que estavam instalando um acesso venoso para a colocação de soro. Eu
disse que não queria soro – pensei imediatamente em ocitocina sintética
- , mas eles já haviam furado e deixaram o acesso pendurado. Me
trouxeram o infame Termo de Esclarecimento e Consentimento Livre e
Informado para Parto, que eu, naquele estado de dor, obviamente assinei
sem questionar. Perguntaram se eu queria anestesia; meio zonza, ia
responder que sim, mas uma das enfermeiras plantonistas (ou terá sido a
Providência Divina?) me soprou a resposta certa: “Ela quer esperar a
médica dela chegar, né?” Repeti a frase com convicção, satisfeita por ter
arrumado uma advogada improvisada no meio daquela balbúrdia.
Colheram meu sangue sem pedir autorização; depois fiquei sabendo que
era para tipagem sanguínea, teste rápido de sífilis e DNA materno.
Eu chorava sem parar, assustada e com dor, sem saber quando chegaria o
meu acompanhante e a enfermeira. Foi quando percebi um rosto
conhecido no meio da equipe do hospital: era a enfermeira que eu havia
contratado de início, mas que precisou me dispensar por imprevistos
profissionais. Ela agora trabalhava lá e foi me acalmar, falando comigo
bem baixinho. “A Larissa já está vindo”, avisou. Parei de chorar e
respondi, em voz alta: “Você estava comendo pipoca? Estou sentindo
cheiro de pipoca.”[12]
Depois de um tempo, enfim, todos chegaram: Gigio, Natália e a dra.
Larissa. Eles encheram a banheira e eu entrei para ver se aliviava a dor,
mas imediatamente comecei a me sentir mal. Pedi anestesia. Às 16h15, a
enfermeira do hospital anotou no prontuário: “Gestante apresentou
episódio de vômito em grande quantidade.” Lembro apenas de batizar o
chão com um líquido esverdeado e repleto de nítidos gomos de laranja,
que foi se espalhando lentamente para os cantos da sala. As enfermeiras
perguntaram se podiam me colocar no soro. A dra. Larissa pareceu
desconfiada, mas, diante da afirmação “É só soro!”, deu a autorização.
O anestesista chegou, pediu que eu assinasse um termo de consentimento
e deu início à administração de analgesia combinada (peridural e
raquidiana), também chamada de duplo bloqueio. Nesse procedimento,
uma agulha é inserida dentro da outra: a mais fina se presta a injetar um
anestésico de efeito rápido no espaço subaracnóideo (raquianestesia),
enquanto a mais grossa perfura o espaço peridural e dispensa outro tipo