O Estado de São Paulo (2020-04-23)

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B10 Economia QUINTA-FEIRA, 23 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Apesar da disseminação do coronavírus, centros de compra voltaram a funcionar em 19 cidades; redes varejistas também testam retorno


LUIS HENRIQUE BISOL

Retorno. Líder do setor, BRmalls reabriu o shopping de Caxias do Sul e de Campo Grande

Circe Bonatelli
Talita Nascimento


O relaxamento das medidas
de isolamento social em vá-
rias regiões do Brasil já se re-
flete no setor de varejo. On-
tem, o setor contabilizava 43
shopping centers reabertos
em 19 cidades. Até semana
passada, todos os 577 centros
de compras do País permane-
ciam fechados.

A mudança se dá por conta da
suspensão de parte dos decre-
tos publicados por prefeituras e
governos estaduais proibindo o
funcionamento do comércio a
fim de reduzir a circulação de
pessoas e a transmissão do coro-
navírus nas últimas semanas.
“O cenário está mudando ra-
pidamente”, relata o presiden-


te da Associação Brasileira de
Shopping Centers (Abrasce),
Glauco Humai. “Ainda há mui-
ta confusão e incerteza porque
a suspensão dos decretos não
acontece de maneira organiza-
da. Em cada região é uma reali-
dade”, explica.
O presidente da Abrasce esti-
ma que, em maio, a maioria ou
todos os shoppings já estejam
abertos.
A BRMalls, líder do mercado
de shopping centers no País,
reabriu 2 das 31 unidades de sua
rede, acompanhando a suspen-
são dos decretos que proibiam
o funcionamento durante a pan-
demia em Campo Grande (MS)
e Caxias do Sul (RS). Mas, nas
outras praças, o clima ainda é
de incerteza. “Não faremos ne-
nhuma reabertura sem estar-
mos alinhados com as determi-
nações de prefeituras e gover-
nos estaduais. Então, infeliz-
mente, não temos como preci-
sar quando será a continuação
dessa reabertura. Depende do
poder público”, afirma a direto-
ra comercial da BRMalls, Jini
Nogueira.
A grande expectativa dos co-
merciantes é voltar a atender o
público antes do Dia das Mães,

no fim de semana de 10 de maio.
Ontem, a Federação das Asso-
ciações Comerciais do Estado
São Paulo (Facesp) e a Associa-
ção Comercial de São Paulo
(ACSP) divulgaram comunica-
do em que pedem para que o
comércio seja parcialmente rea-
berto a partir do dia 1.º de maio.

Na semana passada, o governa-
dor, João Doria (PSDB), anun-
ciou que só a partir de 11 de
maio será feito o relaxamento
da quarentena no Estado.
Nos shoppings reabertos, o
funcionamento segue regras es-
pecíficas dos decretos locais, co-
mo funcionamento em horário

reduzido (entre 12h e 20h), pra-
ça de alimentação com menos
mesas, e fechamento dos cine-
mas por enquanto. “As pessoas
foram aos shoppings que reabri-
ram. Temos tido relatos de que
o movimento é positivo. É um
fluxo bem menor que o normal,
como esperado, mas positivo”,

disse Humai.

Varejistas. A varejista Riachue-
lo anunciou que vai reabrir seis
lojas no Rio Grande do Sul, San-
ta Catarina e Minas Gerais ain-
da nesta semana. As lojas res-
pondem por 2% das unidades
da varejista no País. Segundo a
empresa, a abertura, em caráter
experimental, só acontecerá
em municípios com folga na re-
de pública de saúde, com vagas
em UTIs, respeitando os decre-
tos municipais e estaduais.
Além disso, a empresa vai se-
guir um protocolo de higiene.
O presidente da Renner, Fa-
bio Faccio, diz que a empresa
está pronta para implantar um
novo modelo operacional para
uma reabertura gradual do co-
mércio. No entanto, mesmo em
cidades onde as lojas têm sido
autorizadas a voltar a funcio-
nar, a Renner continua fechada.
“Avaliamos, após os decretos
de reabertura, se todos os crité-
rios de saúde estão sendo res-
peitados para, então, após al-
gum tempo do comércio reaber-
to, verificarmos se é seguro reto-
mar. Em algumas cidades, creio
que em breve poderemos retor-
nar”, conta.

Marina Dayrell


Já nos primeiros dias da quaren-
tena, pequenos negócios viram
nos vouchers pré-pagos a opor-
tunidade de sobrevivência eco-
nômica. O movimento come-
çou com restaurantes e logo foi
adotado por outras empresas,
como salões de beleza. No cami-
nho, os vouchers ganharam di-
mensão com o apoio de grandes


marcas a pequenos negócios.
Um mês após o decreto de isola-
mento no Estado de São Paulo,
empreendedores falam do im-
pacto do voucher nos negócios.
Raphael Despirite, proprietá-
rio do restaurante Marcel, em
São Paulo, aderiu às platafor-
mas de voucher Apoie um Res-
taurante e Menu do Amanhã.
“Neste primeiro momento é
um negócio de desespero de cai-
xa. O mercado de restaurantes
sempre teve o problema que é
viver de pagar boleto com o que
entra no dia anterior.”
O chef não acredita que o mé-

todo será suficiente para que os
restaurantes salvem seus cai-
xas. “Mas é uma ajuda. É uma
fonte de receita em um momen-
to que não tem nada entrando.”
Com o dinheiro dos vouchers


  • cerca de 100 vendidos no Mar-
    cel – Despirite planeja pagar um
    décimo da folha de pagamento.


