O Estado de São Paulo (2020-04-11)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-4:20200411:
B4 Economia SÁBADO, 11 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


ADRIANA


FERNANDES


É


falso o dilema entre salvar vi-
das e ter cuidado com as con-
tas públicas. O cofre não está
fechado para o resgate dos brasilei-
ros que estão sem poder trabalhar
devido ao isolamento recomenda-
do por autoridades de saúde.
Quem tenta colocar carimbo de
insensível naqueles que defendem
o cuidado com as contas públicas
em tempos de pandemia da covid-
19 não está vendo ou não quer ver o
problema sob uma visão mais am-
pla. Esse tipo de crítica só serve para
lacração barata nas redes sociais.
Mais uma opção pela polarização de
apenas dois lados: o mau e o bom;
adversários e aliados do governo
Jair Bolsonaro.
Quem defende o zelo fiscal tam-

bém deve e está defendendo a expan-
são das despesas, do endividamento
público, para salvar vidas humanas, so-
correr os mais vulneráveis, os infor-
mais, o emprego dos trabalhadores
com carteira assinada e a sobrevivên-
cia das empresas.
Deve-se criticar a velocidade das me-
didas e a briga política do presidente
Jair Bolsonaro com governadores e
congressistas. No Brasil, essa disputa
foi acirrada e chegou a níveis perigosos
em tempos de crise. E já custa caro.
A inércia do governo no início da pan-
demia, a pressão para o afrouxamento
do isolamento, os entraves burocráti-
cos num País onde tudo é muito amar-
rado, a começar pela legislação retarda-
ram o socorro. Tudo isso é verdade.
Mas a despeito de todos esses proble-

mas, o governo federal, governadores e
prefeitos estão tomando mais medidas
em único mês do que em muitos anos.
As regras fiscais foram e estão sendo
alteradas para abrir espaço para mais
gastos. O que se fez já custa o tamanho
de uma reforma da Previdência, que de-
morou anos para ser aprovada.
O cheque para o socorro está aumen-
tando e vai crescer mais com o resgate
do Banco Central via compra de dívi-
das das empresas.
A medida está na Proposta de Emenda
à Constituição (PEC), batizada de “orça-
mento de guerra”, que deverá ser aprova-
da pelo Senado na próxima semana.

A PEC é um marco, sem dúvida. Foi
construída e votada rapidamente na Câ-
mara, com votação para lá de expressi-
va. Histórica. Muitos que a criticavam,
no início, estão aos poucos revendo po-
sição. A emenda constitucional retira
as amarras para abrir o cofre. E, sim,
busca salvar vidas com mais dinheiro

para ações de combate a covid-19.
A PEC é um cheque em branco dado
a Bolsonaro para os gastos? É. Mas tem
seus mecanismos de controle durante
e após a crise.
A ideia da PEC foi negociada e levada
adiante pelo presidente da Câmara, Ro-
drigo Maia (DEM-RJ). Com articula-
ção, ele reuniu apoio e colaboradores
políticos para aprová-la em tempo re-
corde, enquanto a equipe econômica
se debatia com a burocracia das regras
fiscais, com temor de punições futuras
pelos órgãos de controle. Ninguém vai
conseguir tirar esse mérito dele. Muito
menos seus adversários mais raivosos
no centro do poder da capital federal.
Mas, passada uma semana da vota-
ção da PEC, a mesma Câmara presidi-
da por Maia deu asas para construir
uma proposta de socorro emergencial
aos Estados e municípios com uma
série de concessões aos governadores
que vão muito além das necessidades
diante da covid-19.
Aproveitaram a crise para tentar re-
solver problemas antigos e, em alguns
casos, muito específicos, como o per-
dão de dívida passada. Não é hora para
isso. Uma nova renegociação com os

