possa
chegar ao momento de falar ‘es-
tamos mais preparados e enten-
demos aonde vamos’”, disse
Mandetta. “Precisamos lançar
camadas de proteção, especial-
mente para os mais frágeis”, en-
dossou Guedes. O Congresso
aprovou o pagamento de R$
600 mensais para que trabalha-
dores informais fiquem em ca-
sa no período de pico da doen-
ça. Bolsonaro avalia que, se as
atividades não forem retoma-
das logo e a economia não rea-
gir, seu governo terá acabado.
Pela manhã, o presidente dis-
se que o diretor-geral da OMS
tinha dito que os empregados
informais “têm que trabalhar”
na crise. Ao contrário do que ele
sugeriu, no entanto, Tedros
não fez relação entre trabalho e
medidas de isolamento. O presi-
dente também omitiu trecho
do discurso em que o diretor da
OMS destacou a necessidade
de governos de todo o mundo
garantirem assistência aos
mais vulneráveis.
Tedros. “Vocês viram o presi-
dente da OMS ontem?”, pergun-
tou Bolsonaro a jornalistas.
“Em especial, com os infor-
mais, têm que trabalhar. O dis-
curso de Tedros ao qual Bolso-
naro se referiu destacava que ca-
da país é diferente e pregava pro-
teção econômica aos mais ne-
cessitados. Ele voltaria a citar
Tedros no pronunciamento.
Diante da polêmica, Tedros
postou mensagem nas redes di-
zendo que em nenhum momen-
to se posicionou contra o isola-
mento. “Pessoas sem fonte de
renda regular merecem políti-
cas sociais que garantam a digni-
dade e permitam que elas cum-
pram as medidas de saúde públi-
ca para a covid-19 recomenda-
das pela OMS”, escreveu. /
JUSSARA SOARES, TÂNIA MONTEIRO,
JULIA LINDNER, MARLLA SABINO,
ANDRÉ BORGES, IDIANA TOMAZELLI e
PAULO BERALDO
BRASÍLIA
Jornalistas que fazem a cobertu-
ra diária do Palácio da Alvorada
se retiraram de entrevista con-
cedida pelo presidente Jair Bol-
sonaro ontem de manhã, após
ele mandar repórteres ficarem
quietos e estimular apoiadores
a hostilizarem profissionais de
imprensa que estavam no local.
O presidente havia sido ques-
tionado sobre declarações do
ministro da Saúde, Luiz Henri-
que Mandetta, que tem defendi-
do o isolamento social para evi-
tar a propagação do coronaví-
rus, o oposto do que prega Bol-
sonaro. “Não sei o que ele falou.
Eu parto do princípio que eu te-
nho que ver, não só ler o que
está escrito”, começou a respon-
der o presidente.
Um apoiador o interrompeu
e passou a hostilizar os jornalis-
tas, com xingamentos. Instado
a concluir a resposta, o presi-
dente afirmou que quem res-
ponderia, a partir daquele mo-
mento, seria o apoiador, que se
identificou como “professor
opressor”, apelido utilizado pe-
lo blogueiro Emerson Teixeira.
“É ele que vai falar, não é vo-
cês, não (sic) ”, disse Bolsonaro,
mandando os repórteres fica-
rem quietos. Os jornalistas, en-
tão, se retiraram. Ao notar a saí-
da dos repórteres, o presidente
disse: “Vai embora? Vai abando-
nar o povo? A imprensa que não
gosta do povo.”
Ataques de Bolsonaro à im-
prensa têm se tornado constan-
tes nas entrevistas que ele con-
cede em frente ao Palácio da Al-
vorada, onde, em geral, há um
grupo de apoiadores. No início
do ano, chegou a mandar um re-
pórter “calar a boca” e a ofender
jornalistas que fizeram reporta-
gens que o incomodaram.
Por determinação da seguran-
ça presidencial, os jornalistas
precisam ficar em uma área cer-
cada por grades, ao lado de on-
de se concentram os apoiado-
res. Depois de um período em
que poucos apareceram por lá,
eles voltaram a ir diariamente,
estimulados pelo pronuncia-
mento do presidente em que
chamou de “gripezinha” a co-
vid-19. / M.S.
Efraim Filho
Jornalistas abandonam
entrevista após ataques
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Vereador no Rio,
Carlos ganha sala
no Planalto
PRONTO, FALEI!
Na TV, Bolsonaro muda
o tom e fala em ‘união’
Apoiador hostilizou
repórteres e Bolsonaro
pediu para que os
profissionais de imprensa
ficassem quietos
l Mesmo sem ter cargo no gover-
no federal, o vereador do Rio de
Janeiro Carlos Bolsonaro (Repu-
blicanos) ganhou uma sala no
Palácio do Planalto. Ele ficará no
terceiro andar, o mesmo onde
está o gabinete do presidente
Jair Bolsonaro. Desde o início da
crise envolvendo o coronavírus,
Carlos tem participado de reu-
niões com o pai. A princípio,
atuou no chamado “gabinete do
ódio”, núcleo ideológico formado
por assessores responsáveis pe-
las redes sociais do presidente e
que ajudaram a fazer o pronun-
ciamento da semana passada.
Segundo o Estado apurou, a no-
va sala de Carlos causou incômo-
do no Planalto. / TÂNIA MONTEIRO
São Paulo. Projeção contra Bolsonaro na região da Consolação; panelaços foram ouvidos durante pronunciamento na TV
“Importante o presidente ter sinalizado rumo a uma
reavaliação da crise, procurando compreender me-
lhor, mais baseado na ciência do que na política.”
Deputado federal (DEM-PB)
»CLICK. Com sua cozi-
nheira afastada, em isola-
mento, Kátia Abreu (PP-
TO) mostrou que, entre
uma sessão e outra do
Senado, tem dividido as
panelas com o marido.
COLUNA DO ESTADÃO
Em mais um pronunciamento, presidente afirma que doença não pode causar mais
desemprego, mas não fala em fim de isolamento; discurso é acompanhado por panelaços
D
esde o acirramento do embate entre os Estados e a
Presidência, cresce exponencialmente a onda de
notícias falsas que têm governadores como alvo. O
grosso dessas fake news circula em grupos de WhatsApp.
A propagação, quase sempre, é feita de forma articulada,
muitas vezes com uso de robôs, segundo relatos feitos à
‘Coluna’ por governos que se empenham em desmentir e
as rastrear ataques. Há alguma sofisticação em certos con-
teúdos e as vítimas, em privado, dizem suspeitar do “gabi-
nete do ódio” na produção e na disseminação da praga.
NILTON FUKUDA/ESTADÃO