por haverem tido progenitores altos, ficaram sem
nenhuns. Depois daquela catástrofe fatal, parece que
devia extinguir-se a vaidade da nobreza; mas não foi
assim, porque aquela vaidade só mudou de espécie, e o
engano, de figura; a mitologia conver-teu-se em
genealogia, humanizou-se. A igualdade sempre foi
para os homens uma coisa insuportável; por isso
entraram a forjar novos artifícios com que se
distinguissem, e ficassem desiguais; e não tendo já
deuses donde tirassem o princípio da nobreza, entraram
a tirá-la de outras muitas vaidades juntas ; compuseram
uma nobreza, tôda humana; então nasceu aquela tal
nobreza, como parto do poder, da pompa, e da riqueza:
acidentes na verdade exteriores, mas que servem de
incrustação no homem, e esta ainda que composta de
fragmentos, sempre forma um ornato matizado, e
agradável; bem se vê que a viveza dos esmaltes, e das
conchas, não penetra a substância interior, e que o
muro tôsco não fica mudado, coberto sim; mas que
importa, se a gala frágil que o reveste, o enobrece.
(157) Na propagação dos animais observa a natureza
a mesma ordem; desta sempre vem a resultar a mesma
forma, e as mesmas circunstâncias: os indivíduos
porém de cada espécie não são tão uniformes, que não
tenham entre si um caráter particular com que se
distinguem uns dos outros. Nas famílias se notam
feições determinadas, pelas quais são conhecidos os
que vêm da mesma parte; o mesmo ar no gesto, ou na
figura persiste em muitas linhas descendentes; e de tal
sorte que algumas são reconhecidas por uma formosura
sucessiva; e outras também o são por uma fealdade
hereditária. As mes-