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A2 Espaçoaberto QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Quando a Europa fechou as
fronteiras para conter a propa-
gação do coronavírus, os maio-
res produtores rurais da Fran-
ça deram o alarme. A mão de
obra de outros países da qual
eles dependem para a colheita
da maior parte dos alimentos
que ela consome estava impe-
dida de viajar.
Na Grã-Bretanha, os cultiva-
dores lutam para encontrar
trabalhadores para a colheita
de framboesas e batatas. E na
Itália, mais de 25% da safra de
morangos, feijão e alface pro-
vavelmente não terá quem a
colha e deve apodrecer.http://www.estadao.com.br/e/colheitaN
a terça-feira o minis-
tro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta,
deu mais uma de suas coleti-
vas diárias. Mostrou-se olím-
pico, seguro de seu papel e de
seu cargo. Mandetta tem hoje
mais estabilidade do que Jair
Bolsonaro. O presidente po-
de demiti-lo – os generais
não deixam.
A impotência presidencial
tem um quê de conto de bru-
xas. O presidente vai fazer a
barba de manhã e pergunta ao
reflexo de si mesmo: “Espe-
lho, espelho meu, existe al-
gum ministro mais querido
do que eu?”. O espelho res-
ponde, dá o nome e o endere-
ço, mas Bolsonaro, corroído
de ciúme, não tem poder para
expulsá-lo da pasta. Está redu-
zido ao papel de presidente-
café-com-leite-muito-embo-
ra-bravateiro. Sai enfezado do
Palácio da Alvorada e se põe a
berrar sobre a crueldade mi-
nistricida de sua caneta, uma
senhora canetona, que é
maior do que a caneta dos ou-
tros (ele e sua obsessão com
símbolos fálicos).
Palavras ao vento. Contra
Mandetta a caneta do narcisis-
ta que desconhece a beleza va-
le menos do que uma aspirina.
O sereno ministro da Saúde sa-
be disso e, por saber, tripudia.
Na terça-feira, em sua coleti-
va, disparou recados ácidos –
ainda que elegantes – contra o
chefe que não o chefia. Entre
outros venenos, amaldiçoou
as fake news (gênero narrativo
adorado pelo café-com-leite)
e as redes sociais (o ambiente
predileto do estadista avesso
à máquina estatal).
“As fake news , esse final de
semana, fizeram um gráfico
igual àqueles gráficos da epide-
mia”, diagnosticou o ministro.
“ Fake news foi o que mais su-
biu, subiu bem mais que o nú-
mero de casos ( de covid-19 ).”
Mandetta aproveitou para
denunciar que circulam perfis
falsos como se fossem dele e
avisou com total explicitude:
“Não sou de mídia social, não
gosto; gosto do mundo real.
Vou trabalhar essa epidemia
no mundo real. O que eu tiverque falar, não acreditem em
nada que não seja falado aqui
( nas coletivas diárias, diante
das câmeras de TV ). (...) Eu
não posto nada, eu não co-
mento nada, eu não faço nada
nesse mundo virtual”.
O que ele está dizendo, em
suma, é que adota o estilo
oposto ao do chefe que não é
chefe. Este, abduzido pelas
fantasmagorias imaginárias
do seu conto de bruxas, acha
que governa pelo Twitter, pe-
las lives e pelo histrionismo
de suas milícias virtuais. Em
sua fantasia de filme de ter-
ror, alimenta-se da bajulação
dos seus fiéis fascistinhas de
WhatsApp, que sabotam o iso-
lamento e insultam os chine-
ses com ofensas racistas. Bol-
sonaro substitui a burocracia
governamental pelos urros
virtuais dos seguidores e acre-
dita que assim deixa para trása “velha política”.
O resultado prático de seu
delírio é muito simples e pal-
pável: em cada um de seus
atos acentua a dissolução dos
regramentos da administra-
ção pública em favor da dinâ-
mica dos “engajamentos”, das
“curtidas” e do irracionalis-
mo das redes. Para ele, os al-
goritmos opacos dos conglo-
merados globais que monopo-
lizaram as comunicações na
era digital são a mais perfeita
tradução da vontade do povo.
Sim, é uma sandice, mas é nes-
sa sandice que ele acredita. O
triunfo de sua crença acarreta-
rá a derrocada do Estado, da
República, da política e da de-
mocracia. Bolsonaro gosta de
fake news porque vê o Estado,
o governo, a República, a po-
lítica e a democracia como
um embuste a ser destruído.
Ele e as fake news nasceram
um para o outro. Nasceram
um do outro.
Razoável, o ministro da Saú-
de rejeita as doideiras do pre-
sidente e veste o colete doSUS para apostar no caminho
inverso. Com razão, parece
entender que as fake news con-
centram uma ameaça tão ou
mais grave do que a pande-
mia. O poder público fica anu-
lado se não puder contar com
informações baseadas na ciên-
cia e se essas informações
não servirem de base para o
debate público e para a orien-
tação das pessoas e da socie-
dade. Sem fontes confiáveis e
um sistema organizado de co-
municação, não há governan-
ça para a crise.
