O Estado de São Paulo (2020-04-04)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-1:20200404:B1 SÁBADO, 4 DE ABRIL DE 2020 INCLUI CLASSIFICADOS O ESTADO DE S. PAULO


E&N


ECONOMIA & NEGÓCIOS


FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

Bolsas no mundo
VARIAÇÃO DO DIA, EM PORCENTAGEM

FTSE-
MIB
(MILÃO)

DAX
(FRANK-
FURT)

NASDAQ
(NOVA
YORK)

S&P 500
(NOVA
YORK)

FTSE
100
(LONDRES)

IBEX 35
(MADRI)

CAC 40
(PARIS)

DOW
JONES
(N. YORK)

Ibovespa
EM PONTOS

2
JAN
2020

3
FEV

50.

80.

110.

140.

2
MAR


ABR

3/ABR

3/ABR

2
JAN
2020

3
FEV

2
MAR


ABR

69.

VARIAÇÃO
NO DIA
-3,76%

NO ANO
-39,87%

Dólar
EM REAIS

4,

4,

5,

5,500 5,

SOB PRESSÃO

VARIAÇÃO
NO DIA
1,15%

NO ANO
32,78%

0

-2,

-1,69 -1,57 -1,

-1,

-1,

-0,

0,

Fabrício de Castro / BRASÍLIA


A crise causada pela pandemia
do novo coronavírus provocou
uma fuga recorde de dólares do
Brasil em março. Dados do Ban-
co Central mostram que, até o
dia 27, houve saída líquida de
US$ 13,39 bilhões pelo segmen-
to financeiro. Apesar de ainda
não refletirem o movimento
completo do mês passado, indi-
cam um recorde de saídas finan-
ceiras do País para meses de
março. A série histórica do BC
começa em janeiro de 1982.
O resultado do segmento fi-
nanceiro reflete os investimen-
tos feitos por estrangeiros em
atividades produtivas (novas
fábricas e sociedades em proje-
tos, por exemplo) e em portfó-


lio – como aplicações em ações
da Bolsa de Valores ou títulos
públicos e privados. O saldo
também inclui remessas de lu-
cros e pagamentos de juros fei-
tos por empresas ao exterior, en-
tre outras operações.
Em março, em meio à pande-
mia, intensificou-se em todo o
mundo um movimento de fly to
quality (voo para a qualidade),
em que investidores deixam ati-
vos de maior risco em busca de
aplicações de maior segurança.
Isso se traduziu na retirada
de recursos do Brasil e de outros
países emergentes em direção a
outras praças. Investidores têm

preferido aplicar em títulos pú-
blicos de países centrais com ta-
xas negativas, por exemplo, a
manter dinheiro no Brasil, que
ainda sustentava em março um
juro básico real (descontada a
inflação) de 0,26%. Em compa-
ração, a Alemanha tinha taxa
real negativa de 1,75% e os EUA,
menos 2,05%.
No segundo semestre de
2019 e no início de 2020, antes
da pandemia, as saídas de dóla-
res do Brasil ao exterior, no seg-
mento financeiro, já eram con-
sistentes, mas os motivos eram
outros. No ano passado, com a
Selic (a taxa básica de juros) em
níveis mais baixos (4,5% ao ano
em dezembro), tornou-se vanta-
joso para várias multinacionais
pagarem dívidas no exterior e
contrair novos empréstimos no
Brasil.
O movimento de quitação
desses compromissos lá fora –
chamado de “pré-pagamento”
pelo BC – levou à saída de dóla-
res verificada no segundo se-
mestre do ano passado.

Agora, o motivo é outro. “É o
típico fluxo de saída. São investi-
dores indo embora, ou da Bolsa,
ou da renda fixa”, explica o eco-
nomista Alexandre Cabral, que
trabalhou por anos no mercado
de câmbio brasileiro e hoje é pro-
fessor do Ibmec. “É o fly to qua-
lity, com os investidores em bus-
ca dos juros americanos. Com

medo de uma recessão pesada
no Brasil, eles preferem enfren-
tar a recessão nos EUA.”
Para dar vazão a esse movi-
mento, o BC tem realizado, qua-
se que diariamente, leilões de
venda de dólares ao mercado.
Sempre que percebe uma de-
manda maior pela moeda ameri-
cana, a autarquia entra nos negó-

