referências à minha cidade, que teve sua ascensão econômica e cultural fomentada
pela fiação e tecelagem. E, claro, traria a poesia.
Este foi o início da concepção do espetáculo, que costumo assemelhar ao de
um panô - peça decorativa formada por tecido ornamentado, tapeçaria ou retalhos,
geralmente presa por um varão na parte superior. Havia estabelecido a paisagem a
ser elaborada (tema do espetáculo), que a forma do painel seria uma junção de
retalhos (contos selecionados), que faria textos que os unisse (costuras) e que
haveria harmonia nas cores e formas (poética).
Nesse momento, então, frente a uma infinidade de possibilidades de texturas
e cores, iniciei o trabalho de seleção daqueles que formariam os retalhos perfeitos.
Lembrei de ter ouvido um conto divertido pela voz de Rosana Mont ́Alverne
no Montanhas de Histórias – Simpósio Internacional de Contadores de Histórias,
em Ouro Preto, Minas Gerais, no ano de 2010. Ela estava numa praça, as pessoas
em semi-arena acompanhavam a trama e davam risada. Minha memória (que não é
tão boa quanto eu gostaria) soprou uns lampejos: o personagem principal era um
alfaiate, era um conto com repetição e a narradora tinha uma frase de efeito muito
boa que era dita algumas vezes. Lembrei da frase. Dizia “as pessoas falam, as
pessoas comentam” em tom de cumplicidade com a plateia. Pode ser que a frase
não fosse bem assim, mas era dessa forma que estava retida em mim.
Foi a partir disso que comecei a busca por este conto, que descobri ser
intitulado “O alfaiate desatento”. Encontrei o texto em diversas versões na Internet,
algumas informando autoria desconhecida e outras mencionando o reconto de
Regina Machado. Mesmo que me levando ao texto escrito, esta narrativa me tocou
em princípio por sua forma oral.
Foi também o caso da primeira história que compõe o espetáculo, “Fátima,
a fiandeira” que descobri narrada pela atriz Ana Luísa Lacombe em seu canal no
Youtube. A versão está descrita como mini-conto, pois é apresentada de forma mais
resumida. Depois, achei publicado na Internet, o texto que está no livro “Histórias
dos Dervixes”, do indiano Idries Shah. A história me cativou por oferecer uma
personagem central feminina e um enredo que aborda a positividade, a esperança
frente ao trágico. Foi só depois de montar o espetáculo, apresentá-lo por quase dois
anos, que deparei com a versão de Regina Machado no livro “O violino cigano e
outros contos de mulheres sábias”. Detalhe: pouco antes, apresentei-o no Boca do
Céu – Encontro Internacional de Contadores de Histórias, em São Paulo,
casulo21 produções
(Casulo21 Produções)
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