O Estado de São Paulo (2020-04-04)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-4:20200404:
A4 SÁBADO, 4 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Jair Bolsonaro,
presidente da
República

»Estratégia. Hoje no Con-
gresso as comissões estão
paradas e são votadas ape-
nas matérias que tratem do
coronavírus e tenham con-
senso. A estratégia vai ser
aproveitar que não são pou-
cas as fake news sobre a co-
vid-19 para prorrogar a CPI.

»Na agenda. O presidente
da comissão, Ângelo Coro-
nel (PSD-BA), vai falar com
Davi Alcolumbre, presiden-
te do Senado, na próxima
semana, para garantir a con-
tinuação dos trabalhos via
teleconferência.

»Dá uma... Os representan-
tes da Base Industrial de
Defesa que estiveram com
o ministro Fernando Azeve-
do e Silva (Defesa) nesta
semana – e toparam produ-
zir insumos para a Saúde –
fizeram a ele um pedido:
que o decreto de serviços
essenciais fosse ampliado.

»...forcinha, aí. Segundo
disseram, se encontravam à
mercê de regras estaduais e
com as produções paralisa-
das. A indústria química,
que produz insumos impor-
tantes para a higiene, esta-
va com fábricas fechadas.

»Yin... Quem conhece o
ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta, de ou-
tros carnavais conta que
nem sempre ele assumiu a
postura serena com a qual
reage às críticas do presi-
dente em público.

»...yang. O ministro é co-
nhecido por ter “pavio cur-
to”. Jair Bolsonaro também
sabe disso, mas os aliados
de Mandetta esperam que
ele permaneça zen até o
fim desta grave crise.

»Cof-cof. Bolsonaro ainda
não entendeu bem a etique-
ta da tosse. Ao falar com
apoiadores em frente ao
Alvorada, tossiu e não pôs
o cotovelo na frente, como
Mandetta “ensinou”.

»Como fica? Paulo Har-
tung, ex-governador do ES,
resume este momento: “Es-
tamos diante de um déficit
de liderança e coordenação.
Precisamos cuidar do pre-
sente, dos vulneráveis, mas
sem descuidar do futuro.
Uma hora a crise vai passar
e que país vai nascer disso?”.

»Ajuda ali. O PGR e presi-
dente do CNMP, Augusto
Aras, estuda propor a desti-
nação de recursos do Fun-
do de Defesa dos Direitos
Difusos para a prevenção
do coronavírus nos presí-
dios. Aras deve buscar uma
articulação com o CNJ e o
Ministério da Justiça.

»Dividindo... O prefeito de
São Bernardo, Orlando Mo-
rando, e a mulher dele, a
deputada estadual Carla
Morando (ambos do
PSDB), doaram seus salá-
rios para o Fundo Social de
Solidariedade do município
do ABC, engajado no com-
bate aos efeitos da pande-
mia do coronavírus.

»...e somando. “A situação
é grave e precisamos nos
unir. A solidariedade está
acima de tudo e a luta con-
tra o coronavírus só será
ganha com união”, afirmou
Orlando Morando, que se-
gue internado em UTI por
causa do vírus.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

P


ego de surpresa com a prorrogação da CPI Mista
das Fake News, o Palácio do Planalto avalia fazer
um pente-fino nos aliados que têm cargos e ainda
assim assinaram o requerimento para continuar os traba-
lhos da explosiva comissão. Havia uma esperança de que,
em meio à pandemia, a oposição deixasse de lado essa his-
tória, o que, claro, não aconteceu. Contrariados, governis-
tas dispararam ligações de cobrança aos parlamentares
“traidores”. Às pressas, conseguiram tirar sete nomes de
senadores, mas, era tarde, a comissão ganhou sobrevida.

Planalto estuda retaliar


por CPI das Fake News


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

‘Se precisar, é melhor
adiar eleição para

dezembro. Pág. A


Jairo Nicolau


Aprovação a governadores


sobe em meio a pandemia


Marcel Van Hattem

Avaliação positiva dos gestores estaduais passa de 26% em março para 44% em abril,


diz pesquisa da XP; conduta de Bolsonaro é ruim ou péssima para 42% dos entrevistados


