matias

(Zelinux#) #1

Offereço a Vossa Magestade as Reflexões sobre a vaidade dos homens; isto he o
mesmo que offerecer em hum pequeno livro aquilo de que o mundo se compoem, e
que só Vossa Magestade não tem: feliz indigencia, e que só em Vossa Magestade se
acha. Declamey contra a vaidade, e não pude resistir à vaidade innocente de pôr
estes discursos aos Reaes pés de Vossa Magestade; para que os mesmos pés, que
heroicamente pizão as vaidades, se dig-nem proteger estas Reflexões. Mas que muito,
Senhor, que as vaidades estejão só aos pés de Vossa Magestade, se as virtudes o
occupaõ todo? Alguma vez se havia de ver a vaidade sem lugar.
Tem os homens em si mesmos hum espelho fiel, em que vem, e sentem a
impressão, que lhes faz a vaidade: Vossa Magestade só neste livro a póde sentir, e
ver; e assim para Vossa Magestade saber o que a vaidade he, seria necessario que a
estudasse aqui. Quando derão os homens, e quanto valerião mais, se podessem, ainda
que fosse por estudo, alcançar huma ignorancia tão ditosa. Não he só nesta parte,
Senhor, em que vemos hum prodígio em Vossa Magestade. As gentes penetradas de
admiração, e de respeito, achaõ unidos em Vossa Magestade muitos attributos
gloriosos, que raramente se puderão unir bem; e com effeito, quando se vio senaõ
agora, sentarse no mesmo Throno a Soberania e a Benignidade, a Justiça e a
Clemencia, o Poder supremo e a Rarão? Em Vossa Magestade ficarão concordes, e
faceis aquelles impossíveis.
A mesma Providencia quiz manifestar o Rey, que preparava para a sua Lusitania;
assim o mostrou logo, porque o Oriente, ou Regio berço, em que Vossa Magestade
amanheceo, nunca vio figura tão gentil; nesta se fundou o primeiro annuncio da
felicidade Portugueza, e foy a voz do Oraculo por onde a natureza se explicou. Não foy
preciso que os sucessos verificassem aquelle vaticínio, por-
. que Vossa Magestade
assim que veyo ao mundo, só com se mostrar, disse o que havia de ser. Hum semblante
augusto, mas cheyo de bondade, e agrado, foy o penhor

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