Valor - Eu & Fim de Semana - Edição 1008 (2020-04-03)

(Antfer) #1
Sexta-feira,3deabrilde 2020 |Valor| 17

SINAISVITAIS


Coronavírus


3


A pandemianaGrande


SãoPauloounoGrande


Rionãotemporquese


comportardemaneira


diferente doquehouve


emLondres,NovaYork


ouLombardia.


PorIranGonçalvesJr.


Caroleitor, termineio artigodomês
de março como seguinte parágrafo:“En-
fim,amigoleitor, estamos todos nomes-
mobarco. Vamosremaremconjunto na
direçãocertae fazera parte que nos cabe.
É o queé possívelnomomento”.
O quemudoude lá paracá?Emrela-
çãoao mundofomos surpreendidos por
umaumento, muitoalémdoprevisto, no
número de casosqueatingiram primei-
ramentea Itália,seguidade Espanha,
França,Alemanha e ReinoUnido. A che-
gadadovírus aos EstadosUnidosfoiex-
plosivae ultrapassou, empoucosdias, o
número de casosregistradosnaChina.
Tornou-seevidenteparaa comunidade
médica quemedidasde isolamentoque
nãocontemplassemtodaa população não
sãoefetivas,mas sim perigosas. Governos
quetestaramhipótesesde isolamentoape-
nasde grupos de risco, prescreveramcon-
selhos vagosde restriçõesde mobilidade
ouse ativeram ao simples “la issez-faire”
mudaramrapidamentesuasorientaçõese
correramatrásdoprejuízo. A mortalidade
aumentou,líderesde governo foram con-
taminados, os sistemasde saúdeficaram à
beira docolapso.
Semprovisionamentoparao piorcená-
rio, houvefaltade insumos, equipamentos
e leitoshospitalares,equipamentos de pro-
teção individual para a população gerale
para os trabalhadores da saúde, esgota-
mentos físicoe mental e óbitosnasequipes
de atendimento. A falta de testes para diag-
nósticosé mundial e dificultaa identifica-
çãode novos focosda doença,o quetorna
impossível o melhor entendimentode co-

moo coronavírusse espalha.
Teoriase hipótesesdecomoagirde
outramaneira quenãoo isolamento
amplo ouquarentena ruíram naqueles
países frenteà realidade doaumentodo
número decasos,óbitose saturaçãodos
sistemas deatendimento.
NoBrasil, paísde taldimensãoqueto-
daa Europacabeemseuterritório, tem
múltiplasconfiguraçõesde cidades e
aglomeradosurbanos. Caberiamdife-
rentes soluções para diferenteslugares?
Talvezsim,talveznão.Mas,seaborda-
mosa questãodesseponto de vista,en-
traremos nocampodashipóteses e teo-
riasondecada umtema sua.
O quetemosde certo é que não hára-
zão, exceto porcrençasfora darazoabili-
dadecientífica, paracrerquea doença se
comportará emumacidade ouaglome-
radourbanonacional de mododiferente
daquelequese apresentouemregiões
semelhantesde outrospaíses quejá es-
tãoemritmo maisadiantado dapande-
mia.NaGrande SãoPauloounoGrande
Rio, elanãotemporquese comportar de
maneiradiferentedoque houveemLon-
dres,Nova York ouLombardia.
Essamaneirade abordaro problema
nãoé hipotético, é factual, já há resultados
descritos quesãoatualizadosa cada hora e
quepermitem quemedidas testadassejam
implementadas maisrapidamente.O mes-
movale para a pergunta “Por quanto tem-
po?”. Provavelmente porumtemposeme-
lhante ao daqueleslugares.
As medidas adotadasnosgrandes
aglomeradosurbanosbrasileiros,parti-

cularmente SãoPauloe Riode Janeiro, se-
guiramo quese fezde melhor nospaíses
europeus e foram iniciadasprecocemen-
te. Se nãoacontecera tremendaexplosão
de casos observadanosEstados Unidos,
quedemoroua tomaras mesmasmedi-
das,porcerto teremos umavantagem
importantenahoraemqueo sistemade
saúdepúblicoe privadofordesafiado.
Acredita-se quea primeira grandeon-
dade pacientesinfectados aindanãose
manifestou.Essa é a posição oficial,inclu-
sive,doministrodaSaúde, que,ementre-
vista noúltimosábado, estima queem
duasa trêssemanashaveráaumentodo
númerode casos nopaís.Nessajanelade
oportunidade,as demaiscidadesdevem
se adiantarnasmedidas de isolamento e
proteçãoaosseushabitantes.Vale o dito
popular sobrea inutilidadede colocarfe-
chadura depois de o ladrão entrar.
Nesta últimasemanadomêsde mar-
ço falou-semuito dosaspectos econômi-
cos dapandemia e comoissodeveria ser
levadoemcontanas medidassanitárias
propostas.Ora,soluçõeseconômicas
que possam atenuaros efeitos dapande-
mia nonosso paísé o quese espera dos
economistase administradoresdos seto-
respúblicoe privado. Médicos,enfer-
meirose profissionais de saúdenãoen-
tendemde PIB, TJLP, políticas fiscal e mo-
netária, mecanismos de compensação,
engenharia financeira ouseja lá o que
for possível acionar, modificar, experi-
mentar. Umdosaforismos preferidos
dos grandesempreendedoresé quecri-
sesgeramoportunidades. Entãoestaé a
maior oportunidadede todas.
Esteé o momento de pensar “forada cai-
xa”. O desafioé global. Nãoé uma crisesa-
zonalemumpaísparticular, afeta todas as
cadeiasde produção ao mesmotempoe
globalmente, nãohá para ondefugir. Esta
situação pandêmicaé pior doquea crise fi-
nanceirade 2008pois não se podeestimar,
dopontode vista médico, comoseráo “day
after”. É a primeiravezna história da hu-
manidadequeessevírus se manifesta. Ha-
verá sequelas tardias nos queapresenta-
ramapenaspoucos sintomas? Haverá
imunizaçãonosinfectados? Tudoissodeve
serlevadoemconta.
O quenosimportade imediato é sal-
vartantas vidasquanto possível, é nosso
desafioe nosso devercomosereshuma-
nos.Volto ao início dotexto parareafir-
marque estamos todos nomesmobarco.
Oxaláremandonamesmadireção.■

RODRIGO CAPOTE/BLOOMBERG

O EstádiodoPacaembu,emSãoPaulo,abrigao HospitalMunicipal deCampanha

IranGonçalvesJr,médico, escreveneste
espaçomensalmente

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