56 wMAIO DE 2019 wVOCÊ S/A
TENDÊNCIA
ali. Os robôs-enfermeiros também
estão a todo vapor. Em hospitais no
Japão, eles fazem triagem dos pa-
cientes, indagando os sintomas e
acessando os registros médicos dis-
ponibilizados na internet — há até
um humanoide capaz de confirmar
por ultrassom a veia mais adequada
à retirada de sangue ou colocar um
acesso intravenoso. Em alguns países
da Europa, os robôs são usados como
cuidadores, para erguer e mover pa-
cientes, e assistentes de fisioterapia,
para auxiliar nos exercícios fís icos.
Mesmo com tudo isso, de acor-
do com Anurag Gupta, analista da
consultoria de mercado Gartner, os
funcionários de carne e osso devem
continuar relevantes. “A capacida-
de da maioria dos profissionais de
saúde será reforçada pelo digital,
não substituída”, diz.
Mão de obra especializada
Estudiosos acreditam que no futu-
ro a medicina dever focar menos o
tratamento de doenças e mais a pre-
venção. E não faltará oportunidade
ABRINDO FRENTES
O
INFECTOLOGISTA BERNAR-
DO ALMEIDA, DE 35 ANOS,
É O RETRATO DO NOVO
PROFISSIONAL DA MEDICINA. ATUAL-
MENTE, ELE DIVIDE SEU TEMPO EN-
TRE UM HOSPITAL PARTICULAR NO
QUAL DÁ PLANTÕES, O CONSULTÓ-
RIO, O MESTRADO NO DEPARTAMEN-
TO DE DOENÇAS INFECCIOSAS DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
E O TRABALHO COMO DIRETOR MÉDI-
CO DA STARTUP HI TECHNOLOGIES,
QUE INVENTOU O HILAB, APARELHO
QUE DETECTA EM 158 MINUTOS, A
PARTIR DE UMA GOTA DE SANGUE,
80 DOENÇAS. “COMANDO A EQUIPE
DE LABORATÓRIO E LIDERO A CO-
MISSÃO CIENTÍFICA DE QUALIDADE.
TRABALHO COM BANCO DE DADOS E
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO”,
DIZ BERNARDO. A FUNÇÃO EXIGIU
ESPECIALIZAÇÃO EM ÁREAS FORA
DA SAÚDE. “APRIMOREI MEUS CO-
NHECIMENTOS EM PROGRAMAÇÃO,
DATA SCIENCE E INTELIGÊNCIA ARTI-
FICIAL. SÃO FRENTES QUE AGREGAM
À ÁREA MÉDICA E ABREM UM MUNDO
DE POSSIBILIDADES”, AFIRMA. HOJE,
BERNARDO É UM DOS 88 FUNCIO-
NÁRIOS DA HI TECHNOLOGIES, QUE
FOI FUNDADA EM 2004 EM CURITIBA
(PR) E DEVE TRIPLICAR DE TAMA-
NHO ATÉ 2020 — TRÊS GRUPOS DE
INVESTIDORES QUE JÁ APORTARAM
DINHEIRO EM EMPRESAS COMO 99,
RAPPI E YELLOW ESTÃO INJETANDO
RECURSOS NA COMPANHIA. “NOSSO
PRODUTO É PROMISSOR, PORQUE
AGILIZA O ACESSO A EXAMES EM RE-
GIÕES DISTANTES”, DIZ.
para médicos capazes de
conduzir essa mudança,
inclusive aqueles com veia
empreendedora e ideias
para solucionar gargalos.
Para Giovana
Tarnovschi, gerente sênior
da Michael Page, consul-
toria de recrutamento de
São Paulo, houve aumento
no último ano da demanda
por posições em empresas
de saúde com foco em ino-
vação e tecnologia. “Quem
atua na saúde e tem ca-
pacitação e experiência
nessas áreas já recebe um
salário 30% maior”, afir-
ma. Caio Arnaes, gerente
sênior de recrutamento da
Robert Half, outra consul-
toria que registrou alta nas
vagas do setor de saúde,
descreve as funções com aumen-
to de procura: “Há posições de big
data, desenvolvimento de soft ware
e gerenciamento de projetos”. Além
do pessoal de TI, entram na lista es-
pecialistas em genética, cuidadores
de idosos e geriatras. Isso porque,
em 2030, haverá o mesmo número
de crianças e idosos, de acordo com
projeções do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Também é consenso entre os recru-
tadores que crescerá a busca por mé-
dicos que dominem a área de e-care
(gestão e promoção de saúde) e te-
nham conhecimento técnico em dis-
positivos de atendimento residencial.
“O perfil que as empresas da saúde
buscam é o do médico que vai além da
medicina, enxergando a importância
das áreas de apoio do hospital, como
tecnologia, finanças e marketing”, diz
João Marcio Souza, CEO da Talenses
Executive, empresa especializada
em recrutamento de alta liderança.
No futuro, o médico de jaleco bran-
co e estetoscópio no pescoço deverá
ficar apenas na memória.
FOTO: MARCELO ALMEIDA