REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS
fôrça, e ficar nêle por gôsto? Como há de chegar à terra da
promissão, quem leva o Egito na memória? Quantas estátuas de
sal se haviam de ver, se as mulheres se convertessem nelas por
olharem para o século que deixam! As galas com que vão orna-
das, é o encanto que lhes vai suspendendo e enganando a dor;
semelhantes ao cordeiro manso, que primeiro o cobrem de
flôres, para o irem entregar às chamas: ornatos alegres, e luzidos,
mas funerais! Quais são as mulheres que não choram ao proferir
das palavras fatais por que se obrigam até a morte? Esta sentença
irrevogável elas mesmas são as que cantando em altas vozes a
publicam: mas que pouco pode encobrir o fingimento do canto, a
verdade da lamentação! Que doçura pode haver em uma voz
agonizante? A consonância sempre se vem a terminar em pranto;
aquilo não são vozes, são ecos do coração; o eco é o fim da voz
que acaba; por isso todo o eco é triste, porque é fim; e com efeito
o que se vê naquela hora, é o fim de uma mulher que acaba: o
mesmo véu que a cobre, é luto; tudo nelas são sinais de aflição, e
de tormento; por isso leva os olhos abatidos, errantes, e