carta
Se hoje é amplamente aceito que temos
desejos e angústias que escondemos de nós
mesmos, o mundo tomou um susto quando,
na virada do século 19 para o 20, Sigmund
Freud concluiu que a personalidade que
projetamos não é resultado de decisões
conscientes – sábias ou estúpidas –, e sim
de conflitos mentais que acontecem fora
do nosso alcance, nos porões escuros do
inconsciente. Em substituição ao homem
cartesiano, movido por uma mente racional,
Freud apresentou um indivíduo moldado
por uma razão imperfeita, cujo combustível
são impulsos selvagens que precisam ser
domados, pois batem de frente com a vida
em sociedade. De quebra, criou uma terapia
na qual o protagonismo da ação terapêutica
é do paciente, não do especialista – e assim
criou um modelo a ser seguido por todas
as psicoterapias depois dele.
Você nem precisa ler Freud para viver sob
a influência desse austríaco viciado em
charutos. Qualquer um que consome cul-
tura de massa transita por ideias que as
teorias freudianas fixaram no senso comum.
Seus conceitos estão nas novelas, nos ar-
tigos de jornal, na publicidade. Sem a psi-
canálise, Woody Allen nunca teria feito seus
melhores filmes.
Por tudo isso, nenhum dos grandes pen-
sadores jamais esteve à altura de Freud no
ranking fictício dos “mais citados em me-
sa de bar”. Ideias polêmicas como o com-
plexo de Édipo e a inveja do pênis são
frequentes nas conversas entre leigos há
quase um século – com todos os equívocos
que o conhecimento meramente superficial
dessas teorias costuma provocar.
A razão de ser deste dossiê é explicar e
descomplicar Sigmund Freud, corrigindo
os mitos e apresentando, de forma trans-
parente, suas principais teorias – tudo de
um modo acessível, sem apelar a jargões,
mas sem menosprezar a sua inteligência.
O que você vai ler é um passeio mais que
necessário pela própria natureza humana.
Afinal, sexualidade, emoções e conflitos
de personalidade são o material sofisticado
de que somos feitos – o estofo da nossa
humanidade. Temas obrigatórios no centro
dessa mesa de bar filosófica.
EDITOR
Alexandre Carvalho é autor do livro
Freud – Para entender de uma vez, da
SUPER, no qual se baseia este dossiê.
S
O INVENTOR DA MODERNIDADE
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