cios com oferta da moeda.
Com isso, o BC evita eleva-
ções maiores do preço do dólar
ante o real ou mesmo distor-
ções no mercado de câmbio
que, no limite, podem ser preju-
diciais para todo o sistema.
Os R$ 13,39 bilhões líquidos
que deixaram o Brasil não chega-
ram a superar os US$ 19,9 bi-
lhões vistos em dezembro do
ano passado. Esta foi a maior saí-
da da história para um único
mês. Nesse caso, porém, os en-
vios estiveram ligados ao movi-
mento de pré-pagamento e ao
fato de multinacionais e fundos,
tradicionalmente, enviarem em
dezembro, ao exterior, lucros e
dividendos.
Enquanto muitos investido-
res tiraram recursos do Brasil
em março, o País ainda conti-
nuou registrando um fluxo de
entrada de dólares pela via co-
mercial. Os dados do BC mostra-
ram que, até o dia 27 , o fluxo
comercial foi positivo em US$
7,39 bilhões. O montante foi re-
sultado de exportações de US$
20,524 bilhões, menos importa-
ções de US$ 13,13 bilhões.
Com esses números o fluxo
financeiro total – que engloba o
resultado financeiro e o comer-
cial – foi negativo em US$ 6 bi-
lhões em março até o dia 27.

Renato Jakitas


Se a Bolsa de Valores tem des-
pencado, mas de vez em quan-
do anima o investidor com al-
guma alta, como a da semana
passada, o mesmo não aconte-
ce com o dólar, que se man-
tém consistentemente em al-
ta ante o real desde o início da
crise causada pela pandemia
do novo coronavírus, há dois
meses. Ontem, a cotação da
moeda fechou em alta de
1,15%, alcançando a histórica
cotação de R$ 5,32. Na sema-
na, a valorização do dólar foi
de 4,40%, a maior desde 24 de
agosto de 2018
.
Com o resultado, o dólar co-
mercial alcança por aqui a séti-
ma semana consecutiva de alta,
e o real já é a segunda moeda
que mais perdeu valor frente à
divisa americana em 2020, que-
da de 32,78%, atrás apenas do
rand, da África do Sul, que se
desvalorizou 35,8%.
No mercado de ações, o Ibo-
vespa fechou ontem em nova
queda, a 69 mil pontos, fazendo
o principal índice da Bolsa regis-
trar um prejuízo de 5,30% na se-
mana, ante alta de 9,48% da se-
mana passada. Pesaram contra
as ações a queda abrupta no nú-
mero de postos de trabalho nos
Estados Unidos, que encerrou
uma série de 113 meses de cresci-
mento. Segundo os dados ofi-
ciais, divulgados ontem, 701 mil
americanos perderam seus em-
pregos. O Dow Jones caiu
1,69%; o S&P 500 perdeu 1,51%;
e o Nasdaq recuou 1,53%.


Dólar segue em alta. De volta
ao câmbio, analistas dizem que
o movimento de alta do dólar
ainda está longe do fim. Eles já
veem como normal um dólar a
R$ 5,50 ao longo de abril, po-
dendo inclusive se aproximar
dos R$ 6, caso se consolide no
mercado a tese de que o Banco
Central (BC) imprimirá um rit-
mo mais forte de queda da taxa


de juros básica da economia, a
Selic, que hoje está em 3,75%.
“Se a Selic ficar em 3,25%,
acho que um dólar a R$ 5,50 es-
tá bem ‘ok’. Mas se o mercado
comprar uma taxa ainda mais
baixa, a cotação pode chegar a
R$ 6, nas próximas semanas”,
diz José Faria Júnior, sócio da
Wagner Investimentos. Na

quinta-feira, o Itaú Asset divul-
gou relatório estimando que a
Selic deverá terminar o ano em
queda brusca de 1,5% ao ano. A
projeção anterior da institui-
ção era de 3,25%.

O que explica. Para o econo-
mista-chefe da Necton Investi-
mentos, André Perfeito, o Bra-

sil é muito exposto ao mercado
de commodities, que está em
queda livre, e isso é uma das
razões para a desvalorização
do real. “Não tem o que fazer, o
dólar vai subir, como tem subi-
do. O banco central afaz o que
dá, mas o mercado vai conti-
nuar jogando o dólar para ci-
ma.”