Cícero Cotrim
Gregory Prudenciano

Principais responsáveis pe-
las medidas de isolamento so-
cial como tentativa de “acha-
tar” a curva de contágio do co-
ronavírus na população brasi-
leira, os governadores tive-
ram aumento de 18 pontos
porcentuais na taxa de apro-
vação entre março e abril. No
mesmo período, o porcen-
tual de entrevistados que con-
sidera a gestão do presidente
Jair Bolsonaro como ruim ou
péssima oscilou no limite da
margem de erro: de 36%, mês
passado, para 42%. Já com re-
lação à condução das políti-
cas de combate ao covid-19, a
aprovação de Bolsonaro fi-
cou abaixo da registrada pelo
ministro da Saúde, Luiz Hen-
rique Mandetta.
Os dados fazem parte da pes-
quisa XP com a População, reali-
zada pela instituição financeira
em parceria com o Ipespe, e di-
vulgada ontem. Foram ouvidas
1.000 pessoas, por telefone, en-
tre os dias 30 de março e primei-
ro de abril – período de maior
embate entre Bolsonaro e os go-
vernadores e Mandetta. Enquan-
to o presidente defende o fim
das medidas de restrição de cir-
culação, os chefes dos Executi-
vos estaduais e o ministro afir-
mam a necessidade de manter a
política de isolamento para evi-
tar a propagação do coronaví-
rus. A margem de erro da pesqui-
sa é de 3,2 pontos porcentuais.
Segundo o levantamento, a
proporção dos entrevistados
que consideram a administra-
ção dos governadores como
“ótima ou boa” subiu de 26%
em meados de março para 44%

em abril. O período coincide
com a decretação de medidas
de isolamento social nos Esta-
dos e com o foco sobre governa-
dores, como João Doria
(PSDB), de São Paulo, e Wilson
Witzel (PSC), do Rio, que entra-
ram em confronto com Bolsona-
ro nas últimas semanas.
A atuação do presidente na
condução da crise foi considera-
da “ruim ou péssima” por 44%
dos entrevistados. Outros 29%
enxergaram o desempenho do
presidente durante a pandemia
como “ótimo ou bom” e 21%,
como “regular”. Em suas decla-
rações públicas, Bolsonaro vem
minimizando os efeitos do coro-
navírus e defendendo o chama-
do isolamento vertical – segun-
do o qual somente idosos e pes-
soas no grupo de risco deve-
riam ficar em casa. Segundo ele,
isso seria uma forma de preser-
var a Economia e evitar um de-
semprego em massa em decor-
rência das medidas de isolamen-
to. Mandetta teve sua atuação
aprovada por 68%, segundo a
pesquisa. O ministro vem se
equilibrando entre defender cri-
térios técnicos para definir
ações do Ministério da Saúde
para minorar os efeitos do vírus
e não melindrar o presidente.
A relação entre os dois, no en-
tanto, já está esgarçada. No sá-
bado, durante tensa reunião
com demais ministros, Mandet-
ta afirmou, conforme revelou o
Estado , que se o presidente in-
sistisse em defender o retorno
ao trabalho seria obrigado a con-
testá-lo. Bolsonaro respondeu
que se isso ocorresse iria demi-
ti-lo. Anteontem, em entrevista
à Jovem Pan, Bolsonaro afir-
mou que o ministro “não tem
humildade” e, apesar de dizer

que não pretende demiti-lo “no
meio da guerra”, ressaltou que
ele não é “indemissível” (mais
informações na pág. A5).

Governo. A pesquisa também
registrou que a desaprovação
do governo Bolsonaro atingiu
42% em abril, ante 36% em mar-
ço. É o maior nível de avaliações
ruins ou péssimas desde o iní-
cio do mandato, ainda que a os-
cilação tenha sido no limite da
margem de erro da pesquisa. A
proporção dos que avaliam o go-
verno como “ótimo ou bom” os-
cilou de 30% para 28% no perío-
do, também dentro da margem


  • apesar de, nominalmente, ser
    a primeira vez que a taxa fica
    abaixo do nível dos 30%.
    A aprovação da atuação do
    presidente está empatada, na
    margem de erro, com a do Con-
    gresso (30%), da população
    (34%), e do Supremo Tribunal
    Federal (29%), mas abaixo da
    do ministro da Economia, Pau-
    lo Guedes (37%) e dos profissio-
    nais da saúde (87%).
    A pesquisa também captou
    deterioração nas expectativas
    para o restante do mandato de
    Bolsonaro. A proporção da po-
    pulação que espera que o gover-
    no dele seja “ruim ou péssimo”


de agora em diante oscilou de
33% para 37%, enquanto a avalia-
ção “ótima ou boa” variou de
38% para 34%. “O que estamos
vendo é que Bolsonaro mantém
esse núcleo de apoio em torno
de 30% e isso é o que ele precisa
para chegar até 2022. Não espe-
ramos mudança no comporta-
mento dele”, disse o head de Ma-
cro Sales e Análise Política da
XP, Richard Back.

