mação! Não pode haver justiça, quando esta se exercita
por algum fim, que não seja por ela só; nem pode ser
justo nunca, quem tem por objeto principal, a glória de
o parecer. Tudo o que se busca por ostentação, busca-
se por qualquer meio que for, isto é, ou justo, ou
injusto; quem procura a voz da fama, que lhe importa a
figura do instrumento que há de fazer aquêle som; o
que o fizer mais espantoso, e o espalhar mais longe,
êsse é o que convém; nem importa que a voz seja
sonora, e certa, o ponto é que seja forte. Quem é muito
sensível à vaidade do nome e à vaidade da opinião,
comumente é insensível à realidade da coisa; esta fica
desprezada, se se pode desprezar com segurança, e sem
receio; quando só se quer o efeito, não se procura, nem
atente a causa; por isso a quem deseja o aplauso da
virtude, esta fica sendo indiferente; e a quem deseja o
aplauso da justiça, também esta fica sendo menos
importante. Daqui vem, que a justiça costuma fazer-se
para soar: aquela que soa mais, (ou pela grande da
matéria, ou do sujeito) essa é a mais agradável a quem
a faz; porque dela se forma a voz da fama, e
juntamente nasce dela o nome, e reputação de justo. A
vaidade não se contenta, com o que as coisas são, mas
com o que parecem, contanto que pareçam grandes;
nem faz caso do que a coisa é, mas do que se diz que é:
estima o merecimento não segundo a qualidade dêle,
mas segundo o efeito, que faz na estimação das gentes:
não faz distinção entre o louvor extorquido, e o louvor
merecido justamente, basta-lhe que seja louvor; e isto é
porque a vaidade não se formaliza da verdade do
princípio; o que quer é, que os homens se admirem;
que tomem uma exalação por uma estrela, importa
pouco: daqui vem, que uma ação ilustre, mas feita em
segrêdo, a vaidade a tem
zelinux#
(Zelinux#)
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