A aposta nos vouchers, diz, vai
além da receita de hoje e mira o
comportamento do consumi-
dor depois. “Uma pessoa vai ao
restaurante (por causa do vou-
cher) e gasta um pouco mais,
vai com mais gente e acaba ten-
do um incentivo para voltar.”
A visão de que os vouchers

não podem ser encarados sozi-
nhos como salvação é comparti-
lhada pela consultora do Se-
brae-SP Karyna Muniz. “Por
mais que o movimento solidá-
rio aconteça, ele não vai suprir o
necessário. Acho difícil que um
consumidor que não conhece o
estabelecimento compre um
voucher. Que garantia ele tem
de que o lugar não vai fechar?”
Ao adotar o voucher, uma das
preocupações deve ser garantir
a prestação futura do serviço
com qualidade sem prejudicar a
entrada de novas receitas. “O
voucher é uma antecipação de
recebíveis, então tem que to-
mar cuidado em como você vai
fornecer um produto que já es-
tará pago há muito tempo”, des-
taca Isabela Raposeiras, dona
da cafeteria Coffee Lab.
Além de ter adotado o deli-
very, o local também se cadas-
trou na plataforma Apoie um
Restaurante. Para isso, o primei-

ro passo foi definir o que seria
oferecido. “Tem de escolher
produtos específicos. Uma boa
escolha são aqueles que têm
CMV (custo de mercadoria ven-
dida) mais baixo e que são ope-
racionalmente mais fáceis de
produzir. Se você tiver serviço a
oferecer, ótimo, como aulas.”
O restaurante Oguru vendeu
mais de 5 mil cupons (R$ 119 ca-
da um) em quatro dias e encer-
rou as vendas. Um dos donos da
casa, Gabriel Fullen explica
que, além de limitar a quantida-
de de vouchers, o rodízio foi es-
colhido como produto ofereci-
do. “Somos conhecidos pelo ro-
dízio, então decidimos chamar
a atenção dos nossos clientes e
de quem não nos conhece.”
Para distribuir o atendimen-
to, os vouchers podem ser usa-
dos também na hora do almoço
e no delivery. Com o dinheiro
das vendas, a casa arcou com as
despesas até o fim de abril.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l Diferenças regionais


Delivery de sushi. Gabriel Fullen com funcionários do Oguru

Cynthia Decloedt


O grupo Odebrecht teve seu pla-
no de recuperação judicial apro-
vado ontem por 12 das 20 em-
presas do grupo com dívidas lis-
tadas de R$ 66 bilhões. As oito
companhias restantes terão as-
sembleias em outras datas. O
plano tem agora de ser homolo-
gado pelo juiz do processo.
A companhia recorreu à recu-
peração judicial em junho de


2019 e, após forte embate com
os maiores bancos do País, apre-
sentou sua última versão do pla-
no no dia 20 de março. Os ban-
cos, além de serem os maiores
credores do processo, carre-
gam dívidas superiores a R$ 13
bilhões do grupo.
“Após 10 meses de negocia-
ções efusivas, o plano contou
com o expressivo apoio da cole-
tividade dos credores e espera-
mos que esse apoio se mante-

nha durante a implementação
do plano”, afirmou o advogado
Eduardo Munhoz, que repre-
senta o grupo. A Odebrecht con-
tou também com a assessoria
financeira de Ricardo K.
Das 12 empresas que votaram
ontem na segunda assembleia
virtual de credores do grupo
Odebrecht, oito optaram pela
não consolidação de dívidas,
sendo que duas delas tiveram as-
sembleias adiadas para outras

datas. Ainda haverá assembleia,
portanto, de oito empresas.
O plano aprovado dá aos acio-
nistas acesso aos dividendos so-
mente após o pagamento dos
credores. A lógica é que, três
anos após a aprovação do plano,
o que for gerado pelas subsidiá-
rias do grupo acima de R$ 300
milhões seja direcionado na pro-
porção de 80% para os credores
e 20% para os acionistas.
Os 20% progressivamente au-

mentam à medida que a empre-
sa honrar sua dívida e podem
chegar a 50% após ela liquidar
65% dos créditos devidos de cer-
ca de R$ 40 bilhões. O número é
menor do que os R$ 66 bilhões
listados ao juiz da recuperação
judicial porque exclui dívidas
entre as companhias.
Embora o grupo Odebrecht
conte, no papel, com receitas e
dividendos de várias empresas,
é da participação de 51% na
Braskem que deve vir a maior
parte dos dividendos. As outras
empresas como Atvos, de açú-
car e álcool, Ocyan, de petróleo,

e a OEC, de engenharia e cons-
trução, têm perspectiva incerta
de distribuição de lucros e divi-
dendos.
Por isso, o plano foi ativamen-
te debatido com BNDES, Banco
do Brasil, Itaú, Bradesco e San-
tander. Além de serem donos
da participação na Braskem, re-
cebida em garantia por terem
emprestado cerca de R$ 13 bi-
lhões ao grupo a fim de evitar
seu colapso após a Lava Jato,
são também os maiores credo-
res no processo de recuperação
judicial. Incluindo a Caixa, têm
a receber mais de R$ 30 bilhões.

Brasil tem 43 shoppings reabertos


“Ainda há muita confusão e
incerteza porque a
suspensão dos decretos não
acontece de maneira
organizada. Em cada região
é uma realidade.”
Glauco Humai

PRESIDENTE DA ABRASCE


NILTON FUKUDA/ESTADÃO

Voucher ajuda, mas


não deve ser única


alternativa de negócio


Odebrecht tem plano aprovado por credores


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