BECO

(Leonam Victor) #1

A


arte underground, popularmente conhecida como arte urbana no
Brasil, está sendo cada vez mais vulgarizada para o consumo. Ele-
mentos da cultura hip hop, até então marginalizada, vêm sendo
utilizados em edições especiais de produtos e como decoração de pontos
comerciais voltados para o público jovem-adulto de classe média a alta.

A popularização capitalista de elementos undergrounds vai na direção opos-
ta ao surgimento da arte urbana, que nasceu nas ruas com o propósito de
promover uma vertente artística de contracultura do sistema social e polí-
tico. A arte que tem como essência o anarquismo e rebeldia, destacando-se
principalmente o grafite, é atada e enquadrada como arte de encomenda,
pois, no momento em que um bomb [estilo de letra] é feito para a elite, ele
se esvazia de sentido e ideologia - sendo assim, valorizado. Essa tendência
alimenta a crescente gourmetização da arte urbana junto à hipocrisia social
que fomenta preconceitos contra as mesmas expressões nas ruas.

A pichação chegou e se popularizou no Brasil durante a década de 70, sendo
utilizada para protestar contra a Ditadura Militar vigente no Brasil. Mensa-
gens de crítica ao sistema, denúncias e repúdio aos militares eram constant-
emente encontradas em muros, portas, bancos e outros lugares públicos.
Desde então, perpetuou-se o conceito de que essa prática está associada ao
ato de vandalismo.

Mas, ainda que o grafite, vertente mais validada da pichação, tenha sido
legalizado como expressão artística em 2011, pela lei 12.408/11, os artistas
encontram dificuldades em viver da arte, de fato, devido à burocracia e ex-
istência de poucos editais de apoio. Por isso, apesar do contexto problemáti-
co que envolve a comercialização de elementos undergrounds, este cenário
também proporciona possibilidades de oportunidade de trabalho para os
artistas visuais, seja para assinar um mural, parede ou quadro. b

opinião

Texto:
Lawanne Arruda

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