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A14 QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Esportes
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
CARLOS GREGÓRIO JR./VASCO‘Revi a final da
Copa de 1970 nesta
quarentena’
‘Os meus netos
sempre pedem
para eu me cuidar’
'Aproveito para
fazer trabalhos
domésticos'
‘Cuido da minha
horta, corro no
quintal e me cuido’
DEPOIMENTOS
‘Tenho uma netinha
e não posso nem
abraçá-la’
]Mais um ídolo do Vasco nos anos
1990 está de volta ao clube. Carlos
Germano foi anunciado ontem como
treinador de goleiros. Ele se juntará aRamon Menezes, o novo treinador, e
a Antonio Lopes, novo coordenador
técnico. Carlos Germano é o segundo
jogador que atuou mais vezes pelo
Vasco – 632 partidas. E ele já havia
trabalhado como preparador de golei-
ros do time, entre 2008 e 2014.Ciro Campos
Wilson Baldini Jr.
Emerson Leão, Zé Maria, Clo-
doaldo, Muricy Ramalho e Cé-
sar Maluco cravaram seus no-
mes na história dos grandes
times de São Paulo. Eles fize-
ram parte de times eternos e
travaram duelos inesquecí-
veis entre si. São todos da
mesma geração. Atualmente,
os cinco têm mais de 60 anos
e fazem parte do grupo de ris-
co ao novo coronavírus, mas
demonstram a mesma dispo-
sição e garra que os tornaram
ídolos em seus respectivos
clubes para combater a co-
vid-19 nesse momento. A “Ve-
lha Guarda” do futebol se pro-
tege e respeita o isolamento.
Assim como dentro das qua-
tro linhas, os cinco têm estilos
diferentes para lidar com os
dias de confinamento. Aos 70
anos, Leão, goleiro do Palmei-
ras por uma década (1968 a
1978) e da seleção brasileira em
quatro Copas do Mundo (1970,
1974, 1978 e 1986), mantém seu
estilo regrado de dormir e acor-
dar cedo, além de manter a for-
ma ao cortar a grama e limpar a
piscina. “Moro em casa, então
tenho uma liberdade maior nes-
se momento de confinamen-
to”, disse ao Estado.
Zé Maria, lateral-direito do
Corinthians de 1969 a 1983 e da
seleção nas Copas de 1970 e
1974, continua com a mesma de-
terminação dos tempos de joga-
dor para cuidar da horta e darsuas “dez ou 12” corridinhas to-
dos os dias no quintal de casa.
“Não estou acostumado a ficar
parado”, explica o Super Zé,
prestes a completar 71 anos.
Clodoaldo, substituto do ini-gualável Zito na cabeça de área
do Santos, utilizou parte do
tempo de isolamento social pa-
ra rever a final da Copa de 1970,
no México, mostrada na TV, e
se divertir com o gol da seleçãomarcado por Carlos Alberto
Torres no final, quando o Brasil
venceu a Itália por 4 a 1. “Achei
bonita a jogada que fiz no últi-
mo gol”, comentou o volante
com o Estado , sempre muitosimples, ao relembrar o espeta-
cular momento no qual driblou
quatro italianos.
Se não fossem alguns proble-
mas físicos, Muricy, com certe-
za, seria um dos grandes astros
do futebol brasileiro pós-Pelé.
Hoje comentarista do SporTV,
o ex-meia cabeludo do São Pau-
lo, campeão paulista de 1975, so-
fre com a distância imposta à
neta Maria Clara e aos filhos.
“Estou há semanas no meu apar-
tamento, só saio um pouco para
fazer atividade física em lugar
que não tem ninguém.”
Já Cesar Maluco, um dos
maiores artilheiros da história
do Palmeiras e titular da segun-
da “Academia”, é o mais vetera-
no do grupo. Aos 74 anos, sente
falta do dia a dia no Palestra Itá-
lia (como ainda chama o Allianz
Parque), onde exerce sempre
com entusiasmo o papel de con-
selheiro do Alviverde. As reu-
niões acabaram e o clube está
fechado. “Eu fico sempre em ca-
sa. Vou só ao banco e volto.”
