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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020 Internacional A
Paulo Beraldo
Com a pandemia de coronaví-
rus e seus efeitos econômicos, o
Brasil caminha para voltar ao
Mapa da Fome. É o que afirma o
economista Daniel Balaban,
chefe do escritório brasileiro
do Programa Mundial de Ali-
mentos (WFP, na sigla em in-
glês), a maior agência humanitá-
ria da ONU.
No Brasil, a estimativa é de
que cerca de 5,4 milhões de
pessoas – a população da No-
ruega – passem para a extrema
pobreza em razão da pande-
mia. O total chegaria a quase
14,7 milhões até o fim de 2020,
ou 7% da população, segundo
estudos do Banco Mundial.
“O Brasil saiu do Mapa da Fo-
me em 2014, mas caminha a pas-
sos largos para voltar”, disse
ele, em entrevista ao Estado.
Só entram no mapa países
com mais de 5% da população
em pobreza extrema, levando
em conta anos anteriores.
lComo vê o cenário da
pandemia hoje no Brasil?
Vemos com muita preocupação
no Brasil e ao redor do mundo
também. O Programa Mundial
de Alimentos é a maior agência
de ajuda humanitária das Na-
ções Unidas e está na linha de
frente do combate à fome. Te-
mos hoje em torno de 821 mi-
lhões em situação de inseguran-
ça alimentar, mas há 135 mi-
lhões que realmente passam fo-
me. São pessoas que estão não
só em situação de insegurança,
mas não tem o que comer.
lE quais serão os impactos
dessa pandemia para a fome e a
insegurança alimentar?
Avaliamos que, nos próximos
anos, em torno de 130 milhões
se juntarão a esses 135 mi-
lhões, formando 265 milhões.
Vai dobrar o número de pes-
soas com fome crônica no
mundo. Os países têm
de se unir rapidamen-
te para tentar evitar
que esse número au-
mente.
lComo está o Brasil
nesse contexto?
A situação não é
diferente. O
País está ho-
je com um número muito de al-
to pessoas em extrema pobre-
za, que ganham menos de US$
1,90 por dia. São 9,3 milhões,
segundo dados de 2018. A esti-
mativa agora é que, por conta
dos efeitos econômicos, mais
5,4 milhões deverão entrar na
extrema pobreza, segundo o
Banco Mundial. O Brasil saiu
do Mapa da Fome em 2014.
Agora, está caminhando a pas-
sos largos para voltar.
lDe que forma a atual gestão da
pandemia poderia reduzir esse
impacto?
O grande drama que vejo é que
não há uma unicidade, um co-
mando que lidere o Brasil co-
mo um todo para sair desta pan-
demia. De uma forma que haja
menos mortes e menos infecta-
dos. Cada Estado toma suas
próprias decisões, os municí-
pios também estão tomando. O
governo federal tem uma
linha difusa, não sabe se
apoia ou não a Organização
Mundial da Saúde (OMS), se
apoia a quarentena ou não. Isso
fica muito complicado.
lComo corrigir isso?
É preciso uma forte liderança
nacional. Os sinais passados
são difíceis de entender e de
acompanhar. Quem está falan-
do o certo? E, ao mesmo tem-
po, somos bombardeados no
Brasil o tempo inteiro com in-
formações falsas. É preciso
identificar, multar e prender
quem faz isso. O papel do Esta-
do é fazer chegar alimentos e
recursos financeiros para que
essas famílias se mantenham.
O Estado tem de ser capaz de
ajudar a população em um mo-
mento como esse, totalmente
emergencial. Requer medidas
diferenciadas. As medidas do
Congresso e do governo fede-
ral, de fornecer auxílio de R$
600, não resolve, mas ameniza
o problema.
lQue bons exemplos o senhor
vê ocorrendo ao redor do Brasil?
Pernambuco fez uma orienta-
ção muito forte com relação à
covid-19. O Maranhão conse-
guiu trazer os respiradores. O
Ceará é extremamente atingi-
do, mas tem reagido bem. O
Rio Grande do Norte tam-
bém. Quanto menor o Estado,
quanto mais organizado, mais
fácil de fazer com que as
orientações sejam seguidas.
Por isso, acredito que devería-
mos ter uma orientação cen-
tralizada.
lFaz falta neste momento um
conselho como era o Conselho
Nacional de Segurança Alimen-
tar, que foi extinto em 2019?
Foi extremamente importante.
Muitas políticas concebidas a
partir do início do século 21 fo-
ram aperfeiçoadas através des-
se conselho. O governo não é
obrigado a seguir, se não con-
cordar. O Brasil criou o Consea
e hoje vários países do mundo
têm conselhos criados com ba-
se nele.
Alerta.
Balaban:
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PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
JAMED FALIK/IFPRI-10/4/
CANADÁ
● 821 milhões de pessoas não têm comida suficiente diariamente
MAPA DA FOME EM 2019
FONTES: FAO/ONU INFOGRÁFICO/ESTADÃO
MENOS
DE 2,5%
Prevalência da insegurança alimentar na população total entre 2016 e 2018
BRASIL
MÉXICO
ARGENTINA
PERU
CHILE
VENEZUELA
COLÔMBIA
EGITO
SUDÃO
MADAGASCAR
INDONÉSIA
RÚSSIA
JAPÃO
CHINA
AUSTRÁLIA
CASAQUISTÃO
IRÃ
TURQUIA
REINO
UNIDO
ÁFRICA
DO SUL
PORTUGAL
FRANÇA
ITÁLIA
SUÉCIA
ÍNDIA
BOLÍVIA
CUBA
EUA
MENOS
DE 5%
DE 5 A
14,9%
DE 15 A
24,9%
DE 25 A
34,9%
MAIS
DE 35%
DADOS NÃO
DISPONÍVEIS
OS DADOS DO MAPA DA FOME LEVAM EM CONTA OS ANOS ANTERIORES AO LANÇAMENTO
DO RELATÓRIO; PAÍSES COM 5% DE POPULAÇÃO EM EXTREMA POBREZA ENTRAM NA LISTA
Brasil está voltando
ao Mapa da Fome,
diz diretor da ONU
Chefe do Programa
Mundial de Alimentos
afirma que 5,4 milhões
de brasileiros passarão
para extrema pobreza
Daniel Balaban, chefe do escritório brasileiro do Programa Mundial de Alimentos da ONU