Valor Econômico (2020-04-07)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 4 da edição"07/04/20201a CADB" ---- Impressa por ivsilvaàs 06/04/2020@20:53:


B4|Valor|Te rça-feira, 7 deabrilde 2020

Empresas|Indústria


VeículosMédiadiáriadevendas


nofimdemarçocaiu86,5%


Estoques são


suficientes


para quase


um trimestre


Moraes, presidente da Anfavea: “Cadamontadoras buscauma solução,mas todas as fábricas precisam se preparadaspara o retornodos 123 mil trabalhadores”

SILVIA COSTANTI/ VALOR

Marli Olmos
DeSãoPaulo

A indústria automobilística
tem estoquesuficiente para pas-
sar praticamenteo segundo tri-
mestre sem precisar produzir.
Total de 266,6mil veículosestão
parados nas fábricas e conces-
sionárias. Numasituaçãonor-
mal, o volumeseriaesgotado em
menosde 40 dias de vendas.
Mas, comoa pandemiada covid-
19 fez a médiadiáriade vendas
cair 86,5%no fim de março,oes -
toquevai durarmuito mais.
Combasenas vendas de mar-
ço,aAssociação Nacional dosFa-
bricantesde Veículos Automoto-
res (Anfavea) definiu o estoque

comosuficienteparaabrilemaio.
Mas a prevalecero ritmo dos últi-
mos dias, a previsão é otimista.Se
todos os carros estocadosfossem
vendidosnestemês enopróximo
isso dariaamédia diária de 6,
mil unidades.Se levar três meses,
serão4,3milpordia.
Mas podemsobrarcarrosmes-
mo depois de três meses.Na pri-
meirasemanademarçoforamli-
cenciados,emmédia,10,6mil
veículos.Ovolumecaiu para 9,
mil unidadesna terceirasemana
epara1,1milnosúltimosdias.
Dos 266,6mil veículosestoca-
dos, 85,3 mil unidades estãonos
pátios das fábricas.Mas a maior
parte, 181,3mil, está nas conces-
sionárias.O setorobtevejunto
aos órgãosde trânsitopermis-
são para extensão do prazode li-
cenciamento de veículos.
Para opresidente da Anfavea,
Luiz Carlos Moraes, oterceiro tri-

mestre será“extremamente difí-
cil” para aindústria automotiva.
Mas, segundo ele, a entidade não
consegue, por enquanto, refazer
asprojeçõesparaoano.Poroutro
lado,diz,otombodaindústriaes-
tá em linha com o que aconteceu
em outros países. Na China, as
vendas de veículos recuaram 80%
em fevereiro, o mêsmais crítico
da pandemia naquele país. Já em
março, Itália, França e Espanha
registraram, respectivamente,
quedasde85%,72%e69%.
Assim como aconteceu na Chi-
na e ainda ocorre na Europa e
América do Norte, a produção está
completamente parada na Améri-

ca do Sul. As montadoras já come-
çam aanalisar meios de esticar o
período de paralisação. No Brasil,
hoje, estão afastados do trabalho
123milempregadosde63fábricas
de veículos e de máquinas agríco-
lasem40cidadesedezEstados.
A maioria está em férias coleti-
vas. Mas as montadoras começam
abuscarmeiosde esticar as parali-
sações.AGeneral Motors negocia
comos sindicatos a suspensão
temporária dos contratosdetra-
balho, com reduçãosalarial, com
basenaMedidaProvisória936.
“Cadafábrica tem um tamanho
eassoluçõespodemserdiferentes;
todosprecisam, no entanto, pre-

pararosambientesdetrabalhopa-
raavolta”,destacaMoraes.
A produção de veículos regis-
trouquedade21,1%emmarçona
comparação como mesmo mês
de 2019. Já como efeito do início
daparalisaçãodaslinhasdemon-
tagem na última semana,ototal
produzido no mês caiu para 190
mil.Noacumuladodosprimeiros
três meses, aretração ficouem
16%,com585,9milunidades,
Já a vendade veículos caiu
21,8%em marçona comparação
com o mesmomês do ano passa-
do.Foramlicenciadosemtodoo
país 161,6mil carros,comerciais
leves,caminhõeseônibus.Notri-

mestre,houveumaretraçãode
8,1%,com558,1milunidades.
No mercadoexterno, Moraes
lembraque a Anfavea já previa
um ano de retraçãonas exporta-
ções comoreflexoda crise na Ar-
gentina. Mas,com a paralisação
das linhasde produçãonos últi-
mosdiasdemarçoeoimpacto
da disseminaçãodo novocoro-
navírusnos mercadosque com-
pram do Brasil,a situação se
agravou. Foram embarcadosem
março30,8 mil veículos, uma
quedade 21,1%na comparação
comomesmomês do ano pas-
sado.No acumuladodo ano,a
retraçãofoi de 14,9%.