Portanto, ao contrário de
muitos jovens, os “vovôs” do fu-
tebol brasileiro dão uma lição
de cidadania, bom humor, criati-
vidade e força de vontade para
continuar em um jogo diante de
um adversário invisível, o novo
coronavírus, mas que será ven-
cido, segundo todos eles.Isolamento. Ex-jogadores com mais de 60 anos enfrentam o distanciamento social cuidando da casa e assistindo a jogos antigos na TV
Em meio à pandemia do corona-
vírus, a International Board (I-
fab, na sigla em inglês), órgão
que regulamenta as regras do fu-
tebol, anunciou ontem algumas
alterações que deverão ser se-
guidas pelos árbitros a partir do
dia 1.º de junho. A mudança
mais importante é na regra da
mão na bola, mas também há
novas determinações relaciona-
das à cobrança do pênalti, ao im-
pedimento e a VAR.
A partir de junho, o toque na
junção do braço com a axila, ou
seja, na região da manga curta
da camisa, não será mais consi-
derado infração. “Com a finali-
dade de determinar com clare-
za a infração de mão, se estabele-
ce o limite do braço no ponto
inferior da axila”, justificou a
Board, por comunicado.
Já o toque de mão involuntá-
rio no ataque só deve ser assina-
lado caso leve a um gol ou a uma“ocasião manifesta de gol”. Es-
sa determinação é totalmente
diferente da que está em vigên-
cia, que considera falta qual-
quer toque da bola na mão em
jogada de ataque.
Nas cobranças de pênalti, os
árbitros não deverão voltar a co-
brança, caso os goleiros se
adiantem, se a bola for na trave
ou para fora, desde que o juiz
entenda que a movimentação
não interferiu na batida.
Ou seja, só há certeza de que
o lance será invalidado se a defe-
sa for feita. O arqueiro que se
adiantar deverá ser advertido,
mas não receberá mais o cartão
amarelo.
O VAR também não foi esque-
cido. A International Board de-
terminou que “sempre que o in-
cidente revisado seja suscetível
a considerações subjetivas, o
árbitro deve revisá-lo no moni-
tor à beira do campo”.
A regra do impedimento tevena realidade um “esclarecimen-
to’’: o atacante não deverá ser
considerado impedido se a bola
vier de um defensor que a tocou
com a mão de maneira proposi-
tal. Nesse caso, a jogada deveráprosseguir normalmente em
vez de ser marcada falta a favor
do ataque.
Mas a regra do impedimento
deverá passar por outras mu-
danças a médio prazo. A Inter-national Board deixou no ar es-
sa possibilidade ao admitir que
são necessárias mudanças para
favorecer o ataque e aumentar a
quantidade de gols.Prazo. As competições que co-
meçam (ou começariam) antes
de 1.º de junho podem escolher
se implementam as orienta-
ções neste ano ou apenas na
próxima edição. Esse seria, por
exemplo, o caso do Campeona-
to Brasileiro, que teria início em
2 de maio se o futebol não esti-
vesse paralisado.
Os torneios interrompidos
por conta da pandemia (Esta-
duais e Copa do Brasil, no fute-
bol nacional, e Nacionais, Liga e
Copas na Europa, por exemplo)
poderão optar, na retomada,
por concluir a disputa com as
regras atuais ou adotar de ma-
neira imediata as normas que
passarão a vigorar oficialmente
no próximo dia 1º de junho.Clodoaldo, 70 anos
EX-JOGADOREstou em casa e aproveitei para ver
algumas reprises de jogos antigos. O
último que acompanhei foi a final da
Copa de 1970, acredita? Achei bonita
a jogada que fiz no último gol, o do
Carlos Alberto (risos). Gostei que na
transmissão os comentários eram do
meu irmão, o Gerson, o “Canhotinha
de Ouro”. Também vi um Santos e
Portuguesa em que dei um passe pa-
ra o Pelé matar no peito e fazer um
golaço. Estou gostando de rever jo-
gos, porque eu relembro de lances e
de momentos que tinha esquecido.
A quarentena tem sido difícil, por-
que estamos acostumados com a cor-
reria do trabalho e aí de repente pre-
cisa ficar em casa o tempo todo. Tem
de se cuidar. Nas últimas semanas eu
não tenho recebido visitas e só falo
com as minhas duas filhas pelo tele-
fone. Quero que acabe logo esse pe-
ríodo, para voltar a ter futebol. Sinto
falta, porque o esporte preenche os
meus momentos de lazer.César Maluco, 74 anos
EX-JOGADOREu fico em casa. Não tenho nem ido
ao Palmeiras, porque não pode. Está
fechado. Até perdi esses dias dois
grandes amigos que tive no futebol,
o Serginho e o João Marcos. Eles não
faleceram pelo coronavírus, mas infe-
lizmente não pude ir ao velório dar
um abraço nos familiares porque não
pode ter reunião. Está difícil ficar
sem futebol na TV. Gosto de assistir
uma partida, até para distrair. Sinto
falta de ir ao Palestra Itália, de parti-
cipar da política do Palmeiras, das
reuniões do Conselho Deliberativo.
