Na sala, a professora es mulava as crianças. Bernadete aguardava, com as
outras mães, do lado de fora, impaciente, ansiosa. Seu pé era o único da sala de
espera que ba a nervosamente no chão. As mãos suavam, uniam-se num aperto
solidário, solitário. Não podia aguentar aquele conformismo demasiado. Aquelas
caras de tranquilidade, aqueles olhares dispersos: "Como vamos dar con nuidade
ao trabalho se estamos do lado de fora? Como vamos es mular um cérebro
deficiente se não vemos o que está sendo feito com ele lá dentro? Eu quero estar
junto. É meu direito de mãe, leiga, querer aprender com quem sabe mais do que
eu. Vamos entrar."
- Não podemos.
- Temos que entrar. Quem é a diretora? Vou falar com a coordenadora.
Temos que aprender para con nuar em casa, porque nossos filhos ficam duas
horas aqui, mas as outras vinte e duas conosco.
Lá fora, Bernadete es mulava as mães. Queria entrar. Juntas, entraram.
A realidade oferecida para acelerar o desenvolvimento de Charlo e estava
longe da ideal que sua mãe buscava. Daquelas duas horas, menos da metade era
dedicada à fisioterapia, realizada duas vezes por semana em uma turma de quinze
alunos. Aflita, não admi a ver o tempo da filha passar assim, com pouca
es mulação nesta fase tão importante, em que há um acelerado crescimento do
cérebro. Queria uma fisioterapeuta para trabalhar somente com sua filha. - Só se ver dinheiro para pagar uma par cular!
- Tudo bem. Eu não tenho, mas vou trabalhar, vou ganhar dinheiro. Quanto
cobra uma fisioterapeuta todos os dias? E uma fonoaudióloga?