Sexta-feira,3deabrilde2020 |Valor| 35
CRIS BIERRENBACH
“Meninosde Zinco”
SvetlanaAleksiévitch.Tradução:Cecília
Rosas.CompanhiadasLetras,R$ 59 ,90
Ganhadorado
Nobeldeliteratura,a
extraordinária
escritorabielorrussa
SvetlanaAleksiévitch
oferece,comseu
estilosingulare
tocantedenarrar,
umaversãosobreoconflitoentre
soviéticoseafegãos(1979-1989).A
propagandadaentãoURSSfalavaem
“missãodepaz”.Masoresultadoforam
milharesdemortosdeambososlados:
asfamíliasrecebiamseusparentes
acondicionadosemcaixõesdezinco
lacrados.Svetlanaouviutestemunhos
demães,mulheres,irmãos,médicos,
enfermeirosesoldadossobrea
experiênciadecadaumnaguerra.As
lembrançaseossentimentosdos
entrevistadosestãonestelivro,quetraz
àluztodaabrutalidade,osentimento
devergonhadossoldadoseaangústia
aopensaremnosquenãovoltaram.
LANÇAMENTOS
“1793”
NiklasNattOchDag.Tradução:Fernanda
Abreu.Intrínseca,R$ 59 ,90
Vencedordo
prêmioLivrodoAno
daSuécia(2018),este
títulojáteveos
direitosnegociados
para35países.Assim
como“ONomeda
Rosa” (UmbertoEco),
“1793”é“umromancecerebrale
profundo”,escreveuo“Washington
Post”.NiklasNattOchDagcriaaquium
retratovívidodasombriaEstocolmodo
séculoXVIII,aocontarahistóriadeum
crimeeabuscapelaidentificaçãodo
cadávermutiladoencontradonolago
daUcharia.Umadvogadoconduza
árduatarefadeinvestigar,comaajuda
deumsentinelaqueavisousobreo
surgimentodocorpo.Emalgum
momentovaiserevelarumatrama
desegredos,perversõesecrueldade
quealcançaosaltosescalõesdaSuécia.
Bonsemaus,ricosepobres,vivose
mortosseentrelaçamnumenredo
desuspense.
“Despertaros Leões”
AyeletGundar-Goshen.Tradução:Paulo
Geiger. Todavia,R$ 69 ,90
Essesuspense
comumviésmoral
narraahistóriade
umneurocirurgião,
EitanGreen.Casado
comapolicialLiat,
elestêmtrêsfilhos.
Transferidode
Tel-AvivparaBeerSheva,situadaà
beiradodeserto,compraumcarro
novoparaenfrentarasestradasde
areia.Emumanoiteomédico
atropelaemataumapessoa.Efoge.A
partirdisso,suavidanuncamaisserá
amesma.Amãedavítima,um
imigranteafricanoembuscadevida
melhor,procuraoatropeladorediz
saberoqueaconteceu.Seráqueela
querdinheiro?Oqueestáporviré
piordoquegastosfinanceiros.Eitan
iráseenvolvernummundode
violênciaetráfico.AisraelenseAyelet
Gundar-Goshenémestreem
psicologiaeroteiristapremiada.
“O HomemDespertado”Roberto
Mangabeira Unger. Tradução: Roberto
Muggiati.CivilizaçãoBrasileira, R$ 59 ,90
Roberto
MangabeiraUnger
propõenestelivro,
publicado
originalmentenos
EUAem2007,uma
reorientaçãode
ideiasestabelecidas.
Trazreflexõessobreanatureza,a
mente,asociedade,apolíticaea
religião.Afilosofiapredominanteem
nossotempoéoqueelechamade
doutrinadoencolhimento,umrecuo
paralinhasmaisdefensáveis,deparar
eesperar,cantaracorrentado,à
medidaqueperdemosaconfiançaem
grandesprojetos,sejamteóricosou
políticos.Emcontrapontoaesse
mododepensareagir,oprofessorde
Harvardlembraquenuncaétarde
paramudarorumo.“A ideianãoé
resgataropragmatismo,érepresentar
eelevaranossahumanidade.
Imaginaçãoeesperançaserãonossos
guiasgêmeos”.■
semelhantesaosquevemoshojeem
governoscomoodoBrasil:“Otemor
deque(...)perdasconsideráveis
ameaçavamoshotéis,ocomércio,
todaacomplexaindústriado
turismo,sobrepujavanacidadeo
amoràverdadeeorespeitoàs
convençõesinternacionais,levando
asautoridadesapersistir
obstinadamenteemsuapolíticade
silêncioedesmentidos.”
ThomasBernhard—Alémde
Mann,seriapossívelcitarmuitos
nomesdaficçãoclássicae
contemporâneaquetrataramda
doença:deBoccaccioaNelson
Rodrigues,deProustaAlisonBechdel.
Bernhardépossivelmenteomais
radicaldeles—eomaisengraçado,
emsuacaracterísticamisturadefúria
enfáticaebufonaria,emfrases
intermináveisecheiasderepetições
emespiral.Todososseusnarradores
são“doentes”dealgummodo—dos
chamadosmalesmentaisou,com
frequência,numaressonânciacoma
biografiadesseautordesaúdefrágil
quepassouajuventudecom
problemaspulmonares,demoléstias
docorpo“strictosenso”.Comoem
“MorteeVeneza”ou“DoutorFausto”,
háemBernhardumavisãoemalguns
aspectosromântica,queidentifica(à
modaantiga,digamos)a
enfermidadeeaspectoscriativosda
“al ma”.“Defendeuciumentamente,
guardouparasiecolocounocentro
desuavidasualoucura”, dizo
narradorsobreumamigointernado
numhospitalem“OSobrinhode
Wittgenstein”(Rocco,124págs.,
traduçãodeAnaMariaScherer).
“Assimcomoeu,finalmente,apartir
dessadoençadospulmõesedessa
loucura,porassimdizer,[defendi]
minhaarte.”■
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