CAMINHADAEMTÓQUIO 81
Golden Gai é um
bairro de diversão,
com centenas de bares
minúsculos, onde os
habitantes de Tóquio
e os turistas cantam
músicas em karaoke
pela madrugada
adentro. As vielas
servem de cenário a um
dos bairros de diversão
mais densos do mundo
e o karaoke (inventado
noutra cidade) continua
a ser um dos
passatempos mais
populares do Japão.
dava a passear. Por vezes, Kengo Kuma é rotu-
lado como antiurbanista por se opor ao aspecto
rígido e massificado das cidades, mas rejeita ra-
pidamente esse epíteto.
“Dizem que sou um crítico das cidades”, dis-
se, abanando a cabeça. “Eu quero remodelar a
cidade. Quero dividir o espaço e recuperar uma
escala mais pequena.” Essa escala mais pequena
foi, em tempos, uma característica definidora da
vida japonesa e permitia a existência de mais ár-
vores, jardins, parques e mais ligações humanas.
Como é óbvio, será o gigantesco estádio oval
que talvez venha a defini-lo para as gerações
vindouras. No entanto, até nisso, a estrutura re-
flecte a visão do arquitecto – a visão de um futu-
ro no qual as estruturas são construídas para se-
rem utilizadas de maneiras diferentes ao longo
da sua vida útil, sem serem demasiado pesadas
para a paisagem. Depois dos Jogos Olímpicos, o
complexo transformar-se-á num estádio de fu-
tebol. Ficará no centro de um bosque e vários pi-
sos serão revestidos com mais vegetação, plan-
tada em passadiços ao ar livre. A cobertura do
estádio também é aberta, permitindo a entrada
de luz natural no interior.
“Temos efectivamente um problema de den-
sidade”, disse Kengo Kuma. “Até ao presente, o
nosso design urbano consistiu em escolher um
terreno e construir um edifício enorme em cima
dele... O método asiático tem sido destruir tudo
para arranjar espaço para arranha-céus e centros
comerciais.”
A densidade demográfica intensificou-se
após o terramoto de Kanto e novamente após a
destruição causada pela Segunda Guerra Mun-
dial. Muitas das grandes cidades do mundo
são aglomerados antigos, registos tridimensio-
nais do comportamento humano, edificados ao
longo de muitos séculos. Em contrapartida, a
Tóquio contemporânea foi construída rapida-
mente e ao acaso, com edifícios, auto-estradas
e linhas férreas instalados nos espaços vazios
criados pelas bombas e pelos incêndios.
As consequências são reflectidas por alguns dos
mais sombrios problemas de Tóquio, incluindo
o kodokushi, a morte solitária. O arquitecto es-
ticou o braço e tocou num pilar de betão ao seu
lado. “Hoje, os meus alunos preferem viver em
casas partilhadas. Eis uma novidade... Esse tipo
de estilo de vida foi abandonado depois da guer-
ra. Temos vivido em espaçosisolados,separados
por betão. As pessoas nãoqueremisso.Sabemque
lhes faz mal.” (Continua na pg. 86)