O Estado de São Paulo (2020-04-08)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 8 DE ABRIL DE 2020 A


Metrópole


Vinícius Valfré
Julia Lindner
Fabrício de Castro / BRASÍLIA


Pela primeira vez, o Brasil re-
gistrou em 24 horas mais de
cem mortes pela covid-19. O
número de casos confirma-
dos saiu de 12.056 para 13.717,
conforme o Ministério da
Saúde. Foram 1.661 novos ca-
sos notificados e as mortes
pelo novo coronavírus passa-
ram de 553 para 667.

Há pessoas infectadas em to-
dos os Estados e só Tocantins
ainda não registrou morte.
Com base na comparação entre
infecções e mortes, o índice de
letalidade está em 4,9%. Apesar
dos números em ascensão, o to-
tal de pessoas infectadas é ain-
da maior. O País enfrenta pro-
blemas de oferta de testes que
comprovam a contaminação
mesmo para os casos considera-
dos suspeitos, e o governo reco-
nhece a subnotificação.
O ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta, afirmou
ontem que fez contato com o
governo da China em busca de


um “esforço comum” para tra-
zer equipamentos de saúde ao
Brasil durante a pandemia do
novo coronavírus, outro garga-
lo do sistema. E voltou a dizer
que, em alguns casos, será ne-
cessário enviar aviões brasilei-

ros para viabilizar o transporte.
Pouco antes, o embaixador da
China, Yang Wanming, contou,
pelo Twitter, que conversou
com Mandetta por telefone e
eles concordaram em reforçar a
cooperação bilateral.

Isolamento. Mandetta negou
ontem que tenha relativizado a
importância do isolamento so-
cial para conter o avanço do no-
vo coronavírus ao definir crité-
rios para que Estados e municí-
pios relaxem regras de distan-

ciamento. Mandetta explicou
que as orientações foram forma-
lizadas a pedido de gestores lo-
cais. Segundo ele, a ideia foi defi-
nir parâmetros, uma vez que as
cidades não são afetadas da mes-
ma maneira. “A última quaren-
tena foi em 1917. Não existia
uma porção de coisas que exis-
tem hoje. Temos cidades com
nenhum caso e paralisia total
de suas atividades.”
As instruções são para que, a
partir de segunda, as regiões tro-
quem o isolamento amplo pelo
seletivo (restrito a grupos de ris-
co) se menos da metade da capa-
cidade de atendimento tiver si-
do comprometida. “Estados e
municípios têm toda a capacida-
de de avaliar seu contexto”, dis-
se o secretário de Vigilância,
Wanderson de Oliveira,
A avaliação e a transição fica-
rão a critério dos prefeitos e dos
governadores. A Procuradoria
Federal dos Direitos do Cida-
dão (PFDC) cobrou ontem ex-
plicações do ministro da Saúde
sobre as fundamentações técni-
cas para esse afrouxamento. /
COLABOROU LUIZ VASSALLO

Roberta Jansen / RIO


Para ajudar na elaboração de po-
líticas públicas de enfrentamen-
to à epidemia de covid-19, o Ins-
tituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) divulgou on-
tem informações sobre saúde
que só sairiam no segundo se-
mestre. Originalmente, as infor-
mações estariam na pesquisa
Regiões de Influência das Cida-
des (Regic) 2018. A Regic é reali-
zada a cada dez anos e apresen-
ta a hierarquia dos centros urba-
nos brasileiros, delimitando re-
giões de influência. A pesquisa
saiu a campo no segundo semes-
tre de 2018 e investigou, entre
outros aspectos, quantos quilô-
metros a população deve per-
correr em média para ter acesso
a serviços de saúde de baixa, me-
dia e alta complexidade.
Os resultados adiantados
mostram que a população preci-
sa percorrer, em média, 72 km
para receber atendimento médi-


co de baixa e média complexida-
de; caso de exames clínicos, ser-
viços ortopédicos e radiológi-
cos, fisioterapia e pequenas ci-
rurgias que não envolvam inter-
nações. No caso do atendimen-
to de alta complexidade, essa
distância praticamente dobra,
chegando a 155 km. “Se uma ci-
dade tem um hospital regional,
isso significa que ele não atende
somente pacientes do municí-
pio onde está localizado, mas
também das cidades vizinhas”,
explica o coordenador de Geo-
grafia do IBGE, Claudio Sten-
ner. “Os dados dessa pesquisa
ajudam a dimensionar o impac-
to disso na saúde.”
Para o gerente de Redes e Flu-
xos Geográficos do IBGE, Bru-
no Idalgo, os dados, quando cru-
zados com outros de saúde, for-
necerão informações importan-
tes para o enfrentamento da epi-
demia. “É possível identificar,

