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de eletrônicos globais. E a onda de calor
na Rússia em 2010, que afetou a produção
de trigo e os preços globais dos alimentos,
foi considerada um fator na agitação social
associada à Primavera Árabe, informou a re-
vista “The Economist” em 2012.
O recente aquecimento global levou a
mudanças profundas no ambiente hidroló-
gico. As geleiras das Montanhas Rochosas
canadenses, por exemplo, estão recuando
rapidamente. Espera-se que a maior parte
delas seja amplamente perdida até o fim do
século. Ainda assim, elas alimentam gran-
des rios que correm para os oceanos Pacífi-
co, Atlântico e Ártico.
As florestas do oeste do Canadá também
estão recuando, em boa parte porque foram
infestadas por besouros, cuja proliferação es-
tá ligada a invernos mais quentes. Enquanto
o Canadá Ocidental é um exemplo regional,
deve-se notar que metade da população
mundial depende da água de regiões frias,
onde se pode esperar que o aquecimento
tenha efeitos igualmente severos. Segundo
um estudo veiculado na revista “Climatic
Change” em fevereiro de 2016, até 2050, en-
tre 0,5 bilhão e 3,1 bilhões de pessoas estarão
expostas a um aumento na escassez de água
causada pela mudança climática.
Novas estratégias
Como a comunidade da ciência da água po-
de responder melhor quanto a proporcio-
nar ferramentas de compreensão e apoio às
decisões necessárias para enfrentar esses
desafios? A ciência incremental, que avan-
ça a pequenos passos, não está à altura da
tarefa, e uma atitude de “business as usual”
não pode ser tolerada. É necessário um es-
copo mais holístico, em escala global, além
de foco estratégico.
Em primeiro lugar, há uma necessidade
crescente de uma melhor compreensão cien-
tífica do ambiente aquático, face a mudanças
ambientais e sociais sem precedentes. Essas
questões atravessam fronteiras disciplina-
res. Por exemplo, para prever os fluxos futu-
ros de rios no oeste do Canadá, é preciso en-
tender como os ecossistemas e a agricultura
responderão à mudança climática.
Por sua vez, a previsão do clima futuro
depende da compreensão das mudan-
ças nas reações terra-atmosfera – como o
enverdecimento da tundra arbustiva no
norte, ou a proliferação de vegetação, es-
pecialmente arbustos, que absorverá cada
vez mais energia solar, contribuindo para o
aquecimento global.
A única coisa certa sobre o futuro é que ele
será altamente incerto, quando se trata de de-
senvolvimento socioeconômico climático e
humano – e das interações entre os dois.
Essa incerteza deve ser gerenciada. Dada
a complexidade dos sistemas hídricos e sua
interdependência com os sistemas de terra,
energia e alimentação, em escala local e glo-
nesco
Problemas de
safra (esquerda)
podem levar
a movimentos
sociais como a
Primavera Árabe
(direita)
Um estudo de 2013 sobre a
escassez de água publicado em
“Hidrologia e Ciências do Sistema
Terrestre” (Hess, na abreviatura
em inglês) concluiu que cerca de
metade da população mundial
sofrerá um grave estresse hídrico
entre 2071 e 2100.
As mudanças provocadas pelas
ações humanas no meio ambien-
te também aumentaram os riscos
relacionados à água para a vida,
a propriedade e a infraestrutura
associadas a eventos extremos.
Isso foi ilustrado pela enchente
de Houston, no Texas (EUA), em
- Em uma área onde o desen-
volvimento prosseguiu, apesar do
risco conhecido de alagamento,
300 mil estruturas foram inun-
dadas, causando a evacuação de
centenas de milhares de pessoas,
com danos estimados em mais de
US$ 125 bilhões.
Em um mundo cada vez mais
interconectado, o impacto das
inundações e secas não se limi-
ta às consequências locais. As
inundações de 2011 na Tailândia
causaram perdas econômicas es-
timadas em US$ 46,5 bilhões pelo
Banco Mundial, devido à interrup-
ção das cadeias de fornecimento
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