Piauí - Edição 152 [2019-05]

(Antfer) #1

professor da USP que viria a ser secretário da Fazenda no primeiro
governo Hartung. “Muitas empresas viviam assim também. O Real
quebrou esse negócio.”


No caso capixaba, a situação se agravou como consequência de uma
escolha desastrada feita por Vitor Buaiz, primeiro governador eleito pelo
PT no país, pouco depois de assumir o Executivo, em 1995. “O governo
Vitor se caracterizou por uma decisão equivocada quanto à política
salarial”, avaliou Oliveira. “Os economistas do PT argumentavam que a
inflação ia voltar, que o Plano Real iria fracassar. Convencido disso, ele
decidiu dar um aumento salarial de 25% para o funcionalismo, na
largada do mandato. Só que, para azar dele, a inflação acabou. Essa
decisão desestruturou o governo, que já estava numa situação de
equilíbrio financeiro precário. Começaram os grandes atrasos salariais.”


Os problemas continuariam no governo seguinte, do tucano José Ignácio
Ferreira, dando origem ao chamado “parlamentarismo capixaba”. A
preponderância que a Assembleia veio a ter sobre o Palácio Anchieta é
explicada pelo cientista político Mauro Petersem Domingues, professor
da Ufes, da seguinte maneira: “Os governadores não tinham muito como
distribuir benefícios aos deputados para garantir a lealdade deles. O que
aconteceu foi que um grupo bem articulado de deputados, que tinha um
perfil mais mafioso, digamos assim, conseguiu estabelecer essa liderança
de dentro da Assembleia.”


Numa entrevista para a Folha de S.Paulo, em 2002, José Carlos Gratz
explicou como havia conseguido se eleger presidente do Legislativo por
três vezes consecutivas, além de contar com o apoio inconteste de quase
todos os trinta deputados da Casa: distribuindo recursos, que
financiavam as campanhas de seus futuros colegas. “Esses otários aqui,
quantas vezes eu for deputado, eles têm que votar em mim” para
presidente da Assembleia, disse.


As “ajudas” do grupo de Gratz, segundo Domingues, não iam apenas
para os parlamentares. “Eles passaram a distribuir recursos também para
os funcionários da Casa. E para o Tribunal de Contas. Criaram assim um
mecanismo de chantagem muito poderoso: ameaçavam rejeitar as contas
do governador ou de prefeitos, controlando a classe política local.”

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