por exemplo, municípios onde
pode ocorrer superlotação das
unidades de saúde”, disse. “Os
órgãos poderão correlacionar a
quantidade de respiradores e ve-
rificar os locais menos assisti-
dos. São inúmeras as possibili-
dades de uso de dados.”
Os números variam muito de-
pendendo da região do País. Ma-
naus, a capital do Amazonas, é a
cidade que recebe pacientes
que tiveram de percorrer as
maiores distâncias. São, em mé-
dia, 418 km para ter acesso a pro-
cedimentos de baixa e média
complexidade. Santa Catarina,
por sua vez, é o único Estado
onde ocorrem deslocamentos
médios inferiores a 40 km, os
menores, com destaque para
Chapecó. Já Goiânia (GO) é o
município que atende pacien-
tes provenientes do maior nú-
mero de cidades, 115 no total.
Nas Regiões Sul e Sudeste, a
média dos deslocamentos para
procedimentos de alta comple-
xidade fica em 100 km. Nessas
regiões, os fluxos se dividem en-
tre as capitais e cidades de me-
nor porte no interior. No Nor-
deste, por sua vez, os tratamen-
tos de alta complexidade estão
concentrados nas capitais.
Na semana passada, o IBGE
já havia anunciado uma parce-
ria para implementar uma ver-
são inédita da PNAD contínua.
“Planejamos liberar também da-
dos sobre os locais de compra
da população para contribuir
com as ações de abastecimen-
to”, adiantou o diretor de Geo-
ciências do IBGE, João Bosco
de Azevedo.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Pela 1ª vez, País registra mais de cem


mortes em 1 dia; nº de óbitos chega a 667


Há 13.717 infectados em todos os Estados e só Tocantins ainda não registrou nenhuma morte pelo novo coronavírus; ministro afirmou


ontem que fez contato com o governo da China em busca de um ‘esforço comum’ para trazer equipamentos de saúde para o Brasil


lTrabalhadores de diferentes
regiões do País têm recorrido à
Controladoria-Geral da União (C-
GU) e aos canais de ouvidoria do
governo federal para denunciar
empresas – públicas e privadas



  • que estariam obrigando funcio-
    nários a atuar mesmo com sinto-
    mas do novo coronavírus. Do dia
    20 de março a 2 de abril, 699 re-
    presentações contra empresas


chegaram ao órgão de controle.
As denúncias também englobam
manifestações contra empresas
que continuam em funcionamen-
to após a vedação de aglomera-
ções, ou que não cumprem as
recomendações do Ministério da
Saúde de prevenção da covid-19.
O governo não divulgou a lista.
A CGU diz que todas as denún-
cias são levadas ao conhecimen-
to do alto escalão do governo fe-
deral, para subsidiar as autorida-
des na “tomada de decisões es-
tratégicas relativas ao enfrenta-
mento” da pandemia. A CGU tem
feito um compilado de denúncias

que chegam de todos os órgãos
e entidades do Poder Executivo
federal por meio da Plataforma
Fala.BR.
A CGU também recebeu 177
denúncias contra hospitais. A
maioria das representações são
feitas pelos próprios profissio-
nais de saúde, que reclamam da
falta de uso de equipamento de
segurança adequado e da “não
notificação” às autoridades com-
petentes de casos positivos. Se-
gundo o órgão, todas as manifes-
tações que envolvam hospitais
são encaminhadas à Ouvidoria
do SUS. / PATRIK CAMPOREZ

l Censo 2021
No mês passado, o Instituto Bra-
sileiro de Geografia e Estatística
já havia anunciado o adiamento
do Censo Demográfico, feito a
cada dez anos, para 2021 diante
da evolução da covid-19.

Brasileiro percorre, em


média, 72 km para ter


atendimento médico


Em artigo,


Mandetta prevê


aumento de casos


Apesar de restrição, ônibus e trens têm alta de passageiros. Pág. A10 }


DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Mandetta. ‘Temos cidades com nenhum caso e paralisia total de suas atividades’, afirmou

Exigir trabalho,


mesmo com covid,


leva a 699 denúncias


No caso do serviço


de alta complexidade,


essa distância dobra,


conforme levantamento


nacional do IBGE


O ministro Mandetta assinou
ontem um relatório científico
com um grupo de cientistas e
técnicos do ministério em que
reforça a importância do isola-
mento social para combater o
avanço do novo coronavírus no
País. E alerta que, mesmo com
as medidas que vêm sendo ado-
tadas, “um aumento nos casos
de covid-19 é esperado nos
próximos meses”.
O texto tem como primeiro
autor o infectologista Julio Cro-
da, pesquisador da Universida-
de Federal do Mato Grosso do
Sul (UFMS) e da Fiocruz. “Vá-
rios modelos matemáticos mos-
traram que o vírus potencial-
mente estará circulando até
meados de setembro, com um
pico em abril e maio”, escrevem
os autores. / GIOVANA GIRARDI
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