Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
nos do que vantagens, portanto, nem a riqueza é um bem, nem a saúde. Ademais,
eles dizem que não é um bem aquilo de que se pode fazer bom e mau uso; dado que
tanto da riqueza como da saúde pode-se fazer bom e mau uso, nem a riqueza é um
bem, nem a saúde. Posidônio, todavia, enumera também estas últimas entre os bens
(Diógenes de Laércio, VII, 103).

No entanto, como seus predecessores, Posidônio mantém firmemente o
princípio estoico segundo o qual só o bem moral é bem verdadeiro e a dor física
não é verdadeiro mal. A este respeito, eis o testemunho de Cícero:

Vi pessoalmente Posidônio diversas vezes, mas quero referir dele o que contava
Pompeu. Retornava este da Síria, e, chegando a Rodes, quis ouvir a Posidônio. Dis­
seram-lhe que ele estava muito doente - sofria um violento ataque de artrite -,
mas ele quis assim mesmo ir ao encontro daquele grande filósofo. Quando chegou
diante dele, o saudou e elogiou e disse lamentar não poder ouvi-lo. Então Posidônio
disse: "Não, não: não permitirei nunca que, por causa de uma dor fisica, um homem
como tu tenha viajado em vão". E assim Posidônio, deitado sobre o leito, contava
Pompeu, discutiu com profundidade e eloquência justamente a tese de que não
existe nenhum bem a não ser o bem moral; e nos momentos em que a dor era mais
pungente repetia: '1\ tanto não chegas, ó dor! És opressora, sim, mas nunca admitirei
que és um mal" (Cícero, Tusculanas, n, 25, 61).

As ciências
A simpatia universal, na física, e os convenientes e preferiveis, na ética, expli­
cam a ampliação dos interesses de Posidônio, que se volta para as ciências e as
técnicas. Como geógrafo e astrônomo matemático, procura as ligações entre as
coisas celestes e as terrestres, entre os climas e os organismos, entre as marés e as
fases da lua, conjuntamente com a ação do sol. Na história, seguindo seu amigo
Políbio, considera Roma continuadora das civilizações etrusca e grega, às quais
deu acabamento e perfeição.


o pendor de Posidônio pelas ciências relaciona-se, naturalmente, com as artes que
fazem a civilização e que considera fruto da mais alta sabedoria da humanidade. [ ... ]
É através da história da humanidade que ele acompanha o papel da sabedoria. Na
idade de ouro passada, em que os sábios eram reis, deveriam ter-se feito legisladores
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