der, de ensinar, e de usar; o que argumenta, e duvida
mais, é o que dá melhor sinal de si; o saber embaraçar
mais, é o mesmo que saber mais; o aplauso não segue a
quem tirou a dificuldade mas a quem a pôs; nem
também a quem a desfaz, mas a quem a fêz; a
ostentação não está em fazer assentar no que a coisa ê,
mas em arguir, e destruir tudo aquilo em que se
assentar: célebre ciência, em que os ignorantes, parece
que estão de melhor partido que os sábios! Êstes vêem
tanto, que a multidão das coisas que vêem, os
confunde, e cega; aquêles menos, e por isso vêem
mais: a abundância de ciência faz aos sábios pobres de
saber; neste caso a sabedoria está em poder tornar para
o estado de ignorância; a maneira de alguém que
retrocede para buscar o que perdeu: alguma vez sucede
a quem caminha, o passar além do lugar para onde vai;
então quanto mais caminha, mais se perde; porque
busca adiante aquilo, que já lhe fica atrás: tanto erra
quem anda menos, como quem anda mais; e tanto se
desvia quem não chega ao lugar, como quem o passa.
Um vento muito forte ainda que seja favorável, é
tormenta; a luz nem por ser muito intensa, é mais clara;
as águas, que correm precipitadas, para pouco servem:
a grande velocidade as faz inúteis, e incapazes; o pêso
não só fica sendo errado, por ter de menos, como por
ter de mais; as coisas não só se arruínam por fraqueza,
mas também por fortaleza; a saúde demasiada passa a
enfermidade; o preceito não só se quebra pela dimi-
nuição da observância, mas também pelo excesso:
algumas virtudes há, que são vícios moderados; a
temperança é como uma raia, que está entre o vício, e a
virtude, e que distingue o bem do mal; nas ciências
também se peca, por se saber nelas mais de
zelinux#
(Zelinux#)
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