REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS
mesmas vaidades, contudo há vaidades predominantes,
que se mostram mais em certos tempos, e que em
certas ocasiões se encontram mais. Assim como nas
outras coisas, também na vaidade algumas há, que são
como filhas de um lugar, e que em um país têm mais
reputação que em outro Os vícios lá parece que
dependem da fortuna; porque as ilusões que os homens
idolatram, não têm igual estimação em tôda a parte.
Assim como mudamos de destino, também mudamos
de vaidade, não porque deixemos totalmente umas,
para seguirmos outras; mas porque há vaidade, que em
certos tempos têm mais culto. Ainda que a terra seja o
primeiro móvel da vegetação, contudo, nem tôda a
terra é própria para todo o vegetal; aquela em que
nasce a rosa, muitas vêzes se nega ao lírio; ali donde o
jasmim se cria, dá-se mal a açucena; lá donde o urno
reverdece, não pode tomar alento a hera: a mesma
terra, base de todo o sensitivo, só na África é pátria do
leão, na América do leopardo, na Ásia do elefante; o
cisne só canta nas ribeiras do Meandro; a fênix ó na
Arábia se diz que sabe renascer das suas cinzas ; a
águia não remonta ao sol em qualquer parte. Isto
mesmo se vê na vaidade, umas nascem com o homens;
essas são vaidades universais; outras resultam das
opiniões, que são próprias, e parti-culares a cada uma
das nações; essas são vaidades locais, e territoriais; e
nesta forma governa a vaidade o mundo, dividida em
muitas classes, ou em muitos gêneros de vaidades. Em
uma região a vaidade dominante consiste no valor, em
outra no luxo, em outra na origem; muitos homens há
que fazem vaidade de alguns vícios, a que os inclina a
qualidade do clima, e necessidade do terreno; de sorte
que aquilo mesmo, que em um lugar se faz por vai-