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l Mais segurança

Brasil registra fuga recorde de


dólares para um mês de março


Dólar dispara, vai a R$ 5,32 e já há


previsão de mais pressão; Bolsa recua


Mesmo na crise,


salta número de


CPFs na Bolsa


Empresas de ajudam nos ‘cartéis do bem’. Pág. B3}


“É o fly to quality, com os
investidores em busca dos
juros americanos. Com
medo de uma recessão no
Brasil, eles preferem
enfrentar a dos EUA.”
Alexandre Cabral
PROFESSOR DO IBMEC

● Saída de investimentos do Brasil se intensifica e bate recorde
para um mês de março

FUGA PARA A SEGURANÇA

FONTE: BANCO CENTRAL INFOGRÁFICO/ESTADÃO

FLUXO FINANCEIRO EM BILHÕES DE DÓLARES*

*REFLETE OS INVESTIMENTOS FEITOS POR ESTRANGEIROS EM ATIVIDADES PRODUTIVAS (NOVAS
FÁBRICAS E SOCIEDADES EM PROJETOS, POR EXEMPLO) E EM PORTFÓLIO – COMO APLICAÇÕES
EM AÇÕES DA BOLSA DE VALORES OU TÍTULOS PÚBLICOS E PRIVADOS. O SALDO TAMBÉM INCLUI
REMESSAS DE LUCROS E PAGAMENTOS DE JUROS FEITOS POR EMPRESAS AO EXTERIOR, ENTRE
OUTRAS OPERAÇÕES; **DADOS ATÉ O DIA 27 DE MARÇO

-15,

-12,

-9,

-6,

-3,

0

3,

6,

9,

08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2020**

MAR
2007

-13,

Saíram do País até dia 27 8,


de março, US$ 13,3 bi e,


segundo analistas, são


investidores fugindo do


risco em meio à covid-


Analistas dizem que cotação da moeda norte-americana pode chegara R$ 5,50 ainda este mês caso ocorra sinalização pelo Banco


Central de novo corte da taxa básica de juros, a Selic; Bolsas caem pelo mundo com números ruim de desemprego nos Estados Unidos


JUSTIN LANE/EPA/EFE

Nos EUA. Forte alta do desemprego, que saltou de 3,5% para 4,4% mexeu com mercados

Fernanda Guimarães

Mesmo em um mês em que o
principal indicador da Bolsa de
São Paulo, o Ibovespa, recuou
30% e o mecanismo de circuit
breaker – parada do mercado
após queda de 10% – foi aciona-
do seis vezes, o número de pes-
soas físicas na Bolsa, bateu no-
vo recorde. No final de março, o
total de CPFs ativos na B3 era
de 2,27 milhões, 15% mais do
que em fevereiro.
O crescimento acentuado do
número das pessoas físicas co-
meçou no fim de 2018, e vem se
repetindo mês a mês desde en-
tão. Na esteira desse movimen-
to, os investidores pessoas físi-
cas entraram com R$ 17,5 bilhões
na Bolsa em março, movimento
que se refletiu também na entra-
da de recursos nos fundos de
ações, que tem registrado, ape-
sar da aversão ao risco, captação

líquida, ou seja, maior entrada
do que saída de recursos.
“ É um ótimo sinal, mas ainda
é cedo para concluirmos qual-
quer tendência de mais longo
prazo, dado o cenário atual de
alta volatilidade e incerteza que
estamos vivendo”, afirmou o di-
retor de relacionamento com
clientes da B3, Felipe Paiva.
O movimento ocorre, segun-
do especialistas, por conta da
maturidade do investidor, so-
mado ao ambiente de juros bai-
xos no Brasil, que está levando
as pessoas físicas a migrarem
seus recursos para a renda variá-
vel. Essa é a primeira crise que o
Brasil passa, assim, com um pa-
no de fundo de juros baixos. A
Selic já está na mínima história,
em 3,75%, mas a tendência é de
mais queda.
O movimento ocorre na con-
tramão do fluxo dos investido-
res estrangeiros, que têm fugi-
do dos mercados. No acumula-
do de março, a saída líquida dos
investimentos estrangeiros na
Bolsa foi de R$ 24,207 bilhões,
registrando a maior retirada no-
minal para um mês de março
em toda a série histórica,
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