A indústria das fake news –
que hoje no Brasil está a servi-
ço do bolsonarismo – opera
para minar a confiança do pú-
blico nas autoridades, na po-
lítica, na universidade, na
ciência e na imprensa. No lon-
go prazo, essa indústria fabri-
ca fanatismo e clamor por
uma tirania de extrema direi-
ta no Brasil. No curtíssimo
prazo, amplifica o número
das mortes que virão com o
coronavírus e agrava a reces-
são econômica que virá de-
pois. Isso mesmo. Em sua nar-
rativa perversa, as fake news
do bolsonarismo dizem defen-
der a economia e os empre-
gos, mas, ao patrocinarem a
explosão do número de casos
e o colapso do sistema de saú-
de, produzirão a desagrega-
ção social, com violência e cri-
minalidade ainda mais genera-
lizadas, e isso tornará mais im-
provável qualquer recupera-
ção econômica.
Será difícil enfrentar essa in-
dústria, que conta com o
apoio esgoelado do presiden-
te-café-com-leite. Ele tem
pouco poder (não consegue
nem falar grosso com o minis-
tro da Saúde), mas a indústria
em que ele joga suas fichas
tem uma capacidade gigantes-
ca de produzir estragos. E,
por enquanto, não há vacina
contra a usina de fraudes de-
sinformativas com que o pre-
sidente e suas falanges robóti-
cas vêm infestando a socieda-
de brasileira.]
JORNALISTA, É PROFESSOR
DA ECA-USPCientistas procuram es-
pécies que possam ocultar a
medicina do futuro.http://www.estadao.com.br/e/florestaEUROPA
Fronteiras fechadas ameaçam colheita
Enquanto o coronavírus
obriga todo mundo a se es-
conder, Woolsey percorre
as estradas dos EUA ao lado
de seu cachorrinho Rusty.http://www.estadao.com.br/e/caminhoneirol“Biden não tem chances em uma eleição contra Trump. Sanders era a
única esperança dos democratas.”
BRANDON MENEGONl“Perdeu as prévias para a Hillary ( Clinton ) em 2016 e agora para o
Biden. Esse aí é o Ciro Gomes norte-americano.”
ANTON SAGl“Uma pena, os EUA precisam desesperadamente de alguém como
Sanders na presidência.”
HILTON PERANTUNESl“Qualquer um que disputar contra Trump não tem chances. A onda
conservadora tem vencido todas.”
RAFAEL TEODOROCOMENTÁRIOSCONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITAProjeto nasceu em 2019
com o objetivo de ensinar
educação financeira e inves-
timentos para moradores de
comunidades.http://www.estadao.com.br/e/investidorEspaço Aberto
O
Brasil enfrenta os efei-
tos sociais e econômi-
cos da pandemia de co-
vid-19 em ambiente plenamen-
te democrático, com os Pode-
res Legislativo e Judiciário as-
sumindo papel central na ges-
tão da crise, além de uma ação
firme e tempestiva dos gover-
nos estaduais. No âmbito fede-
ral, as manifestações hetero-
doxas da Presidência da Repú-
blica, contrárias ao isolamen-
to social, vêm sendo remedia-
das pela capacidade de ação
do Parlamento e pela tempe-
rança do Supremo Tribunal
Federal (STF). Nosso regime
democrático, que se baseia na
divisão dos Poderes da Repú-
blica, salvou muitas vidas
quando assumiu elevado grau
de protagonismo no combate
ao novo coronavírus.
De todo modo, as falhas nos
entendimentos entre as insti-
tuições do poder federal em
torno das ações contra o pató-
geno é preocupante. Assim
que a Organização Mundial da
Saúde (OMS) estabeleceu que
o vírus representa uma pande-
mia, lideranças da área econô-
mica do Executivo federal
apressaram-se a dizer que al-
guns poucos bilhões seriam su-
ficientes para exterminar os
efeitos da doença. O governo
chegou até a defender a Pro-
posta de Emenda à Constitui-
ção n.º 186, a PEC da Emergên-
cia Fiscal. Um equívoco, tendo
em vista que a medida impedi-
ria contratar médicos, criar au-
xílios financeiros emergen-
ciais para beneficiar grupos
vulneráveis, bem como linhas
especiais de crédito para sal-
var empresas. Tivesse sido
aprovada, estaríamos diante
de uma verdadeira tragédia sa-
nitária, social e econômica.
Em artigo publicado neste
espaço fiz críticas à PEC 186,
remando contra a campanha
de outros economistas e mos-
trando que a medida poderia
criminalizar componentes im-
portantes da política fiscal ao
vedar a criação de despesas
obrigatórias e renúncias tribu-
tárias. Tivemos sorte de ela
não ter sido aprovada antes
da proliferação da covid-
em todo o País.