governos regionais está a caminho,
para depois da crise. Mas é preciso
fazê-la com coordenação.
A votação do projeto foi adiada pa-
ra a próxima semana em meio à guer-
ra de números entre equipe econô-
mica, Câmara e economistas que
alertaram se tratar de uma “bomba
fiscal” para os próximos anos.
Nesse espaço conflagrado, os
críticos correm para taxar os defen-
sores da saúde das finanças públicas
como os vilões do pedaço.
Isso não quer dizer que os Esta-
dos e prefeituras não têm que rece-
ber socorro do governo federal. Es-
tá demorando. Eles não podem emi-
tir dívida no mercado para se finan-
ciar como o Tesouro Nacional.
O cheque em branco da PEC é pa-
ra isso. Bolsonaro e o seu ministro
da Economia, Paulo Guedes, terão
que aumentar as transferências vo-
luntárias para os governadores e pre-
feitos. Por outro lado, a Câmara tem
que desarmar urgentemente a bom-
ba que começou acionar.

]
É JORNALISTA

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Fabrício de Castro/ BRASÍLIA


Em videoconferência com se-
nadores na última quinta-fei-
ra, o ministro da Economia,
Paulo Guedes, citou a possibi-
lidade de o Produto Interno
Bruto (PIB) recuar até 4% em
2020, conforme fonte ouvida
pelo ‘Estadão/Broadcast’. Is-
so poderia ocorrer, na avalia-
ção do ministro, se a paralisia
provocada pela pandemia do
novo coronavírus se esten-
der, após julho, por mais três
ou quatro meses.


Durante a conversa, Guedes
foi questionado seguidamente
por senadores a respeito da du-
ração e dos impactos da covid-
19 sobre o PIB. O ministro lem-
brou que, na atual conjuntura, é
difícil estimar até quando dura-
rá o isolamento social, que tem
travado a economia, e mesmo to-
do o impacto sobre a atividade.
No entanto, segundo autori-
dades sanitárias, incluindo o Mi-
nistério da Saúde e a Organiza-
ção Mundial de Saúde (OMS), o
isolamento social é a melhor for-
ma de evitar a propagação do

novo coronavírus.
Guedes reconheceu, confor-
me a fonte, que o PIB pode re-
cuar 1,5%, se o isolamento não
durar tanto, ou cair 4%, se a para-
lisia econômica for muito além
de julho.
Tanto o Ministério da Econo-
mia quanto o Banco Central
têm citado a dificuldade de se
estimar com precisão, neste mo-
mento, qual será de fato o im-
pacto da pandemia sobre o PIB.
Em seus documentos oficiais
mais recentes, os dois órgãos
do governo citaram projeção de

PIB zero em 2020. Mas o presi-
dente do BC, Roberto Campos
Neto, já reconheceu publica-
mente que a estimativa está de-
fasada e que a economia deve
recuar este ano.
No Relatório de Mercado Fo-
cus do BC, que traz a compila-
ção das projeções das institui-
ções financeiras, a estimativa
para 2020 é de retração de
1,18%. No entanto, já há pelo me-
nos uma instituição financeira
que projeta retração de 5,07%
do PIB – um cenário mais pessi-
mista que o citado por Guedes.

E-MAIL: [email protected]
ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS

Falso dilema


O cheque para o socorro está
aumentando e vai crescer
mais com o resgate do BC

Estadão Live Talks com o


vice-presidente da República


Hamilton Mourão


Entrevistadores:


Alberto Bombig,


Eliane Cantanhêde


e Tânia Monteiro


webinar


Como o Brasil enfrenta a pandemia


do novo coronavírus e quais os


instrumentos para sair da crise


14


abr


terça-feira,


às 10h


TRANSMISSÃO


AO VIVO


assista em:


/estadão


@estadão


@estadão


@estadão





OU


Realização


Em videoconferência com senadores, ministro da Economia afirma que esta queda seria pior cenário com isolamento indo além de julho


DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Tombo. Guedes diz que PIB cai 1,5% com isolamento curto

Guedes diz que PIB pode cair até 4%

Free download pdf