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H6 Especial SÁBADO, 16 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
viagem
Mônica Nóbrega
ESPECIAL PARA O ESTADO
Tenho o privilégio de trabalhar
a 5 quilômetros de casa. Antes
da covid-19 e do home office, ia
e voltava de ônibus, em viagens
de 15 minutos, no máximo.
Só que agora está cada vez
mais evidente que o transporte
público será um dos grandes de-
safios para o planeta pós-pande-
mia. No meu caso específico,
carro particular não é uma alter-
nativa: perto de onde trabalho,
as vagas de estacionamento são
poucas e caríssimas.
Daí que tenho considerado se-
riamente a bicicleta. Não só eu:
para esvaziar os ônibus e me-
trôs à medida que forem sendo
retomadas as atividades econô-
micas, o governo da França
anunciou um pacote de 20 mi-
lhões de euros para incentivar o
uso da bike nos deslocamentos
diários, o que inclui uma ajuda
aos cidadãos de 50 euros por
pessoa para pequenos conser-
tos. Paris prevê criar mais 750
quilômetros de ciclovias. Ber-
lim, cidade onde grande parte
da população já pedala cotidia-
namente, começou a ampliar as
linhas amarelas que demarcam
o espaço das bikes, reduzindo o
dos carros quando necessário.
Pensar mais seriamente em
usar a bicicleta todo dia em São
Paulo me fez lembrar da minha
primeira vez na Califórnia. O
objetivo principal da viagem
era participar da IPW em Los
Angeles, maior feira de negó-
cios do turismo dos Estados
Unidos. Emendei uma semana
a mais para conhecer um pouco
da costa californiana.
Essa semana, passei hospeda-
da em Santa Monica. Não plane-
jei pedalar, pelo menos não
com tanta frequência. Só que,
no check-in no hotel Fairmont
Miramar, além da chave do meu
bangalozinho lindo, recebi o
voucher da reserva da bicicleta
que seria minha enquanto fosse
hóspede do hotel. Era só ir reti-
rá-la numa loja a três ou quatro
quarteirões de distância.
Comecei com um passeio pe-
la orla até a vizinha Venice, logo
ali, 20 minutos de pedalada
bem devagar, porque a ciclovia
é concorrida e frequentada tam-
bém por patins e skates. Acor-
rentei a magrela para curtir a
praia e ver lojinhas de quinqui-
lharias, peguei de volta para ir
até o bairro dos canais.
Empolguei. Nos dias seguin-
tes, desbravei Santa Monica in-
teira de bicicleta. Visitei e revisi-
tei o píer mais famoso dos Esta-
dos Unidos, onde está a placa
que assinala o ponto final da Ro-
ta 66. Fui ver a rica Montana Ave-
nue, com lojas carésimas mesmo
com o dólar, na época, a 2 para 1.
Pedalei de brechó em brechó ao
longo da Main Street. De vestidi-
nho de seda de segunda mão,
comprado por 8 dólares, fui jan-
tar de bicicleta. É verdade: eu fui
jantar nos restaurantes-tendên-
cia de bicicleta. Todas as noites.
Lá pelo quarto ou quinto dia,
bem segura de mim, decidi que
estava em condições de vencer
os 27 quilômetros de pedal até o
megapíer de Redondo Beach.
Minha pretensão atlética foi in-
terceptada aos 21 quilômetros
pela aparência, digamos, vinta-
ge de outro píer, que surgiu no
horizonte antes, o de Manhat-
tan Beach. Parei por ali, e desisti
do trecho final pensando que,
somado o trajeto de volta, se-
riam 12 quilômetros a mais. De
toda forma, foi um passeio à bei-
ra-mar belíssimo.
Senti medo no comecinho. Vá-
rios trechos das ciclovias califor-
nianas são faixas desenhadas no
asfalto, no meio das ruas e das
highways. Leva um tempo até
confiar que há um respeito gene-
ralizado, e nem a SUV à esquerda
nem o ônibus grandalhão à direi-
ta vão passar por cima de você
quando abrir o semáforo. Voltei
para casa alentada pela certeza
de que essa convivência
depende menos de in-
fraestrutu-
ra perfeita e
mais de res-
peito e coo-
peração. É
possível e be-
néfica para todo mundo.
