cia de nobreza entraram os citas, os frígios, os persas, e
os egípcios; êstes não pretendiam menos do que
sessenta mil anos de antiguidade; e nesta forma, que
nação poderia competir com ela naquela parte? Nem os
chinas, excessivos em tudo, deitam as suas pretensões
tão longe. Assim são os delírios que os homens
excogitam: uns para se enobrecerem a si, outros para
enobrecerem os seus. Não há meio algum de que
aquela vaidade se não sirva; ou seja imaginário, ou
falso, tudo serve a quem se quer fazer ilustre; porque
crê que o ser ilustre é ser muito mais que homem, ou
ao menos alguma coisa mais. O segredo consiste em
saber introduzir o engano, e sobretudo em defender o
êrro, e prevenção, de que os homens podem ser
diversos, ainda na mesma razão de homens.
(155) Os grandes da antiguidade, ou a nobreza dos
antigos, ainda era mais forte, e singular, que a que se
ideou depois; uma, e outra têm de comum o serem
efeitos da vaidade, e consistirem na imaginação de
quem não cabe em si; a nobreza porém do tempo
heróico era em tudo mais subida: nem é para admirar;
porque hoje nada é comparável, à grandeza esparciata
e ao esplendor latino. Os séculos foram desfazendo
todos os portentos; a variedade de sucessos, e fortunas
também foi reduzindo o mundo a um estado de
mediocridade; a mesma vaidade da nobreza teve
decadência; acabou-se a ficção, e desvario em que
aquela sorte de nobreza se fundava; ela foi um dos
ídolos que caíram. Quando a luz da verdade descerrou
as trevas do paganismo, cessaram os oráculos, não
responderam mais, emudeceram. A Grécia, pátria
comum dos heróis, e donde