Datafolha. Outra pesquisa di-
vulgada ontem, pelo Instituto
Datafolha, mostra que mais da
metade dos brasileiros (51%)
julgam que Bolsonaro tem atra-
palhado mais do que ajudado
durante a crise do coronavírus.
O instituto entrevistou 1.
pessoas, por telefone, entre pri-
meiro de abril e ontem.
A pesquisa, que tem margem
de erro de 3 pontos porcen-
tuais, também mostra que a
aprovação do Ministério da Saú-
de, liderado por Mandetta, su-
biu 21 pontos porcentuais, de
55% na pesquisa anterior – feita
entre 18 e 20 março – para 76%.
A reprovação à maneira como
Bolsonaro tem agido na crise
causada pelo coronavírus osci-
lou no período. Na pesquisa an-
terior, 33% reprovavam. Agora,
são 39%. A aprovação variou de
35% para 33%, e a avaliação de
que o presidente é “regular” foi
de 26% para 25%, ambas dentro
da margem de erro.
Ao avaliar a atuação dos go-
vernadores dos Estados duran-
te a crise, 58% dos entrevista-
dos a aprovam (ante 55% na pes-
quisa anterior). Os que repro-
vam são os mesmos 16%. Já os
que avaliam os gestores esta-
duais como “regular” são 23%
agora, ante 28% em março.

Deputado federal (Novo-RS)

“Surreal! Enquanto estamos literalmente presos em
casa por conta de uma pandemia, juízes estão soltan-
do bandidos nas ruas com a mesma justificativa!”

Rafael Moraes Moura
Jussara Soares / BRASÍLIA

O presidente Jair Bolsonaro
afirmou anteontem que preten-
de liberar o funcionamento do
comércio, fechado na maior par-

te do País por causa do coronaví-
rus, com uma “canetada”. Não
foi a primeira vez que o presi-
dente usa a expressão para se
gabar do poder de sua caneta.
Na avaliação de especialistas,
porém, a esmagadora maioria
dos atos do chefe do Executivo


  • como a edição de decretos e
    medidas provisórias – está sujei-
    ta a controles.
    A contenção de medidas ado-
    tadas pelo Palácio do Planalto
    faz parte do sistema de “freios e
    contrapesos”, que serve para


impor limites e impedir abusos
cometidos pelos Poderes.
Segundo o professor de direi-
to penal Davi Tangerino, da
FGV São Paulo, um decreto de
Bolsonaro liberando as ativida-
des do comércio teria poucos
efeitos práticos. “O impacto na
prática ia ser baixo, porque qua-
se todos os Estados e municí-
pios já criaram decretos. Hoje é
mais bravata e jogar para o gru-
po de apoiadores fanáticos, do
que uma possibilidade de altera-
ção jurídica importante”, disse.
Tangerino também observa
que uma medida nesse sentido
poderia ser revertida pelo STF
ou pelo Congresso, que pode
anular decretos presidenciais.
“99,9% dos poderes do presiden-

te são controláveis ou pelo Con-
gresso ou pelo STF, se desobede-
cer a lei”, disse Tangerino. “O po-
der do presidente não é um po-
der absoluto”, complementou o
professor da FGV Roberto Dias.
Apesar de dizer que pode defi-
nir com “uma canetada” o fim do
isolamento social, Bolsonaro ain-
da quer fazer uma última tentati-
va de articular a medida com o
Congresso e o STF. O esforço, se-
gundo integrantes do governo, é
para evitar que ele seja enquadra-
do em crime de responsabilida-
de. Nos bastidores, o presidente
tem repetido que há em curso
um plano para iniciar um proces-
so de impeachment e diz que pre-
cisa se cercar de cuidados para
não dar pretexto aos adversários.

“O que estamos vendo é
que Bolsonaro mantém
esse núcleo de apoio em
torno de 30% e isso é o
que ele precisa para
chegar até 2022. Não
esperamos mudança no
comportamento dele.”
Richard Back
HEAD DE ANÁLISE POLÍTICA DA XP

BOMBOU NAS REDES!

Eventual ‘canetada’ pode ser


derrubada, avaliam juristas


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l Núcleo

Expressão foi usada por
Bolsonaro ao cogitar
liberar o comércio; 99% dos
poderes do presidente são
controláveis, diz professor

»CLICK. O governador
do Amapá, Waldez Goes
(PDT), se reuniu com re-
presentantes do setor
empresarial. Ele e seus
assessores usaram más-
caras de proteção.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

●Pesquisa XP/Ipespe realizou mil entrevistas, em todo o País, entre 30 de março e 1º de abril

SONDAGEM

FONTE: PESQUISA XP/IPESPE INFOGRÁFICO/ESTADÃO

Avaliação do desempenho do
governo Jair Bolsonaro

0

10

20

30

40

50

60

70

OBS.: METODOLOGIA: ENTREVISTAS TELEFÔNICAS REALIZADAS POR OPERADORES; MARGEM DE ERRO: 3,2 PONTOS PORCENTUAIS

JAN
2019

ABR
2020

EM PORCENTAGEM ÓTIMO/BOM REGULAR RUIM/PÉSSIMO NÃO SABE/NÃO RESPONDEU

42

28
27

3

Expectativa para o restante do
mandato de Bolsonaro

0

10

20

30

40

50

60

70

JAN
2019

ABR
2020

37
34

20

Avaliação do desempenho dos
governadores

0

10

20

30

40

50

60

70

OUT
2019

ABR
2020

15

44
37

9
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