Tudo isso foi em 2012. No ano
seguinte, a cidade de São Paulo
começou a colocar em prática o
seu plano de uma rede ampla e
capilarizada de ciclovias. A me-
trópole que vê nos carros um
sinal de superioridade esper-
neou. Houve todo tipo de tenta-
tiva de desqualificar, ridiculari-
zar e boicotar as faixas verme-
lhas que foram se espraiando
por avenidas e ruas de bairro,
espremidas entre veículos e o
meio-fio. Ciclistas sofreram vio-
lência de motoristas que os
odiavam sem saber o motivo.
Agora que as ciclovias são
uma realidade – ainda imperfei-
ta e insuficiente, mas não desim-
portante – a gente até esquece
que parte dos paulistanos tra-
vou uma guerra contra as bici-
cletas menos de dez anos atrás.
Diante do desafio desse outro
mundo que teremos de inven-
tar para superar o novo corona-
vírus, as magrelas voltam a mos-
trar como podem dar uma con-
tribuição relevante à nossa saú-
de e à nossa cidade.
Espero que a gente não de-
more tanto para pegar a onda
desta vez.
Para quando for possível ir
A linha mais nova do transporte
sobre trilhos de Los Angeles é jus-
tamente a que leva até Santa Môni-
ca. No centro de LA, o trem parte
da estação 7th Street; em 50 minu-
tos chega-se à estação Downtown
Santa Monica, a 10 minutos a pé do
píer. Para alugar bicicleta, há vários
pontos no entorno do Píer de Santa
Mônica e nas travessas do calça-
dão da Third Street Promenade.
Na experiência de anos atrás na Califórnia,
uma possível contribuição para o pós-pandemia
VENTO
Sem intervalo
NO ROSTO
À BEIRA-MAR
Luiz Carlos Merten
Grande ator de teatro e cine-
ma, pai de Jane e Peter Fonda
- que morreu no ano passado
–, Henry Fonda teve uma das
mais extraordinárias carreiras
do cinema norte-americano.
Ganhou tardiamente o Oscar,
em 1981, um ano antes de mor-
rer, por Num Lago Dourado, de
Mark Rydell, mas trabalhou
com grandes diretores, em fil-
mes que pertencem à história,
e criou um personagem de ho-
mem íntegro, progressista.
Ele nasceu em 16 de maio de
1905 – há 115 anos, neste sába-
do. A data ganha homenagem
no Telecine Cult, com quatro
filmes a partir das 15h30. Co-
meça com Doze Homens e Uma
Sentença, de Sidney Lumet, em
que ele faz o jurado que, pelo
convencimento, consegue mu-
dar a sentença de um júri volta-
do à condenação. O filme é
clássico da primeira geração
que a TV forneceu a
Hollywood, nos anos 1950.
Em Era Uma Vez no Oeste, de
Sergio Leone, às 17h15, faz um
raro papel de vilão e veste o
sobretudo longo de Lee Mar-
vin em O Homem Que Matou o
Facínora, de John Ford. Outro
western, A Caçada, às 20h10,
mas não é dos melhores de
Don Siegel. Henry Fonda faz o
alvo de um xerife sádico. Em
Guerra e Paz, às 22h, como Pier-
re, ele atravessa o campo da
batalha de Borodino. É uma
grande cena, no épico que
King Vidor adaptou de Leon
Tolstoi, em 1956.
Eliana Silva de Souza
Realeza musical
As cantoras Marlene e Emilinha
Borba são destaques deste sába-
do, 16, da TV Brasil. Elas são co-
nhecidas como rainhas do rádio,
pois conquistaram toda uma le-
gião de fãs na fase áurea da Rá-
dio Nacional. Com exibição às
20h30, também acessível no apli-
cativo EBC Play, a atração faz
parte do programa Recordar É
TV, e resgata material valioso,
com entrevistas das intérpretes
para a TVE do Rio nos anos 1980.
Há ainda trechos da conversa de
Emilinha Borba com o cartunista
Ziraldo, no programa O Papo, em
1989, e a participação de Marlene
no Advogado do Diabo, em 1988,
da extinta TVE/RJ. Emilinha mor-
reu, aos 82 anos, em 3 de outu-
bro de 2005, e, Marlene, aos 91
anos, em 13 de junho de 2014.
