A sociedade romana
Em suas obras Economia antiga e A invenção da política, o helenista Moses
Finley assinala a diferença entre a organização social romana e as da Grécia e do
Oriente. Os gregos dividiam-se em homens livres, escravos e estrangeiros, os
orientais, em castas e dinastias, enquanto os romanos se organizavam em ordens
e estamentos. As ordens vieram da organização militar romana e os estamentos,
das condições econômicas e políticas impostas pela história de Roma. O funciona
mento de ambos se realizava por intermédio daquilo que é outra das marcas ro
manas, o instrumento jurídico.
Uma ordem, explica Finley, é um grupo de indivíduos definido em ter
mos jurídicos no interior de uma população, gozando de determinados privi
légios, mas também submetido a certas incapacidades em vários domínios de
atividades (governamental, militar, legal, religiosa, econômica, matrimonial),
situando-se numa relação hierárquica com outras ordens, subordinando as
inferiores e subordinada às superiores. Havia, em Roma, duas ordens funda
mentais: patrícios e plebeus (proprietários de terra e não proprietários,4 cida
dãos e não cidadãos), mas, desde a república e as lutas plebeias, o sistema se
tornara móvel e maleável, os plebeus podendo, sob certas circunstâncias, as
cender ao patriciado, embora um patrício jamais perdesse sua ordem. Essa
divisão social não significa necessariamente uma divisão entre pobres e ricos,
pois havia patrícios pobres e plebeus ricos, de sorte que as lutas sociais podem
ocorrer (como de fa to ocorreram) entre optimates* (os aristocratas, ou os
"melhores") e populares (os plebeus), quando estes últimos, enriquecidos ou
tendo obtido, como chefes militares, vitórias em guerras, buscavam alterar
sua posição e subir na escala das ordens, fo rçando a criação de ordens novas,
intermediárias entre as duas principais. A ascensão à ordem aristocrática ins
tituiu a figura dos "homens novos" , plebeus ricos membros de uma pequena
nobreza não hereditária.
A maleabilidade do sistema de ordens era conseguida pelo recurso ao esta
mento, ou status civitatis, o título político decisivo, pois definia a cidadania roma
na, e Roma o usava tanto para acalmar plebeus ricos e generais plebeus vitoriosos,
quanto para conseguir a submissão de outros povos, conferindo aos "amigos de
Roma" o título de cidadão romano.5 Assim, o estamento fo rmado por patrícios,
homens novos e amigos de Roma constitui um grupo social com poder econômi-
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