Creio que o Congresso Na-
cional vem exercendo suas
funções institucionais de for-
ma tempestiva e enérgica. Na
fase inicial da crise o Senado
assumiu a responsabilidade de
anunciar um projeto de decre-
to legislativo para reconhecer
a situação de calamidade, flexi-
bilizando as regras e os limites
da Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF). Não havia outro
caminho, dadas as incertezas
e a necessidade de elevar as
despesas do Orçamento em ca-
ráter extraordinário e urgente.
Essa iniciativa forçou o gover-
no a abandonar a ideia de alte-
rar as metas fiscais prevista
em lei, levando-o a enviar men-
sagem presidencial à Câmara
dos Deputados que foi conver-
tida no Decreto Legislativo n.º
6, suspendendo a necessidade
de se atingir qualquer meta fis-cal no ano corrente.
A Câmara, por sua vez, pro-
moveu uma arrojada articula-
ção política para aprovar a
PEC do “Orçamento de Guer-
ra”, que hoje tramita no Sena-
do. A medida poderá garantir
ao Executivo segurança jurídi-
ca para empreender uma po-
lítica fiscal expansionista, in-
dubitavelmente necessária pa-
ra lidar com os efeitos econô-
micos e socais da pandemia.
As novas regras constitucio-
nais criariam uma espécie de
orçamento público extraordi-
nário, baseado na maior flexi-
bilidade da gestão fiscal. A pro-
posta também ampliaria os
instrumentos de intervenção
do Banco Central (BC) na eco-
nomia, sem dispensar a devi-
da prestação de contas ao Con-
gresso. Aliás, espero que se-
jam soterrados todos os proje-
tos de lei que conferem auto-
nomia política ao BC, especial-
mente se aprovada essa PEC.
O acúmulo de atribuições con-
feridas ao banco implode qual-
quer argumento favorável à so-berania política da nossa auto-
ridade monetária.
Essa atuação salva-vidas do
Parlamento está sintonizada
com recentes decisões toma-
das pelo STF, instituição es-
sencial do nosso regime demo-
crático, que vem atuando com
temperança. Sem titubear, a
Suprema Corte concedeu na
semana passada uma medida
cautelar na Ação Direta de In-
constitucionalidade 6.357, em
favor da Advocacia-Geral da
União, que excepcionalizou a
incidência de diversas restri-
ções da LRF e da Lei de Diretri-
zes Orçamentárias deste ano.
Nessa linha, o STF também
suspendeu a campanha publi-
citária do governo “O Brasil
não pode parar”, ao conceder
cautelar na Arguição de Des-
cumprimento de Preceito
Fundamental 669. Financiada
com recursos públicos, a pro-
paganda contrariava orienta-
ções da OMS e do próprio Mi-
nistério da Saúde – um dispa-
rate carregado de ideologia e
populismo, sem o menor ri-
gor técnico.
Não se pode deixar de des-
tacar aqui o bom combate
dos técnicos do Ministério da
Saúde, que têm atuado de ma-
neira responsável em prol da
integridade física das pes-
soas. Nossos heróis – médi-
cos e demais profissionais
que lidam diretamente com a
covid-19 – serão sempre lem-
brados e homenageados.
A guerra contra a pandemia
do coronavírus constitui um
desafio colossal para nosso
povo. Nossas ações devem ter
o respaldo técnico da comuni-
dade científica e dos organis-
mos internacionais. Para isso
precisamos afastar-nos do au-
toritarismo e da demagogia
fundamentada em fórmulas
mágicas que supostamente
trariam soluções integrais e
rápidas, simplificando barba-
ramente a realidade.
A saúde no Brasil depende
da democracia plena durante
a calamidade, e não da calami-
dade instalada na democracia.]
SENADOR (PSDB-SP)PUBLICADO DESDE 1875LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIACENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
[email protected]
CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-COVID-
Caminhoneiro viaja
sem data para voltar‘Favelado Investidor’
dá dicas contra a criseCOMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:TERRY RATZLAFF/THE NEW YORK TIMES MURILO DUARTE]
José Serra
Tema do dia
Engenheiros estão criando
versões de código aberto de
equipamentos médicos.http://www.estadao.com.br/e/saudeDemocracia
na calamidade
Precisamo-nos afastar
do autoritarismo e da
demagogia com base
em fórmulas mágicas...O ministro, o chefe do ministro
e a pandemia de ‘fake news’
Sem fontes confiáveis e
um sistema organizado
de comunicação não há
governança para a criseAMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
CEP 02598-900 – SÃO PAULO - SP
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E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
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LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.
Democrata Bernie
Sanders desiste de
candidatura nos EUA
Senador perdeu força ao longo da
campanha e, agora, o ex-vice-presidente
Joe Biden deve ser adversário de Trump]
Eugênio BucciMARIA CONTRERAS COLL/THE NEW YORK TIMES E-INVESTIDORNo estadao.com.br
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pelo coronavírus.