está feito, como daquela que se vai fazendo: rotas as
veias, por elas sai em horrível, e espantosa quantidade;
debilita-se a natureza, mas se lhe acodem, não acaba;
porém se fica em ação para fazer de nôvo, entra em
agonia, e se extingue totalmente, naquela elaboração
está a vida, neste descanso a morte.
Ainda as partes sólidas do corpo de alguma (143) sorte
mudam de substância, e se regeneram. O osso duro, parece
que todo em si é compacto, e imutável; mas contudo, a sua
contextura é composta de fôlhas aderentes, separadas, e
sobrepostas; por entre vários interstícios circula nêle um
líquido untuoso, êste serve-lhe de alimento, e sangue; e é
também o que sendo mole, faz que o osso seja forte, e firme;
dali vem a nutrição, e por consequência a mudança de
matéria; porque tudo o que alimenta, trabalha em se
transformar, ou converter na coisa alimentada; aquela
conversão procede lentamente, e apenas se imagina em um
corpo duro: nos líquidos é visível, e se percebe fàcilmente.
Mas haverá quem diga. que ainda que o sangue mude, e se
renove, basta que fique dêle um átomo fermentativo, ou idéia
primogênita, para assim se conservar perenemente a qualidade
da nobreza. Isto há de dizer o defensor do sangue antigo, não
por defender o sangue, mas por defender a nobreza
incorporada. (Sempre é mau que o argumento chegue a tal
extremo, que seja forçoso recorrer aos átomos, aos fermentos,
e às idéias: em causa física não sei se é permitido o recurso
para coisas imperceptíveis, e invisíveis). Em o nascimento de
uma fonte quem lançar qualquer porção de água diversa, esta
há de sair em brevíssimos instantes; porque aquelas águas
continuamente estão