Só que com a pandemia as opções
de coisas para fazer são poucas. Ago-
ra só fico vendo filme junto com
dois netos. Eles moram comigo. Até
descobri que tem essas coisas novas
para assistir, como Netflix e Now.
Eu tenho mais dois outros netos,
que são os mais velhos. Eles sempre
me ligam e falam: “Vô, se cuida, por
favor. Não saia de casa”. É uma doen-
ça invisível. Tem de se cuidar.Emerson Leão, 70 anos
EX-JOGADOR E TREINADOREu sempre me exercitei e aproveito
este momento para fazer trabalhos
domésticos. Ajudo a cortar a grama,
a limpar a piscina e dou comida para
os meus passarinhos, mas eles não
estão na gaiola. São os que vêm me
visitar no quintal todas as manhãs.
Eu sempre dormi cedo, levanto cedo
e busco ter uma vida normal.
Eu fiquei muito triste nos últimos
dias, pois tive três notícias bastante
ruins. A morte dos ex-companheiros
de Palmeiras João Marcos e Sergi-
nho, além de uma imagem do Marco
Antônio (lateral-esquerdo na Copa
de 1970) alcoolizado em um bar no
Rio de Janeiro.
Essas repetições de jogos antigos
são muito legais para o público jo-
vem. São diferentes dos de hoje, pois
mostram equipes ofensivas, que pro-
curavam o gol o jogo todo. Também
é bom rever Guga, Ayrton Senna,
Emerson Fittipaldi, importantes na
história do esporte brasileiro.Zé Maria, 70 anos
EX-JOGADORO momento é muito complicado,
mas é preciso ser comedido, equili-
brado. Tanto em casa como na políti-
ca do País, que precisa seguir as de-
terminações dos órgãos competen-
tes. Eu trabalho na Fundação Casa e,
por causa da minha idade (71 anos),
fui liberado para ficar em casa.
Cuido da minha horta, corro no
quintal, me cuido, afinal vou fazer 71
anos em maio. É momento de solida-
riedade, de tentar falar com familia-
res e amigos. Falo com o Rivellino,
Ado, Geraldão (ex-companheiros de
Corinthians). Me preocupo com eles
e sei que eles se preocupam comigo.
Acompanho jogos antigos nos ca-
nais de esporte. Na quinta-feira, vi
Brasil x Holanda, de 1998. Mesmo
sendo uma outra geração, gosto de
acompanhar. Também teve um docu-
mentário do Tostão, muito bem fei-
to. Essas transmissões nos ajudam a
passar o tempo e também colaboram
para matar a saudade.Muricy Ramalho, 64 anos
EX-TÉCNICO E COMENTARISTA
Estou no meu apartamento com a
minha mulher, só saio um pouco pa-
ra fazer atividade física em lugar que
não tem ninguém. Tenho de cuidar
da minha saúde. Tenho três filhos,
que estão longe de mim agora. A gen-
te só fica no FaceTime falando. Mas
não é igual, porque não tem o abraço
e o carinho. Tenho uma netinha de
quase três anos e não posso nem
abraçá-la. Temos de segurar a onda.
Só deixei de ser treinador porque
levei dois grandes sustos (uma diver-
ticulite em 2015 e uma crise de arrit-
mia cardíaca no ano seguinte). Está
ruim, como para todo mundo. A gen-
te está sempre acostumado a viajar,
encontrar os amigos e trabalhar. En-
tão é muito estranho estar isolado. É
uma rotina difícil para todos, muito
dura. A gente tem de entender que é
perigoso. Vale o sacrifício. Eu e mi-
nha senhora estamos no grupo de
risco, pela idade. É difícil esta situa-
ção e também ficar sem futebol.
Carlos Germano volta ao
Vasco para treinar goleirosHÉLVIO ROMERO/ESTADÃO–13/3/‘Vovôs’ da bola respeitam quarentena
Tempos difíceis. Emerson Leão passa os dias envolvido com afazeres domésticos; ele ficou abatido com a perda de amigosDANIEL AUGUSTO JR. / AG. CORINTHIANS–15/3/Futebol. A partir de 1º
de junho, quando contato
ocorrer na região da
manga da camisa, lance
será considerado legal
Regra muda e toque
da bola no ombro
não será mais falta
Segue o jogo. Toque no ombro passará ser lance legal.