National Geographic - Portugal - Edição 218 (2019-05)

(Antfer) #1

  • MÉTODOS DE RECOLHA VARIÁVEIS. ALBERTO LUCAS LÓPEZ, RYAN T. WILLIAMS E CLARE TRAINOR. FONTES: LAURENT LEBRETON, FUNDAÇÃO THE OCEAN CLEANUP (PACÍFICO
    NORTE); KARA LAVENDER, ASSOCIAÇÃO SEA EDUCATION (ATLÂNTICO NORTE); JAMISON GOVE E JONATHAN WHITNEY, NOAA (HAWAI); SHIYE ZHAO, INSTITUTO
    OCEANOGRÁFICO HARBOR BRANCH (BAÍA DE HANGZHOU); PETER ROSS, OCEAN WISE (ILHA HOPE); X. PENG E S. CHEN, ACADEMIA CHINESA DE CIÊNCIAS (FOSSA DAS
    MARIANAS, AMOSTRA DE ÁGUA E SEDIMENTOS); COLIN JANSEN, UNIVERSIDADE DE GANTE (FRENTE POLAR); RICHARD THOMPSON, UNIVERSIDADE DE PLYMOUTH (OCEANO
    ÍNDICO, MEDITERRÂNEO E GOLFO DE BISCAIA); MELANIE BERGMANN, CENTRO DE INVESTIGAÇÃO POLAR E MARINHA DE HELMHOLTZ (ESTREITO DE FRAM)


Já na década de 1970 os cientistas
descobriam grânulos de plástico – o
material utilizado para fabricar pro-
dutos de plástico – nos estômagos
dos peixes capturados ao largo de
Nova Inglaterra e da Grã-Bretanha.
Estudos mais recentes documenta-
ram a presença de partículas mais
pequenas de microplásticos em
muito mais peixes adultos. As larvas
de peixe têm sido menos estudadas,
mas são provavelmente mais vulne-
ráveis aos microplásticos, como a
quase tudo o resto.
Muitos peixes oceânicos são pés-
simos progenitores. Libertam mi-
lhares, ou mesmo milhões, de ovos
e esperma em mar aberto e nem
sequer chegam a ver os seus descen-
dentes. Quando os ovos eclodem,
um ou dois dias mais tarde, os peixes
têm de desenvencilhar-se sozinhos.
Os peixes recém-nascidos pa-
recem deformados, com a cabeça
sobredimensionada e a cauda mal-
formada. Precisam de alimentar-se
freneticamente para ganharem cor-
po. Enquanto os bebés humanos se
desenvolvem dentro do abrigo pro-
tector do útero, os peixes desenvol-
vem-se sobretudo depois de emergi-
rem num mundo inclemente.
“Eclodem muito cedo”, diz Jona-
than Whitney. “Têm cérebros peque-
nos. Algumas barbatanas nem sequer
estão formadas. O fígado ainda não
se desenvolveu plenamente, nem os
sentidos da audição e da visão. Só es-
tão parcialmente desenvolvidos, mas
já nadam e comem sozinhos, tratan-
do de si, sem qualquer ajuda.”
Os predadores ou a fome elimi-
nam a maioria. “É por isso que os
peixes põem tantos ovos”, diz Su
Sponaugle, especializada nas fases
iniciais da vida dos peixes. “Preci-
sam de compensar a baixa probabi-
lidade de sobrevivência.”
O estado larvar é traiçoeiro em
cada etapa do caminho, começando
pela necessidade de as larvas en-


contrarem alimento, o que sucede
numa mancha de superfície. Estas
manchas de superfície formam-se
sobretudo junto das orlas costeiras
de todo o mundo, sempre que as cor-
rentes, as marés ou as ondas subsu-
perfi ciais levam a água a convergir,
concentrando a matéria orgânica
que nela fl utua.
Algumas larvas de peixe nadam
até às manchas, outras vogam à
deriva, tal como sucede aos ovos
por eclodir. Os predadores também
afl uem às manchas. Se um pequeno
peixe conseguir não ser devorado
e ingerir alimento sufi ciente, terá
cerca de cinco centímetros de com-
primento quando regressar ao seu
habitat permanente. A corrente cer-
ta conduzi-lo-á lá, a corrente errada
transportá-lo-á para o mar alto. Para
os peixes em estado larvar, a vida já
era um jogo de dados antes de te-
rem de enfrentar o lixo de plástico.

Jonathan Whitney e Jamison Gove
chegaram à oceanografi a e ao Hawai
por mero acaso. Jonathan tem 37 anos
e cresceu em Nova Jersey. O seu
sonho de infância era ser veterinário.
Em 2006, viajou para Honolulu como
voluntário com vontade de participar
num censo de baleias-corcunda. Na
pós-graduação, foi descendo na
cadeia biológica até atingir os organis-
mos marinhos mais minúsculos.
Em contrapartida, Jamison, de 40
anos, cresceu em San Diego e apren-
deu a fazer surf antes de saber ler.
Depois de ajudar a remover 65 tone-
ladas de redes de pesca abandonadas
nos recifes de coral do Hawai, iniciou
o percurso académico para se tor-
nar oceanógrafo. Especializou-se na
forma como os ventos, as marés e as
ondas afectam os ecossistemas oceâ-
nicos e as manchas de superfície.
As manchas de superfície são
temporárias, pois desfazem-se com
o mau tempo, o que transforma o
seu estudo num desafi o.
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