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da vizinha Rodésia (actual Zimbabwe) e da Áfri-
ca do Sul. Quando o exército nacional avançou
para confrontá-los, travaram-se combates no
terreno, ataques com foguetes à sede do parque.
Registou-se uma carnificina na savana.
Além do massacre de elefantes, milhares de
zebras e outros animais de grande porte foram
mortos para consumo da sua carne ou por mera
diversão. Uma trégua travou a guerra em 1992,
mas a caça furtiva continuou e mesmo as comu-
nidades vizinhas instalavam armadilhas para
capturar quaisquer animais comestíveis que
restassem. Na viragem para o século XXI, o Par-
que Nacional da Gorongosa estava arruinado.
As circunstâncias eram igualmente sombrias
para as aldeias em redor da Gorongosa. Cerca
de cem mil pessoas viviam num território que
os responsáveis pelo ordenamento classificam
actualmente como zona-tampão – a maioria das
famílias trabalhava na produção de milho e de
outras culturas de subsistência, mal conseguin-
do alimentar-se. As crianças careciam de ensino
e cuidados de saúde.
O crescimento da população de elefantes é
apenas uma parte das boas notícias relativas à
Gorongosa. A maioria dos animais de grande
porte, incluindo leões, búfalos-africanos, hipo-
pótamos e gnus, existe agora em número muito
superior ao registado em 1994, pouco depois do
fim da guerra. No reino da conservação, no qual
demasiados indicadores anunciam pessimismo
e desespero, o sucesso em grande escala é raro.
Louis van Wyk acabou de ajustar a coleira
de marcação e Dominique Gonçalves arrumou
as amostras. Foi injectado um fármaco na veia
da orelha para despertar o animal e a equipa
recuou até uma distância segura. Passado um
minuto, a fêmea levantou-se, abanando a cabe-
ça ensonada, e afastou-se a passos largos, jun-
tando-se à manada. A monitorização dos dados
informará Dominique e os colegas sobre os pa-
drões de deslocação dos elefantes, alertando-os
caso a manada atravesse uma fronteira do par-
que em direcção a um campo agrícola, permi-
tindo assim ao agricultor tomar medidas para
salvar as suas culturas.
É assim que funciona o Projecto de Restauro
da Gorongosa, uma parceria iniciada em 2004
entre o governo moçambicano e a Fundação
Gregory C. Carr, sediada nos EUA. Para que ele-
fantes, hipopótamos e leões prosperem num
parque delimitado, é preciso garantir que os
seres humanos que vivem fora do parque tam-
bém prosperem.
ESTENDENDO-SE SOBRE UMA PLANÍCIE de aluvião
situada na extremidade meridional do Grande
Vale do Rifte, em África, abrangendo savanas,
florestas, zonas húmidas e um grande corpo de
água chamado lago Urema, a Gorongosa foi em
tempos uma reserva de caça: a administração
colonial portuguesa criou-a em 1921 para a prática
de desportos de lazer, removendo do território as
pessoas que ali partilhavam a paisagem com a
vida selvagem. Em 1960, a data da classificação
como parque nacional, a Gorongosa continha
cerca de 2.200 elefantes, duzentos leões e 14 mil
búfalos-africanos, bem como hipopótamos,
impalas, zebras, gnus e outros exemplares icóni-
cos da fauna africana.
No entanto, o seu isolamento revelou-se fatal.
Na devastadora guerra civil de 15 anos que se se-
guiu à independência em 1975, a Gorongosa ser-
viu de refúgio à Resistência Nacional Moçam-
bicana (ou RENAMO), as forças rebeldes com
ideologia de direita que receberam apoio militar