O Estado de São Paulo (2020-04-13)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto SEGUNDA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Noruega, Dinamarca e Suécia
não se assemelham somente
no clima, na cultura e nas con-
dições socioeconômicas. Os
três países vivenciaram a pri-
meira morte por covid-19 no
mesmo período, entre 11 e 14
de março. O que ocorreu em
cada país nas semanas seguin-
tes, entretanto, variou signifi-


cativamente. A Suécia, única a
não adotar o “lockdown”, viu
o número de mortes pela doen-
ça disparar, enquanto Dina-
marca e Noruega consegui-
ram achatar a curva usando o
isolamento social para dimi-
nuir o número de infectados.

http://www.estadao.com.br/e/isolamento

N


o pandemônio em que
se encontra o Brasil,
com o governo tatean-
do e hesitando, quando não
atirando contra si mesmo, co-
meça a ficar cada vez mais di-
fícil distinguir o que é necessá-
rio numa crise extrema do
que é definitivo. O que vale
num momento não tende a va-
ler em outro. Acontece que os
descontentes com as refor-
mas liberais podem se apro-
veitar da atual circunstância
para bombardeá-las, em no-
me de uma pandemia a ser
combatida.
A agenda liberal, o sanea-
mento fiscal do Estado, a re-
configuração do seu papel, a
redução dos gastos públicos e
dos privilégios dos estamen-
tos estatais, a reforma tributá-
ria e as privatizações perma-
necem no domínio do definiti-
vo. Se não forem considera-
dos como tal, o País pode fi-
car inviável no futuro.
Acontece, porém, que uma
pandemia exige armas espe-
cíficas para combatê-la, que
não se encontram nos arse-
nais das iniciativas liberais.
Nada novo, todavia, na medi-
da em que Estados em guerra
recorrem também a instru-
mentos excepcionais. Os gas-
tos estatais sobem exponen-
cialmente, não mais se enqua-
dram em parâmetros fiscais.
A luta contra uma epidemia
exige hospitais bem equipa-
dos, utensílios de proteção, re-
médios, pesquisas, testagens
em massa e ajuda pública aos
mais carentes. A prioridade é
a luta contra um inimigo real,
mas invisível: o coronavírus.
No imediato, isso significa
que a agenda liberal está sus-
pensa, sem que se saiba ao cer-
to quando voltará. O decreto
de calamidade pública e o dito
orçamento de guerra toma-
ram o lugar da Lei do Teto
dos Gastos Públicos e da Lei
de Responsabilidade Fiscal.
As novas despesas públicas es-
tarão legal e socialmente justi-
ficadas, mas pagarão seu pre-
ço no futuro. A matemática
não se deixa enganar! No futu-
ro, os orçamentos serão uni-
dos, apesar de serem contabili-

zados diferentemente. O bolo
é um só: o conjuntos das con-
tribuições e dos impostos pa-
gos pelos cidadãos, seja como
pessoas físicas ou jurídicas.
No afã de buscar recursos,
o governo optou por reexami-
nar recursos disponíveis, po-
rém de outras áreas, para ta-
par os buracos mais urgentes.
Muitas vezes, as lâminas que
deveriam ser afiadas fazem
cortes bruscos, cujos efeitos
podem estender-se para além
do tempo presente. De um la-
do, o governo tem razão em
agir assim, em nome da saúde
pública; de outro, medidas
imediatas não podem vir a
comprometer o futuro. Tome-
mos dois exemplos: o Sistema
S e o FGTS.
O Sistema S tem sido funda-
mental para o aprendizado de
trabalhadores, sua qualifica-
ção profissional, a assistência

técnica e a proteção, inclusi-
ve, da saúde dos que produ-
zem. Por exemplo, produto-
res rurais, via Senar, depen-
dem dessas medidas para que
as empresas agrícolas, sobre-
tudo pequenas e médias, que
não possuem recursos pró-
prios suficientes, possam se
manter e expandir. Nossos ali-
mentos dependem de todo es-
se trabalho e esforço coletivo,
que muitas vezes aparece co-
mo invisível para quem não
conhece o setor.
Ainda agora foi noticiado
que o Sesi estaria trabalhando
na recuperação de ventilado-
res, hoje tão necessários, para
os hospitais. Houve, é bem
verdade, excessos em alguns
setores, cuja espetaculariza-
ção terminou, em certos mo-
mentos, por velar o principal.
Não se pode confundir o bebê
com a placenta!
O FGTS é um fundo dos tra-
balhadores, voltado para o
seu atendimento, em particu-
lar nos casos de dispensa pro-
fissional. São indenizados e