Para Anfavea, bancos ‘asfixiam’setor produtivo


DeSãoPaulo

A indústria automobilística fez,
ontem, duras críticas aos bancos e
defendeu que oBanco Central
crie um mecanismopara tomar
parte do risco e, assim, garantir li-
quidez no setor produtivo.
Ao divulgaros resultados do
setorno trimestre,LuizCarlos
Moraes, presidente da associa-
ção que representaas montado-
ras, aAnfavea, foi o porta-vozde
um assuntoque tornou-se recor-
renteem cadaempresa.
Ele disseque ao invés de oxige-
nar, “os bancosestão asfixiandoo
setor produtivo”. Reclamou dos

“custosabsurdos”de empréstimos
que,aseu ver,ocorrem porqueo
sistematem“medodecalote”.
Por isso, odirigentedefendeu
que oBancoCentraletambémo
BNDEScriemmecanismos “para
que obancose sintaobrigado”a
emprestar a jurosrazoáveis e
“evitarumaquebradeira”.
Moraesdeixouum poucode
ladoo tomcordiale otimista
com que costumava comentara
política econômica antes da
pandemiada covid-19.
Para o dirigente,as tomadas de
decisõesdeveriam ser“muito mais
rápidas e com boa comunicação
com o Congresso”.Disse, também,

que por maismedidas que se to-
memna esfera do governo “isso
nãoestáchegandoàpontafinal”.
Ao referir-se a problemasde
caixa que montadoras, fornecedo-
res e concessionários começam a
enfrentar, Moraes disseque ogo-
verno“não podesubestimaro
problema de liquidez” no setor.
“Estamos brigando por liquidez;
não é por subsídio”, destacou.
Osetor analisaformas de esti-
car operíodode paralisaçãodos
funcionários que estão, na maio-
ria, em fériascoletivas.Até ago-
ra, não se fala em demissões.
Moraesdisse,ainda,que o se-
tor automotivonão pode,desta

vez,contarcomdinheirodasma-
trizes,que tambémsofremcom
os efeitosda pandemia.“Os pre-
sidentesdas montadorasestão
preocupadose assustadospor-
queasempresasperderam90%
daentradaderecursos”,disse.
Consultadasobreascríticasda
Anfavea, aFederaçãoBrasileira
deBancos(Febraban)repetiuno-
ta divulgadano iníciodo dia na
qualdestacaque “os bancoses-
tão sensibilizados com a necessi-
dadedeosrecursoschegaremra-
pidamente na pontae continua-
rãoagindocomofocoparaqueo
créditoseja dadonas mãosdas
pessoasfísicaseempresas”.

Otexto, que apontaprovidên-
ciasjátomadas,comorenegocia-
ção de dívidas,pede,ainda,com-
preensão por tratar-sede “um
processo gradualecomplexo,
quedemandadiversasprovidên-
cias e, em muitoscasos,envol-
vem mudançasregulatórias”, co-
moaliberaçãodecompulsórios.
Tradicionalmente, a Anfavea
reúnea imprensamensalmente.
Ontem,os resultadosdo mês e
do trimestreforam apresenta-
dos por meiode vídeoeMoraes
dedicouo dia paraatender jor-
nalistaspor telefone.
Eleapontouasaçõesdasmonta-
doras paraajudar no combate à

disseminação do novocoronaví-
rus, como consertos de respirado-
res, fabricação de máscaras, ajuda
emhospitaisdecampanhaeofere-
cimento de veículos (pordoação
ou comodato) paraos serviços de
saúdepública transportarem me-
dicamentosepessoasinfectadas.
“O momentoéde priorizara
saúdeda população. Mas tam-
bém éhora de uma conscientiza-
ção de todasas esferasdo gover-
no, bancosesociedadepara criar
mecanismosque permitamà ca-
deiaautomotiva atravessaresse
períodode retraçãocomapre-
servaçãodas empresasedos em-
pregos”,disseMoraes.(MO)

IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


Montadoras terãoimpacto superior a US$ 100 bi em receitas


Peter Campbell
FinancialTimes,deLondres

A paralisação da indústria auto-
motiva na EuropaeAméricado
Nortecustarámais de US$ 100 bi-
lhõesem perdadereceitas se as fá-
bricas em ambas as regiões conti-
nuaremfechadasatéofimdeabril.
NaEuropa,projeta-sequeatéofim
de abrilas vendasperdidas em
unidades vão aumentar para2,
milhões de carros, no valor de€ 66
bilhões, enquantona América do
Norte oimpacto seráde2milhões
de carros, no valorde cercade
US$ 52 bilhões, caso—comose
prevê —aparalisação das ativida-
decontinueemvigoremabril.
Os cálculosforamfeitospor

Ian Henry, dono da firmade
análisesAutoAnalysis, ereúnem
previsõesde produçãoda asso-
ciaçãosetorialdas montadoras
no ReinoUnido, a SMMT.
Henry afirmou que cadasema-
na adicional que as fábricas euro-
peias continuem fechadas custará
àindústriaautomotivamais€8bi-
lhões em valor de produção perdi-
da.NaAméricadoNorte,aquantia
seriadeatéUS$7,5bilhões.
Todas as principais fábricas
das montadoras na Europa e
América do Norteestãofecha-
das, depoisde teremsido parali-
sadasem marçoparaproteger
os trabalhadores epara lidar
com a quedana demanda.
Muitasdas previsões iniciais

das montadoras sobre retomar as
operações no fim de março ou em
abril foram revistas desde então,
commuitas informando que as
fábricas estão fechadas“indefini-
damente”,comoNissan,Ford e
GeneralMotors. “Não vejo ne-
nhumsinal de retorno à normali-
dade antes de maio,no mínimo”,
disseHenry ao “Financial Times”.
Henry projetoua produçãode
cadafábricanesteano levando
em contaos níveisda demanda
eachegadaao mercadode no-
vos modelose, então, subtraiuo
númerode dias perdidoscom a
paralisaçãodas atividades.
Para chegar-se ao valor final, o
número de carrosperdidos foi
multiplicadopelaestimativa de

“preçonaportadafábrica”, queéo
preço do veículo sem ocusto dos
impostosedasconcessionárias.
As montadorasincluírammi-
lharesde trabalhadoresnos pro-
gramassalariaisgovernamentais
e recorrerama dezenasde bi-
lhõesem dívidasparatentarli-
dar com as medidasde confina-
mentodecorrentesdacovid-19.
GeneralMotorse Ford retira-
ram US$ 16 bilhõese US$ 15,4 bi-
lhõesde suaslinhasde crédito.
Na quinta-feira,a alemãDaimler
abriuuma novalinhade crédito
de€12 bilhões,além da que já ti-
nha,de€11bilhões.
Na semanapassada,a Nissan
colocou todosos 6 mil funcioná-
rios da área de produçãona fá-

bricaem Sunderlandem um es-
quemade licença,no qual o go-
vernodo ReinoUnidopaga80%
de seus salários.
A conta financeira da indústria
automotiva continua desconhe-
cida, emboraoexecutivo-chefe
da Volkswagen, Herbert Diess, te-
nha dito que a montadora alemã
se depara com umacontade€ 2
bilhõesporsemanaemcustos.
As vendasde carrosna Europa
Ocidental caíram cercade 70%
em março, segundoos dadosde
cadapaís divulgadosaté agora.
Nos EstadosUnidos,as vendas
de automóveisemmarço foram
as menoresem dez anos.
Os dois mercados preveemde-
clíniosaindamaioresnestemês,

uma vez que os consumidoresse
deparamcomaperspectiva de
semanasde confinamento e que
as concessionáriasforamobriga-
dasafecharasportas.
Apesardofato de que as ven-
das de carrospostergadas pos-
sam ser recuperadas quandoas
restriçõesforemlevantadaspe-
las autoridades europeiase ame-
ricanas,oestadoda economia e
os níveis de empregodeverão
enfraquecer a demanda.
Na China,as vendasde carro
caírama quasezero em determi-
nadoponto da contaminação.
Agora,as vendasestãoem 40%
do que eramantesdas paralisa-
ções,segundoos números
maisrecentesdisponíveis.

