O Estado de São Paulo (2020-04-23)

(Antfer) #1

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H2 Especial QUINTA-FEIRA, 23 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


Bill Sheehan
WASHINGTON POST


A afinidade de Stephen King
com o romance curto remonta
aos primeiros estágios da sua
longa e prolífica carreira. Em
1982, ele publicou Different Sea-
sons
( Quatro Estações ), livro
com quatro histórias longas
que continham algumas das
suas melhores obras e acaba-
ram levando a algumas adapta-
ções memoráveis para o cine-
ma, entre elas The Shawshnk Re-
demption
( Um Sonho de Liberda-
de
), e Stand By Me ( Conta Comi-
go
). A partir de então, com inter-
valos de 10 anos, King produziu
três livros similares que lhe per-
mitiram tratar de uma ampla va-
riedade de
temas, ce-
nários e
contextos.
O mais re-
cente de-
les, If It
Bleeds
, con-
tém quatro
contos no-
vos bem no
estilo King,
nos quais
ele faz um
bom uso de
basicamen-
te todas as
formas de narrativa: histórias
curtas, roteiros, novelas, épicos
em vários volumes e o que cita
como “romance para a televi-
são”, a minissérie A Tempestade
do Século
.
Mas o romance, que não é
longo nem curto (fica no
meio), se ajusta particularmen-
te bem ao seu talento, permitin-
do uma expansividade e man-
tendo ao mesmo tempo um en-
foque disciplinado e controla-
do do material à mão. Como
resultado, são histórias que
abrangem um surpreendente
território emocional, mas ain-
da podem ser lidas do começo
ao fim de uma só vez.
Mr Harrigan’s Phone , por
exemplo, é mais um reflexo da
fascinação de King, às vezes si-
nistra, pela tecnologia e seus
efeitos sobre nossas vidas. No


centro da história, está a rela-
ção entre Craig, o adolescente
que é também o narrador da
história, John Harrigan, um bi-
lionário aposentado, e Luddi-
te, que sofre de um transtorno
chamado borderline. À medida
que seu relacionamento se de-
senvolve, Craig presenteia o
homem mais velho com um ce-
lular. O presente tem por finali-
dade facilitar a comunicação
“normal”, mas – afinal esta é
uma história de Stephen King –
essas comunicações se tornam
sombrias e mudam, conectan-
do o mundo do Maine rural a
um outro desconhecido mais
além. Mr Harrigan’s Phone , no
fundo, trata de relações dura-
douras que às vezes construí-
mos apesar de diferenças apa-
rentemente insuperáveis.
The Life of Chuck tem meu vo-
to como a histó-
ria mais original
dessa coleção.
Ele começa com
a imagem de car-
tazes trazendo o
retrato de um
contador de
meia-idade cha-
mado Charles
Krantz. Em cada
cartaz está escri-
to: “39 GRAN-
DES ANOS!
OBRIGADO,
CHUCK!”.
Quem é Chuck?
E qual é a história por trás des-
ses cartazes? Com o tempo,
aprendemos muita coisa sobre
esse personagem à medida que
a história, que se desenvolve
em três atos, remonta aos pri-
meiros anos de vida de Chuck.
O resultado é uma narrativa li-
geiramente surreal e totalmen-
te envolvente sobre dança,
música, mortalidade e aceita-
ção, e também sobre a noção
básica de que todos nós, como
Chuck, contemos multidões.
Rat retoma um dos temas re-
correntes de King: a natureza
problemática da vida de um es-
critor. Seu protagonista, Drew
Larson, é um escritor em difi-
culdade que produziu uma de-
zena de contos – tentou por
três vezes, mas fracassou, não
terminar um romance. Cada
fracasso provocou um maior

grau de dano psicológico. Rat
narra a tentativa final e deses-
perada de Drew de concluir um
romance, isolado em uma caba-
na nas profundezas do Maine
oriental, e aprende mais uma
vez que arte é uma faca de dois
gumes, que pode levar a um
grande entusiasmo e desespe-
ro e – nos momentos mais ex-
tremos – à loucura. Uma narra-
tiva imprevisível, com frequên-
cia alucinante, essa é uma das
explorações definitivas de
King do lado escuro do impul-
so criativo.
A peça central deste livro é a
história que lhe dá título. De
longe a história mais longa, If It
Bleeds é um conto com múlti-
plos elos com a ficção recente
de King. A protagonista – e a
heroína de fato – é Holly Gib-
ney, uma jovem erudita que
apareceu pela primeira vez em
Mr. Mercedes , de 2014, e que te-
ve um papel essencial no ro-
mance The Outsider , de King,
publicado em 2018. If It Bleeds ,
na verdade, é uma sequência
de The Outsider – embora conte-
nha detalhes relevantes para
ter existência própria.
Como em The Outsider , quan-
do Holly e um detetive buscam
uma antiga criatura vampírica,
em If It Bleeds ela aparece com-
batendo um monstro similar-
mente assustador. Desta vez,
contudo, ela precisa agir sozi-
nha. Ver como ela supera os
obstáculos – entre eles, seus
próprios medos, seu passado
complicado e a descrença dos
outros – é um dos grandes pra-
zeres do livro.
Holly é uma rara criação:
uma pessoa admirável. A afei-
ção de King por ela é evidente
em cada página e adiciona um
peso emocional à narrativa.
Holly apareceu em cinco dos ro-
mances de King e espero vê-la
novamente. Sua última apari-
ção fecha com chave de ouro
uma coleção repleta de praze-
res impressionantes, às vezes
inquietantes. Em If It Bleeds ,
King continua recorrendo a um
reservatório variado de histó-
rias. Sua obra continua profun-
damente empática, a qual le-
mos compulsivamente. Que es-
se reservatório nunca seque. /
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

