National Geographic - Portugal - Edição 229 (2020-04)

(Antfer) #1

No entanto, a mudança pode ocorrer mais depressa do que muitos imaginam.
Em muitos sítios, os automóveis substituíram os cavalos no espaço de 15 anos.
Durante milhares de anos, vivemos perfeitamente sem plástico e, no espaço de
poucas décadas, ele está em todo o lado. Ao longo da história, fomos simulta-
neamente inventores engenhosos e rápidos a adoptar novas tecnologias. Com a
vontade popular e as políticas públicas correctas, não teremos qualquer problema
em criar novas infra-estruturas de energia e de transporte, fabricar produtos sem
emitir toxinas ou de carbono e substitutos biodegradáveis para o plástico.
Como indivíduos, é muito mais eficaz gastarmos as nossas energias a exigirmos
essas políticas públicas, que transformarão a solução ecológica no caminho mais
barato e mais fácil, em vez de comprarmos as opções ecológicas, dispendiosas e
de nicho de mercado, que hoje se encontram disponíveis. Vejo cada vez mais pes-
soas a aperceberem-se disto e isso também me dá esperança. Não conseguiremos
resolver a crise climática sendo “bons” consumidores. Mas conseguiremos agir
muito melhor sendo bons cidadãos.
Um quarto das emissões é causado pela produção de electricidade e de calor.
Felizmente, havendo vontade política, estas serão as emissões mais fáceis de eli-
minar. “Poderíamos facilmente reduzi-las a meta-
de em dez anos”, afirma Jonathan Foley, director
executivo da Project Drawdown, especialista em
análises de custo-benefício de soluções para as al-
terações climáticas. As energias eólica e solar já es-
tão suficientemente amadurecidas para desenvol-
vimento em larga escala e as baterias necessárias
para armazenar a electricidade estão a tornar-se
melhores e mais baratas. Entretanto, as empresas
produtoras de carvão estão a abrir falência.
A agricultura, a silvicultura e o ordenamento do
território são áreas mais complicadas. Produzem
mais de um quarto das nossas emissões, sobretudo
o óxido de azoto gerado pelo estrume ou pelos adu-
bos sintéticos, o metano expelido pelos animais
domésticos e o CO 2 gerado pela queima de com-
bustível e pelos campos. Em 2070, o planeta pode-
rá ter mais de dez mil milhões de habitantes para
alimentar. Como poderemos reduzir o solo usado e
a pegada climática da agricultura e continuar a produzir calorias em quantidade
suficiente para sobrevivermos?
Uma solução consiste em extinguir os subsídios à produção de carne e incen-
tivar mudanças à escala social, no sentido de privilegiar os alimentos vegetais.
A produção de carne de vaca, em particular, consome a maior parte do solo e da
água: para obter um quilograma de carne, é preciso alimentar o animal com cerca
de seis quilogramas de plantas. Felizmente, existe esperança, sob a forma de no-
vas alternativas saborosas à carne, como o Impossible Burger ou a Beyond Meat.
Não acredito que todos seremos vegans em 2070, mas a maioria das pessoas irá
comer muito menos carne do que hoje.
E o que dizer sobre as próprias explorações agrícolas? Os ambientalistas ten-
dem a dividir-se em dois campos. Uns dizem que a agricultura deve tonar-se mais
intensiva, utilizando robots, OGM e grandes volumes de dados para produzir uma
quantidade astronómica de géneros alimentares com uma pegada ecológica mi-
núscula. Outros defendem que as explorações agrícolas deveriam ser mais “natu-
rais”, misturando culturas e reduzindo os químicos tóxicos, deixando as margens
dos campos livres como habitat para os animais selvagens.


NÃO CONSEGUIREMOS RESOLVER
A CRISE CLIMÁTICA SENDO
“BONS” CONSUMIDORES, M A S
CONSEGUIREMOS AGIR MUITO
MELHOR SENDO BONS CIDADÃOS.
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