têm à mão um colchão de pro-
teção. Imaginem, como al-
guns estão apregoando, que
todos esses recursos fossem
agora distribuídos. Haveria,
bem entendido, uma aceita-
ção generalizada, porém o pre-
sente não pode obscurecer o
futuro: quem pagaria as inde-
nizações futuras?
O fundo é remunerado para
que cresça e possa atender
adequadamente os trabalha-
dores hoje e amanhã. E uma
das formas de fazê-lo consis-
te em investimentos na cons-
trução civil que dão precisa-
mente esse retorno. O déficit
habitacional brasileiro é gigan-
tesco, atinge principalmente
os mais pobres e carentes e
tende ao aumento, pois o su-
primento presente é insufi-
ciente. Ademais, o setor é um
dos grandes empregadores,
com repercussões vitais em
emprego, salário e renda.
Cada vez mais habitações
populares são necessárias. O
programa Minha Casa Minha
Vida, nesse sentido, é um ins-
trumento de justiça social. Vo-
ciferar que tal programa favo-
rece os empresários é fruto
de uma visão míope que não
cessa de mal compreender a
relação capital-trabalho, vista
não como parceria, mas como
enfrentamento. Não há, evi-
dentemente, por que finan-
ciar habitações de luxo com
esse programa, o que pode
ser feito por bancos particula-
res. A função da Caixa Econô-
mica Federal é fundamental
e, saliente-se, mesmo neste
momento de crise vem cum-
prindo suas obrigações, sem
descontinuar esse programa.
Logo, os saques atuais do
FGTS, embora possam ser vis-
tos como necessários num
momento de extrema urgên-
cia, não se podem tornar uma
praxe, pois se isso for feito, ha-
verá um comprometimento
das habitações populares, do
emprego e da proteção dos
trabalhadores.

]
PROFESSOR DE FILOSOFIA
NA UFGRS. E-MAIL:
[email protected]

Hoje esses aplicativos repre-
sentam 8,5% de todas as ins-
talações no País.

http://www.estadao.com.br/e/aplicativo

CORONAVÍRUS


Lições sobre isolamento dos nórdicos


O trabalho remoto deve con-
tinuar por algum tempo pa-
ra manter os escritórios me-
nos povoados e diminuir os
riscos de contaminação.

http://www.estadao.com.br/e/homeoffice

l“Deus está no controle e é ele que dá e tira a vida.”
ROSÂNGELA SOUZA MATOS

l“Que o governador consiga ampliar mais leitos. Que Deus o ajude! For-
ça pessoal da saúde, vocês são os verdadeiros heróis!”
VIRGINIA LOPES

l“Já era o esperado, igualmente aos outros países. Não existe mais
nada para impedir a disseminação, o que tinha de ser feito foi feito!”
CLISEIDE DORDETTO REZENDE

l“A pandemia está começando aqui no Brasil, mas muitos brasilei-
ros, depois de uma semana de isolamento social, acham que o proble-
ma do vírus já foi resolvido. Ignorância. Vão pagar caro por isso.”
TEREZA SILVA

COMENTÁRIOS

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

O documento escrito por
Paul McCartney e usado du-
rante a gravação do clássico
dos Beatles foi arrematado
por R$ 4,6 milhões.

http://www.estadao.com.br/e/beatles

Espaço Aberto


L


onge estou de preten-
der traçar paralelo en-
tre o capitão Jair Bolso-
naro com o galante capitão
Rodrigo Cambará, nascido da
imaginação de Érico Veríssi-
mo na trilogia O Tempo e o
Vento
. Tratarei do presidente
da República que derrotou
Fernando Haddad em duelo
incruento e democrático,
após terçarem armas e vence-
rem no primeiro turno políti-
cos experientes como Ciro
Gomes, Geraldo Alckmin,
Henrique Meirelles, Álvaro
Dias, Marina Silva e outros de
menor projeção que me dis-
penso de nomear.
A História mostra como são
difíceis e imprevisíveis as dis-
putas eleitorais. Recordo-me
da surpreendente derrota do
brigadeiro Eduardo Gomes
para o general Eurico Dutra,
em 1945, e do retorno de Getú-
lio Vargas, em 1950. A vitória
de Fernando Collor, em 1989,
foi inesperada. O mesmo
aconteceu na primeira eleição
de Lula. Não nos esqueçamos
das condições políticas rei-
nantes em janeiro de 1985,
quando, em pleno regime mili-
tar, Tancredo Neves impôs
dura derrota a Paulo Maluf no
colégio eleitoral.
Em maio de 2018 Jair Bolso-
naro era tido, no jargão tur-
fístico, como azarão, destina-
do a ficar em quarto ou quin-
to lugar. Despontava como fa-
vorito Geraldo Alckmin, go-
vernador de São Paulo, candi-
dato pelo Partido da Social
Democracia Brasileira. A se-
guir viria Ciro Gomes. Mais
atrás, Marina Silva e Álvaro
Dias. Correndo por fora, o
empresário João Amoêdo, do
Partido Novo.
Não repisarei o que já se
disse sobre o triunfo de Jair
Bolsonaro. Aconteceu e bas-
ta. Foi eleito para exercer
mandato de quatro anos, con-
forme prescreve a Constitui-
ção. Poderá candidatar-se à
reeleição. Ao tomar posse
prestou compromisso “de
manter, defender e cumprir a
Constituição, observar as
leis, promover o bem geral do
povo brasileiro, sustentar a


