CHARLOTTE

(Casulo21 Produções) #1

Os 900 metros pareciam infinitos para aquele corpo pracamente inerte.
Era preciso muito esmulo para fazê-lo arrastar-se. Balas, bolas, chocalhos,
bonecas. Tudo era mostrado, de uma longa distância, à pequena Charloe. Ela
nha que querer chegar lá.
Os dias passavam e todos os brinquedos já estavam ultrapassados. Não
despertavam mais o interesse que faria a menina exercitar seus músculos, de
maneira que algum dia pudesse ter forças para caminhar. Novos atravos. Um
sapo.
Aos domingos, quando o Sesi fechava, o trabalho connuava em casa. O
cérebro não sabe quando é fim de semana ou feriado. Bernadete não parava
nunca, nem mesmo quando recebia pais de crianças em busca de ajuda, na
própria casa. Era preciso dividir o que sabia:



  • Vem cá, me empresta as tuas mãos. Põe teu filho no chão. Pega nos braços
    da Charloe. Você, segura teu filho assim. Agora, mãe, me dá tua filha e segura a
    minha de cabeça para baixo.
    Faziam um rodízio com pais e crianças. A casa sempre estava cheia. Não
    havia mais privacidade para a família.
    Era preciso que este trabalho fosse feito, porque ele dava resultados.
    Com um ano e meio de idade, a reavaliação feita no Rio de Janeiro revelou
    que Charloe vera uma melhora neurológica de 110 %, merecendo até uma
    medalha entre sessenta crianças que faziam o treinamento.
    Com um ano e dez meses ela já andava.
    Aos três anos, começou a frequentar o jardim de infância do Sesi.
    Durante um jantar em homenagem ao Dia das Mães, a superintendente da
    instuição - a mesma que oferecera a Bernadete uma sala para trabalhar - agora a
    convidava para matricular Charloe. Outras escolas colocaram-se à disposição
    dela mas o Sesi, além de ser perto de casa, encontrara-se sempre aberto.

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