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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 16 DE MAIO DE 2020 Economia B3
ADRIANA
FERNANDES
S
e tem alguma coisa que pode
tirar o ministro da Economia,
Paulo Guedes, do sério na
aliança em construção do presiden-
te Jair Bolsonaro com o Centrão é a
tentativa de avanço sobre os bancos
públicos: BNDES, Caixa e Banco do
Brasil. Esse é o sinal.
O presidente já atropelou pontos
importantes da agenda econômica
do ministro, mas ao final os dois aca-
bam sempre arrumando um jeito de
acertar os ponteiros, numa relação
simbiótica de patamar bem diferen-
te daquela que havia entre Bolsona-
ro e Sergio Moro.
É só fazer uma retrospectiva dos
embates em torno das empresas re-
tiradas do alvo do programa de pri-
vatização, a reforma administrati-
va, a autorização para lançamento do
Pró-Brasil, o congelamento de salários
dos servidores públicos e o atraso do
presidente em vetar a lei do auxílio
emergencial aos Estados e municí-
pios. Isso só para citar a lista mais re-
cente das disputas bolsonarianas com
o seu ainda superministro.
Após a tensão de ontem, em Brasília,
com a demissão do ministro da Saúde,
Nelson Teich, Guedes fez discurso no
Palácio do Planalto de completo apoio
à estratégia do presidente, ao lado de
outros três ministros. “O presidente é
um homem determinado”, justificou.
Em discurso alinhadíssimo, apelou:
“Vamos subir em cadáveres para se
aproveitar do governo?”
Guedes já havia participado da mar-
cha empresarial de Bolsonaro ao Su-
premo Tribunal Federal (STF) e da po-
lêmica videoconferência em que o pre-
sidente instigou a guerra dos empresá-
rios com os governadores. Ele também
assinou a Medida Provisória (MP),
considerada inconstitucional, e que
isenta agentes públicos de serem res-
ponsabilizados por erros que comete-
rem durante o enfrentamento da pan-
demia da covid-19 ou de seus efeitos na
economia do País.
“Tamo junto”. É o que diz o ministro
sobre o presidente. Mesmo que o presi-
dente esteja demorando (já passou
uma semana) para vetar artigo da lei
que permite reajustes de dois terços
dos servidores públicos. Guedes cobra
e Bolsonaro dá tempo para governado-
res e prefeitos darem os reajustes. Mas
ele estava lá no Palácio.
Como revelou o Estadão, foi tudo
acertado com o governador do Distri-
to Federal, Ibaneis Rocha, para o rea-
juste dos salários de policiais. Guedes
chiou? Não. A assessores, diz que o
acerto dos reajuste já havia feito há
seis meses. E a espera continua.
Guedes já aceitou indicações políti-
cas para cargos do seu gigantesco mi-
nistério e deverá aceitar outros. Os in-
dicadores dos cargos terão que cuidar
dos seus indicados. Numa espécie de
porteira fechada às avessas. Eles que
respondam pelos seus erros.
Mas não mexam no quintal mais im-
portante do seu jardim. É o que minis-
tro chama de “principais ferramentas”
para a sua política econômica. Essas
ele não abre mão, como ocorreu na rea-
ção ao Plano Pró-Brasil, lançado a sua
revelia e momento em que chegou a
pensar se valia a pena continuar no go-
verno. É mexer no que ela acha que
está no caminho certo.
A blindagem dos bancos públicos é
central para a equipe econômica. Tem
gente de olho também na secretaria es-
pecial que representava o antigo minis-
tério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior. Por isso, as notí-
cias recentes de divisão do Ministério
da Economia.
Como a divisão do ministério, os ban-
cos também estão na mira do Centrão.
É onde tem o poder da concessão do
crédito e onde o teto de gasto não é
uma restrição. Basta decisão política.
Explico: as capitalizações de empresas
estatais estão fora do teto. É um espa-
ço de cobiça para 2021, quando o Orça-
mento de Guerra não estará mais
em vigor, assim como a licença para
gastar com dinheiro do Orçamento.
A Caixa é o principal alvo. Ainda
mais agora que é a responsável pela
distribuição do auxílio emergencial
de R$ 600 para a população de baixa
renda e os trabalhadores informais
atingidos pela covid-19. Uma arma
eleitoral e de prestígio tão poderosa
que dificilmente o ministro e sua
equipe conseguirão acabar com o be-
nefício no prazo determinado.
Se antecipando, o Ministério da
Economia começou a desenhar
uma reforma na política social para
depois da pandemia, já que não con-
seguirá manter os R$ 600 para tanta
gente, mas sabe que terá que dar
uma resposta nessa área. Imprescin-
dível para o momento. Um embate
que pode ajudar a reverter gastos tri-
butários ineficientes, injustos, e sub-
sídios para setores específicos que
não se justificam num cenário em
que a população vai sair mais pobre
ainda da pandemia.
]
É JORNALISTA
Renato Jakitas
A disparada do dólar, que já
acumula no ano valorização
superior a 45% ante o real, au-
mentou em R$ 907 bilhões o
total que bancos e empresas
brasileiras terão de desem-
bolsar para fazer frente a dívi-
das no exterior. Ainda que o
volume de novos emprésti-
mos em moeda estrangeira te-
nha crescido pouco no perío-
do, a variação cambial elevou
a quantidade nominal de
reais para saldar os mesmos
compromissos. Segundo o
Banco Central, a dívida total
em dólar das empresas no
Brasil está em US$ 482 bi-
lhões – o equivalente hoje a
R$ 2,846 trilhões, ante R$
1,939 trilhão em janeiro.
