CAMINHADAEMTÓQUIO 89
e agita as agulhas dos pinheiros. Lá ao fundo, na-
vios de carga fazem soar os avisos sonoros.
A governadora confidenciou que o seu dia fora,
até ao momento, consumido pelo encerramento
do mercado de Tsukiji. Havia problemas. Era
complicado: mais um projecto superlativo na ci-
dade superlativa.
Voltámos a atravessar o parque até ao local
onde se encontrava estacionada a pequena car-
rinha branca da governadora. Cidadã activa de
Tóquio há quase 40 anos, Yuriko Koike presi-
de actualmente a uma enorme transformação,
talvez menos dramática do que a guerra ou um
incêndio, mas igualmente profunda. As cidades
tendem para o caos e, de certa forma, o trabalho
da governadora é recordar a forma como o caos
consumiu tão recentemente Tóquio. Reconhe-
cendo essa fragilidade, tem de passar os dias a
mantê-a à distância.
Perguntei-lhe como achava que a cidade mu-
dara durante o seu tempo de vida. Pergunta típi-
ca de jornalista, provavelmente já ouvida muitas
vezes. A governadora riu-se. “Eu sei que mudou,
mas por vezes é como se não tivesse mudado”,
disse. “Quando fazemos parte da história, às ve-
zes é difícil percebermos isso.” j