Com uma forte tendência ao uso de recursos visuais, procuro estar atenta a
sua dosagem, pois acredito na potência da palavra dita na formação do imaginário
da plateia e que isso é o que de mais valoroso há nesta atividade. Tenho como
alicerce a confiança no conto e que ele se basta. Por isso, nenhum recurso é
imprescindível para que a história seja contada.
Neste sentido, acabo optando por elementos visuais que agem mais na
harmonia e ambientação do que na narrativa em si. Entendo a necessidade do espaço
vazio, das lacunas que serão ocupadas pela imaginação da plateia e, por isso, a
possibilidade de ressignificações por parte dela.
Quanto aos objetos, o cuidado é ainda mais acentuado. Por preferência
estética, não utilizo elementos figurativos nas minhas narrativas. Procuro subverter
a relação entre imagem e história. Além disso, creio ser esse um caminho que desvie
dos clichês.
No primeiro espetáculo que montei selecionei o conto “A menina, a gaiola
e a bicicleta” de Rubem Alves. Ali estava uma dica óbvia para a utilização de
objetos, sugerida já pelo título. Optei por construir uma cestinha feita de arame
grosso, que me serviu como representação tanto da bicicleta quanto da gaiola,
quando virada ao contrário. Foi uma saída simples, mas eficiente, que sugere apenas
e age cenicamente sem dizimar a palavra dita.
Este, entre tantos momentos de criação iniciaram com a montagem desse
primeiro espetáculo que, não coincidentemente, abordava a busca por uma voz
autoral. Em “Ideias que contam histórias, histórias das ideias do Zé” de Silvia
Camossa, o personagem-título enche sua cabeça vazia com as ideias dos outros, até
que cai, quebra a cara e as ideias fogem correndo. Aliviado, ele enche a cabeça
novamente, mas com ideias próprias. O fechamento deste conto, me serve como
professor: “e foi assim que o Zé Cabeça Oca, virou Zé Cabeça Louca. Fazendo tudo
diferente, de um jeito irreverente como ninguém faz”.
casulo21 produções
(Casulo21 Produções)
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