O MESTRE DOS


‘If It Bleeds’ reafirma a maestria de Stephen King nesse tipo


de narrativa, com quatro textos novos bem no estilo do autor


Caderno 2


CONTOS


Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]
Sofia Patsch [email protected]

POLAROID
Emanoel Araujo, diretor do Museu
Afro Brasil, resumiu seu
sentimento durante a quarentena –
que passa em casa, no Bixiga, –
com frases que remetem ao poeta
simbolista Cruz e Sousa. “Eu me
sinto emparedado. Temeroso pela
República, pelos pobres, pelos
pretos e pelos povos indígenas”.

Blog: estadão.com.br/diretodafonte Facebook: facebook.com/SoniaRacyEstadao Instagram: @colunadiretodafonte

Alive 3


Há seis meses, esta coluna publi-
cou – baseada em relatório de
um grande banco – a avaliação
de que 30% de todas aplicações
financeiras no mundo estavam
rendendo juros negativos. Ho-
je, com a crise do coronavírus,
pode-se esperar o dobro.

Alive 4


Stuhlberger aposta na valoriza-
ção de ações de empresas.

Mostrou, por meio de gráficos,
como elas se recuperaram mun-
dialmente da crise de 2008. E
mais: “Nos EUA, pequenas em-
presas receberão empréstimos
que não precisarão ser devolvi-
dos e desempregados ganharão
benefícios maiores comparados
ao atual salário mediano”.

Alive 5


Desde sua criação em 1997, o
fundo Verde rendeu 15,3 mil por-
cento. O CDI? Pouco mais de 2
mil%. Neste ano, entretanto,
ele rendeu 14,2% negativos e o
CDI está hoje 1 %... positivo.

Born to be alive


Ainda repercute no mercado
financeiro brasileiro a live
protagonizada por Luis
Stuhlberger e Luiz Parrei-
ras , ambos da Verde Asset,
organizada pela XP sábado.

Com olhar mais otimista
comparado ao de outros ges-
tores de fundos, Stuhlberger
justifica: “Nessa crise não
existem culpados. O vírus é
um acidente da natureza.
Existe, então, disposição infi-
nitamente maior dos gover-
nos em ajudar”.

Alive 2


Por outro lado, o criador do
fundo Verde arriscou previ-
são que muitos gestores te-
mem cogitar. “A pior coisa
que você pode ter é dinheiro.
Provavelmente tanto ouro
quanto bitcoin ou terra vão
ser melhores do que dinhei-
ro”, disse Stuhlberger.

O gestor comparou a situa-
ção futura a um... “grande Pla-
no Collor” mundial.

DENISE ANDRADE

Fôlego cultural


Por conta da covid-19, o Ecad
adianta, amanhã, parte dos R$
14 milhões que repassa às asso-
ciações de música, benefician-
do quase 22 mil credores. São
titulares de obras musicais que
tiveram rendimento médio
anual entre R$ 500 e R$ 36 mil
nos últimos três anos.

Para crianças


A Sextante aposta na literatura in-
fantil na pandemia. Lança, em
maio, quatro livros junto com o
Manual do Mundo – maior canal
de Ciência e Tecnologia em língua
portuguesa com mais de 13 mi-
lhões de inscritos no YouTube.

Estranha, a vida


A Prefeitura esclarece que não há
relação entre os recursos dos hos-
pitais de campanha Pacaem-
bu/Anhembi e o BNDES. Afirma
que eles são públicos. Já o BNDES
informa que financia a Prefeitura
indiretamente: o banco está res-
ponsável por capacitar a Progen
de maneira que ela possa cumprir
contratos com a... Prefeitura.

KRISTA SCHLUETER/THE NEW YORK TIMES

Luis
Stuhlberger,
criador de
um dos
fundos mais
longevos
do País : o
fundo Verde.

O CONTO QUE DÁ NOME
AO LIVRO TEM MÚLTIPLOS
ELOS COM A FICÇÃO
RECENTE DE KING

SÃO HISTÓRIAS QUE
ABRANGEM UM
SURPREENDENTE
TERRITÓRIO EMOCIONAL

King. Sua obra continua
profundamente empática

IARA MORSELLI/ESTADÃO

Canal Unico PDF - Acesse: t.me/jornaiserevistas
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