união, a integridade e a inde-
pendência do Brasil”.
Promessa idêntica fizeram
os presidentes anteriores. A
fórmula encerra o óbvio. Sabe-
mos, entretanto, que jamais
foi respeitada. O juramento
de defesa da Constituição
tem sido pro forma. Não evita
que a Lei Fundamental seja al-
vo de emendas retalhadoras.
A de 1988 exibe mais de cem
cicatrizes e, em nome de re-
formas, aguarda por muitas
outras. A todo momento se
ouve falar em nova Assem-
bleia Constituinte ou em
emenda parlamentarista.
Quanto ao bem geral do po-
vo brasileiro, abstenho-me de
comentar. Somos pobres e
subdesenvolvidos. Se alguém
alimentasse dúvida, a pande-
mia do coronavírus bastaria
para eliminá-la. Com falta de
recursos materiais e huma-

nos, a assistência à população
se sustenta graças à dedica-
ção do ministro da Saúde,
Luiz Henrique Mandetta, dos
auxiliares imediatos e media-
tos, dos secretários da Saúde
e médicos dos Estados, de
grandes e pequenos municí-
pios, da solidariedade de em-
presários e trabalhadores.
Quando votamos em Jair
Bolsonaro – e me incluo entre
os eleitores –, sabíamos o que
estávamos fazendo. Conhecía-
mos os riscos de conduzir à
chefia do Poder Executivo al-
guém que não se encontrava
habilitado por completo para
o cargo. Como paraquedista
treinado para o combate cor-
po a corpo, afeito ao uso de ar-
mas brancas e de fogo, S. Exa.
se revela incapacitado para
conservar alianças que exijam
tolerância e serenidade. Não
sabe dialogar, ignora a arte
oriental do silêncio e não tem
a humildade beneditina para
ouvir antes de argumentar.
O perfil paradoxal do presi-
dente Bolsonaro mais se evi-

dencia quando declara guerra
ao ministro Mandetta pela
exemplar correção no exercí-
cio do cargo. Devotado aos
princípios da hierarquia e da
disciplina, inerentes à organi-
zação das Forças Armadas, S.
Exa. não compreende serem
eles incompatíveis com a vida
civil. Compete ao presidente
da República, segundo a Cons-
tituição, a prerrogativa de no-
mear e exonerar ministros de
Estado. Nunca, porém, de for-
ma abusiva, como simples de-
monstração de autoridade.
Afinal, a ele também se apli-
cam as exigências do artigo
37, cabendo-lhe observar, no
interesse da República, os
princípios de impessoalidade,
moralidade e eficiência.
À falta de vacina, os países
que melhores resultados co-
lhem no combate à pandemia
são os que adotam severa po-
lítica de isolamento, ressalva-
dos os serviços indispensá-
veis à satisfação das necessi-
dades permanentes da socie-
dade. É impossível combinar
a proteção à saúde, para ga-
rantir a sobrevivência do
maior número possível de
pessoas, com a plena conti-
nuidade do transporte, da co-
municação, do turismo, da di-
versão, dos esportes, da gran-
de e pequena indústria, do co-
mércio atacadista, varejista e
ambulante. Países que subes-
timaram o isolamento pagam
alto preço em número de in-
fectados e mortos.
Estamos cientes de que a
pandemia trará prejuízos ine-
vitáveis. Para o Brasil signifi-
ca mais uma década perdida.
Não há como evitá-lo. Empre-
sas estão sendo fechadas e nu-
merosos trabalhadores têm o
contrato de trabalho suspen-
so ou são demitidos. O que fa-
zer em tais circunstâncias?
Privilegiar o prosseguimento
de atividades não essenciais
ou preservar vidas? A palavra
é do leitor que se mantém en-
clausurado.

]
ADVOGADO, FOI MINISTRO DO
TRABALHO E PRESIDENTE DO
TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA

CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
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CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-

E-INVESTIDOR
Será que o home
office veio para ficar?

Manuscrito de 'Hey
Jude' é leiloado

COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:

ENVATO ELEMENTS KAMIL KRZACZYNSKI/AFP

]
Almir Pazzianotto Pinto


Tema do dia


Estudo indica que espaça-
mento de 10 metros deve
ser respeitado nos esportes.

http://www.estadao.com.br/e/corrida

Um certo capitão


Bolsonaro


Que fazer, prosseguir
com atividades
não essenciais
ou preservar vidas?

O emergencial


e o definitivo


Medidas imediatas
para tapar buracos mais
urgentes não podem
comprometer o futuro

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
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SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Coronavírus: 60%


dos novos leitos de


SP já foram ocupados


‘Ou ficam em casa e impedem
proliferação ou não haverá leitos em
uma semana’, diz secretário de Saúde

]
Denis Lerrer Rosenfield

REUTERS BEATLES

No estadao.com.br


3º LUGAR

Brasil no pódio dos
apps financeiros

ESPORTES

Corredores devem ter
distanciamento maior
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