RHI Magnesita decide cortar produção


e busca opções para evitar demissões


Marcos de Moura e Souza
DeBeloHorizonte

A multinacionalRHI Magnesita,
líderglobal no negócio de produ-
tos refratários para aindústria, es-
tá buscando alternativas para evi-
tar um processo de demissões
diante da retraçãoda demanda
causadapelapandemiadecorona-
vírus. Um terço de seus funcioná-
riosestánoBrasilenaArgentina.
“A partirdessemês vamosre-
duzira produção, não há dúvida
sobreisso. Os nossosclientessão
globaiseos impactos dessacrise
sãoglobais”,disseaoValoropre-
sidente para a Américado Sul da
companhia,FranciscoCarrara.
Aqui, uma opçãopodeser usar
ferramentas previstas pelo gover-

no federal de redução de jornada
detrabalhoouatédesuspensãode
contrato de trabalho, afirmouo
executivo. Outraopção,são férias
coletivas. “No Brasil, no momento,
nãovamosfazerdemissões”,disse.
ARHIMagnesita—fusãodaaus-
tríaca RHI com a brasileira Magne-
sita—plantas e minasem Minas
Gerais ena Bahia.“Nos Estados
Unidos e na Europa, a companhia
vai usarferramentas locais para
evitardemissões”.afirmou.
A empresa tem entre seus clien-
tessiderúrgicaseasdivisõesindus-
triais do mercado de cimento e vi-
dro. São 14.400 funcionários em
fábricas e minas de magnesita na
China,EUA,Índia,Turquia,Áus-
tria, Irlanda, Alemanha, França,
Argentina, México, Noruegae Es-

Curtas


VendadeimplementosI
Osfabricantesdeimplementos
rodoviáriosjásentiramosefeitos
daparalisaçãodaeconomiacau-
sadapelapandemiadocoronaví-
rus.Osbonsresultadosdoprimei-
robimestre,comaltade4,12%no
período,nacomparaçãocom
2019,foramafetadospelodesem-
penhodemarço.Eterminaramo
trimestrecomquedade0,77%.O
setorregistrounoprimeirotri-
mestrequedade5,71%noempla-
camentodereboquesesemirre-
boques,segmentochamadode
pesado,somando13.171unida-
des,segundoaAssociaçãoNacio-
naldosFabricantesdeImplemen-
tosRodoviários(Anfir).Atéofim
defevereiro,osfabricantesacu-
mulavamaltade1,83%nessetipo
deemplacamento.Aestimativada
Anfir,atéoiníciodemarço,erade
crescimentode10%nesteano

VendadeimplementosII
Nosegmentodeimplementos
leveshouvecrescimentonopri-
meirotrimestrenonúmerode
emplacamentos.Foram12.
unidadesemplacadas,altade
5,2%.Nasomatóriadosdoisseg-
mentos,osetorfechouoprimeiro
trimestrecomentregade25.
unidades,praticamenteestávelna
comparaçãodoomesmoperíodo
de2019,quandoforamemplaca-
dos25.547implementos.AAnfir
reúne138fabricantesinstalados
em17Estados.Porissonãohouve
umacondutaúnicanosetor. Algu-
masfábricasadotaramfériascole-
tivas,enquantooutrasreduziram
aproduçãoparadiminuirosris-
cosdecontaminaçãodostraba-
lhadores.Osetortem45milem-
pregadosdiretos.Opresidenteda
Anfir,NorbertoFabris,defendeu
asmedidasparacombaterovírus.

cócia. Além das do Brasil. Somente
o Brasil e aArgentina congregam,
juntos,5.500trabalhadores.
Segundo Carrara, adireção da
Magnesita —cuja sede fica em Vie-
na —preparaalguns cenáriosque
vão orientar os negócios para este
anosobainfluênciadapandemia.
Esses cenários contemplam a
possibilidade de umaretomada
maisrápida da economia. Con-
templamaindaapossibilidade de
oportunidadesde mercado que
poderão surgir, uma vez que com-
petidores de menorporte não te-
nhamcondiçãode se manter caso
a demandaglobalse mantenha
pormuitotempofraca.Umdosce-
nários tambémé o de reduçãodas
operaçõesdaprópriaempresa.
Oexecutivo não deu maisdeta-

lhes sobre as informações que
constarão nesses cenários.Mas já
reconhece um provável impacto
no faturamento deste ano. Em
2019, aempresa teve umareceita
líquidade€2,9bilhões—6,5%me-
nordoqueade2018.Emdoismer-
cados que aRHI considerachave,
ChinaeÍndia, areceita cresceu
10,9%e2,7%,respectivamente. A
produção total de refratários da
companhia no ano passado foi de
2,1milhõesdetoneladas.
Adespeitodo ambiente incer-
to,os investimentosde R$ 257
milhõesanunciadosno ano pas-
sado nas fábricas que aRHI
Magnesitaoperaem Contagem
(MG)estãomantidos,segundo
Carrara. Oaporteserá feito entre
este ano e o próximo.

CANAL UNICO PDF - ACESSE: T.ME/JORNAISEREVISTAS
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