FOTO: ALEXANDRE BATTIBUGLI VOCÊ S/A wMAIO DE 2019 w 75
Modelo viável de
negócio até quando?
Fundada em 2015, a Liga Ventures já
nasceu como uma aceleradora cor-
porativa. Depois de ter contato com
oempreendedorismo por meio da
aceleração de empresas de mídia, os
sócios Rogério Tamassia, Guilherme
Guimarães e Daniel Salles percebe-
ram que, para o negócio dar certo,
ocaminho seria grandes empresas.
“Enxergamos esse modelo como um
dos poucos viáveis porque permite
receita recorrente e de curto prazo.
O retorno de um investimento de
venture capital [capital de risco]
em startups, por exemplo, pode le-
var até dez anos. Com a aceleração
corporativa conseguimos ganhar es-
calabilidade”, afirma Rogério.
Em quatro anos de operação, a
Liga Ventures, que tem atualmente
25 clientes de grande porte, como
Porto Seguro, Vedacit e Grupo Pão
de Açúcar, gerou 300 negócios en-
tre empresas e start ups e aumen-
tou de quatro para 21 o número de
funcionários. Essa equipe, aliás,
teve de mesclar jovens que enten-
dem de tecnologia com executivos
mais experientes que conseguem
transitar no mundo corporativo e
sentar à mesa com os CEOs. “Cerca
de 50% de nossos funcionários são
gestores de aceleração. Eles atuam
como mediadores e conseguem criar
harmonia na comunicação entre em-
presas e startups, que têm estilos
diferentes”, diz Rogério.
Além de estruturar testes de mode-
los de novos negócios, a Liga Ventures
oferece consultoria para áreas mais
tradicionais das empresas, como ju-
rídico, financeiro e compras. “Esses
departamentos precisam se prepa-
rar para trabalhar com as startups de
maneira que, quando os programas
de aceleração começarem, os proces-
sos e contratos já estejam adaptados
e deixem de ser lentos e restritivos
como costumam ser”, afirma Rogério.
Os benefícios de ter o conhecimen-
to das aceleradoras ajudando gran-
des empresas são inúmeros — para
ambos os lados. Para as companhias,
a chance de se aproximar e enten-
der como a inovação acontece nas
start ups pode ser o segredo que as
fará sobreviver nos próximos anos.
Para as aceleradoras, pode ser a saí-
da para continuarem sendo sustentá-
veis e relevantes dentro do ecossiste-
ma empreendedor. Porém, é preciso
ficar atento. “Startups e organiza-
ções são muito diferentes. Estas úl-
timas são bem mais complexas (com
vários processos, hierarquias), então
utilizar o mesmo método de trabalho
indiscriminadamente nunca dará re-
sultados”, afirma Caio Ramalho, da
FGV. Isso quer dizer que não basta
ensinar às empresas os jargões dos
empreendedores ou colocá-las todas
para trabalhar em equipes interdis-
ciplinares. O desafio continua sendo
ode transformar a cultura desses
elefantes brancos, algo que não é fá-
cil nem rápido. E pivotar as grandes
corporações pode levar anos. “Se a
alta liderança não estiver compro-
metida com o processo, isso ficará
mais difícil. Diversas empresas têm
feito investimentos sem absorver o
que o ‘estilo startup’ tem a ofere-
cer: perguntas e reflexões ao invés
de respostas prontas”, afirma Caio.
Resta saber se as aceleradoras vão,
de fato, conseguir ajudá-las nesse
desafio ou se serão substituídas por
outra solução milagrosa que poderá
surgir daqui a uns anos.
Arrancando na frente
Quais são os mercados que mais se relacionam com
startups e que geram oportunidades para as aceleradoras
— e para quem quiser trabalhar nelas
FONTES: ESPECIALISTAS OUVIDOS PARA ESTA REPORTAGEM
FINANCEIRO
O setor é o que tem o
relacionamento mais próximo
e maduro com as aceleradoras
e startups, com diversas ações,
como coworkings e programas
de incubação. A Oxigênio,
aceleradora da Porto Seguro, e
oCubo, espaço de inovação do
Itaú, são os principais exemplos.
AGRÍCOLA
O agronegócio, responsável por
um terço dos empregos no país
e por 21% do PIB nacional, se
beneficia cada vez mais das soluções
tecnológicas. O AgroStart, programa
de aceleração patrocinado pela
Basf, e a parceria da Monsanto
com a Microsoft para fomentar
startups do setor são algumas
das iniciativas mais maduras.
VAREJO
De olho na competição global, o
mercado, que é o maior gerador
de empregos formais do país, se
abre às inovações em busca de
modernização. O Grupo Pão de Açúcar,
por exemplo, lançou o Pitch Day para
se aproximar de startups do varejo,
e O Boticário criou o BotiLab para
acelerar essas empresas novatas.
SAÚDE
Mesmo com uma complexidade
elevada por causa da regulamentação
rígida, o setor tem intensificado
projetos em busca de maior
competitividade. Algumas iniciativas
são a incubadora de startups Eretz.
bio, do Hospital Albert Einstein, e a
parceria entre os grupos Fleury e
Sabin para investimento conjunto na
Qure, incubadora de startups de saúde.