REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS
gem, e a expressão mais viva. A vaidade, que comumente produz
as nossas alegrias, e tristezas, umas vêzes tudo nos representa
alegre, outras tudo nos oferece triste. Também na vaidade há
horas; em umas ocupa-se em objetos de grandeza, em outras
tôdas se entretém em idéias de opulência; umas vêzes realiza a
nossa fantasia em forma, que tudo nos propõe já conseguido;
então é que a vaidade nos enche de alegria; e é também quando a
alegria é vã, porque o seu motivo não tem corpo, e só se compõe
de uma visão, ou sonho: outras vêzes a vaidade nos enfeita com
adornos tão ricos, e sublimes, que não podendo suportar, nem o
esplendor, nem o pêso da figura, ela mesma se desvanece; então é
que a tristeza nos combate, porque então nos vemos como somos.
O homem em si, é obra de uma inteligência inexplicável. Os seus
adornos é que são materiais; a mesma grandeza e fausto, só
consta de um aparato superficial, risível, e que não tem mais
valor, que o que a vaidade, e o costume lhe têm dado: o costume
é tudo; as coisas não são nada; o de que fazemos tanto caso, não é
mais, do que o modo com que os homens significam, ou explicam