Longe, mas perto
Distante das gravações da nove-
la Amor de Mãe para se manter
seguro em casa, integrando a
luta contra a pandemia de coro-
navírus, Murilo Benício é o entre-
vistado deste sábado, 16, a partir
de 18h, do Cinejornal, do Canal
Brasil. Na conversa com Simone
Zuccolotto, ele mostra seu bom
humor, brincando ao dizer que
as cenas de beijo vão demorar a
acontecer. Mas reflete seriamen-
te sobre o momento atual, afir-
mando que foi um susto muito
grande, que não esperava que a
situação chegasse ao ponto que
chegou. "Para fazer a Globo pa-
rar, é uma coisa muito séria."
Trem bão
Grata surpresa para este sába-
do, 16, será a live do cantor Lô
Borges, dentro da plataforma de
streaming e vídeo #CulturaEm-
Casa. O músico mineiro vai apre-
sentar, e fará todos cantares,
seus maiores sucessos, como
Paisagem da Janela, Um Giras-
sol da Cor do Seu Cabelo, Clube
da Esquina, Para Lennon e Mc-
Cartney e O Trem Azul. Em uma
live raiz, como ele mesmo classi-
ficou, cantará ao som de seu vio-
lão, a partir de 21h30.
Em rede
O Multishow coloca no ar neste
sábado, 16, às 15h, o show Los
Hermanos 2019 Ao Vivo, nome
do novo disco e que foi gravado
durante turnê do grupo.
Álbum de Viagens*
Lisbela e
o Prisioneiro
(Brasil, 2003.) Dir. e roteiro (com Jorge
Furtado e Pedro Cardoso) de Guel Ar-
raes, com Débora Falabella, Selton Mel-
lo, Virginia Cavendish, Marco Nanini, Bru-
no Garcia.
Luiz Carlos Merten
A Globo inicia novo horário
de cinema, e começa em alto
estilo. A história, adaptada
de Osman Lins, da sonhado-
ra Lisbela, que está de casa-
mento marcado, mas cuja vi-
da muda quando conhece o
malandro (e sedutor) Leléu.
O elenco em estado de graça,
a trilha com Caetano Veloso,
a direção no tom certo.
TEL. GLOBO, 13H55. COL., 106 MIN.
Marco.
Placa
aponta que
em Santa
Monica
termina a
famosa
Rota 66
2.
GLOBO FILMES
Memórias.
De bicicleta,
foi possível
percorrer
os arredores
de Santa
Monica,
passear por
seu famoso
píer
(acima) e
jantar nos
restaurantes
descolados
da região
3.
1.
CANAL FAZ
HOMENAGEM
A HENRY
FONDA
DESTAQUE Cada Um Tem a Gêmea
Que Merece/Jack and Jill
(EUA, 2011.) Dir. de Dennis Dugan, rot. de
Adam Sandler, Steve Koren e Ben Zook,
com Sandler, Katie Holmes, Al Pacino.
Adam Sandler em dose dupla, e
fazendo a irmã gêmea, por quem
se apaixona Al Pacino, como ele
mesmo. A comédia beira o absur-
do e faz referências especialmen-
te ao Poderoso Chefão, que Al in-
terpretou. Teve 3% de aprovação
no Rotten Tomatoes, o que é qua-
se nulo, mas é impossível não rir.
FOX, 16H20. COLORIDO, 91 MIN.
Filmes na TV
A Visita/
The Visit
(EUA, 2015.) Dir. e roteiro de M. Night Shya-
malan, com Olivia De Jonge, Ed Oxenbould,
Deanna Dunagan, Kathryn Hahn.
Casal de irmãos é enviado à casa
dos avós e eles estabelecem uma
regra – a dupla não deve sair do
quarto após 21h30. Eles desobede-
cem, claro, e descobrem que os
avós não são o que parecem. Shya-
malan adora criar estranhamento.
O filme diverte, e assusta. Deanna,
como avó, provoca pesadelo.
STUDIO, 20H. COLORIDO, 94 MIN.
FOTOS: MÔNICA NOBREGA/ESTADÃO