Segundo o BC, a situação é
complicada para cerca de 20%
das empresas brasileiras que
não contam com instrumentos
de proteção à variação de câm-
bio, chamado de hedge cambial
pelo mercado, o que deixaria es-
ses empreendimentos total-
mente vulneráveis às flutua-
ções do dólar. Esse dado sobre o
hedge é de 2018, mas para Car-
los Antonio Rocca, coordena-
dor do Centro de Estudos de
Mercado de Capitais da Fipe
(Cemec-Fipe), essas empresas
não aumentaram de maneira ex-
pressiva o investimento em ins-
trumentos de proteção desde
então. “Esses negócios estão à
mercê do dólar”, diz.
Dados da própria Fipe indi-
cam que, em média, as grandes
empresas brasileiras – com capi-
tal aberto e fechado – estão, nes-
te momento, com 57,7% de sua
dívida total em moedas estran-
geiras, um aumento superior a
10 pontos porcentuais do início
do ano para cá. “Esse aumento
acontece porque o dólar subiu e
desequilibrou a proporção, que
antes era minoritária”, afirma
Rocca.
Luz amarela. Analistas do mer-
cado financeiro observam com
atenção o cenário. Segundo eles,
apesar das grandes empresas ho-
je protegerem uma parte da dívi-
da com ferramentas disponíveis
no mercado, ainda há aquelas
muito expostas. “Empresas do
setor aéreo, algumas importado-
ras e varejistas ainda investem
pouco em hedge”, diz um opera-
dor de mesa de câmbio que pede
para não se identificar.
Um exemplo é o da Azul Li-
nhas Aéreas. A empresa tem
uma dívida bruta de R$ 20 bi-
lhões, mas, desse montante, R$
14 bilhões são referentes ao ar-
rendamento das aeronaves, por-
tanto em dólar. Em seu último
balanço, a empresa afirma que
faz hedge apenas dos custos
com combustível, adquirido em
moeda estrangeira. Deixa com is-
so 70% de sua dívida flutuando
ao sabor dos humores cambiais.
Procurada, a Azul informa
em nota que, para minimizar a
alta do dólar, negociou uma pos-
tergação do pagamento dos ar-
rendamentos das aeronaves,
mas não informou os novos pra-
zos. “Nesse cenário, usamos um
hedge natural, que é basicamen-
te aumentar o preço das passa-
gens para compensar a pressão
nos custos por causa da varia-
ção cambial”, afirma, por meio
de assessoria de imprensa.
Outras empresas, além da
Azul, também têm boa parte de
sua dívida em dólar. Mas, por
serem exportadoras, recebem
em dólar e, por isso, não se preo-
cupam com a aquisição de pro-
dutos financeiros que travem a
cotação da moeda. É o caso da
Suzano, que produz papel e ce-
lulose. As variações cambial e
monetária afetaram negativa-
mente o resultado financeiro
da Suzano em R$ 12,420 bilhões
no primeiro trimestre de 2020,
mas isso tende a ser relativiza-
do pelo investidor. Em torno de
94% da dívida bruta da empresa
é calculada em dólar. Ao mes-
mo tempo, 83% da sua receita
líquida no período foi gerada no
mercado externo. / COLABOROU
FABIANA HOLTOZ
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Dólar alto
faz disparar
dívida de
empresas
lPressão
lO clima político voltou a pesar
ontem no mercado financeiro,
depois do pedido de exoneração
do agora ex-ministro da Saúde
Nelson Teich. O dólar fechou o
dia cotado a R$ 5,8390, uma alta
de 0,34%, enquanto a Bolsa de
Valores de São Paulo (B3) re-
cuou 1,84%, a 77.556 pontos.
Desde o começo de 2020, o dólar
já subiu 45% frente ao real; só no
mês, o ganho chega a 7,36%. O
real mantém o pior desempenho
em relação ao dólar numa cesta
com outras moedas de países
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ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS
As disputas de Guedes
● Segmentos de petróleo, mineração, papel e celulose têm dívidas em dólar,
mas também muita receita em moeda estrangeira
EXPOSIÇÃO AO DÓLAR POR SETOR
FONTE: XP INFOGRÁFICO/ESTADÃO
EM PORCENTAGEM
Petróleo e combustíveis
Mineração e siderurgia
Papel e celulose
Bens de capital
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Aéreas
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Transportes
Energia e saneamento
Varejo
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Varejo
81,40
73,90
73,40
58,50
34,20
18,60
6,20
4
0
0
91,50
88,60
85,70
72,20
70,00
49,80
13,50
6,90
2,80
2,50
Receita Dívida
“(Empresas que não
aumentaram sua proteção)
estão à mercê do dólar.”
Antonio Rocca
COORDDENADOR DO CEMEC-FIPE
“Usamos um hedge natural,
que é aumentar o preço das
passagens para compensar
a pressão nos custos.”
Azul Linhas Aéreas
EM NOTA
Custo já acumula alta de R$ 907 bi no ano;
mercado vê 20% de empresas sem proteção
Moeda vai a R$ 5,83
com crise política